Os crash games se tornaram uma sensação nos casinos online. Mas por que, afinal, os crash games se tornaram tão famosos? Esses jogos, também conhecidos como multiplicadores, oferecem uma experiência emocionante para os jogadores. Nesta coluna, serão exploradas algumas das dinâmicas psicológicas do jogo que impulsionaram sua expansão e propor uma reflexão sobre a necessidade de se estabelecer enquadramentos legislativos compreensivos que levem em consideração as peculiaridades dos jogos.
GANHOS INSTANTÂNEOS, LIBERDADE E POPULARIDADE
Em um crash game, os jogadores apostam em um multiplicador específico, que aumenta gradualmente enquanto um objeto, figura ou símbolo se move na tela. O objetivo é encerrar a aposta antes que o jogo atinja o ponto de colapso (o “crash”). Se o jogador não encerrar a aposta a tempo, perde o valor apostado.
Esses jogos são rápidos e oferecem ganhos instantâneos, tornando-os populares entre os entusiastas de jogos de azar. A sensação de controle e liberdade atrai os jogadores, que podem decidir quando sair do jogo. Além disso, a interface dos crash games é projetada para manter os jogadores engajados, com gráficos de alta qualidade e uma experiência comunitária, na qual o jogador pode interagir com outros. Todos esses fatores contribuem diretamente para uma experiência imersiva.
Uma rápida busca no Google Trends confirma essa popularidade. Entre 2022 e 2024, a procura pelo termo “crash game” cresceu 27 pontos.
FATORES DETERMINANTES E DINÂMICA PSICOLÓGICA
Os jogos de crash são projetados para criar tensão e expectativa. Os jogadores apostam em um multiplicador que aumenta continuamente, mas precisam decidir o momento certo para encerrar a aposta e garantir seus ganhos. Essa dinâmica gera emoções intensas, como excitação e ansiedade, tornando os jogos de crash atrativos para muitos. Alguns dos fatores determinantes da dinâmica psicológica dos crash games são:
a) O jogo é rápido, então os jogadores precisam fazer escolhas aceleradas, o que pode levar a decisões impulsivas e, por isso, pessoas que têm dificuldade para controlar seus impulsos podem achar difícil resistir.
b) O jogo pode ser uma montanha-russa emocional. Os jogadores vivenciam uma ampla gama de emoções em um período muito curto, desde excitação e alegria até decepção e frustração.
Pedro Romero, Psicólogo e Conselheiro com vasta experiência na indústria, afirma: “Há uma lacuna na pesquisa acadêmica sobre esse tipo de jogo e como eles afetam a psicologia do jogador. Seria ótimo ter mais empresas de apostas colaborando com pesquisadores”.
Dessa forma, assim como qualquer outro jogo de azar, os crash games precisam de um enquadramento legislativo eficaz que permita sua jogabilidade e a proteção do jogador, especialmente os considerados mais vulneráveis ao comportamento problemático relacionado ao jogo.
ABORDAGEM REGULATÓRIA PARA CADA TIPO DE JOGO
Daqui, partimos para uma importante reflexão: deveríamos estabelecer regras e limites diferentes para cada tipo de jogo de azar? Ou entendê-los como um objeto único é suficiente para garantir uma indústria sustentável, a proteção dos jogadores e a promoção de inovações contínuas? Portugal definiu, em 2023, regras específicas para operadoras licenciadas que desejam ofertar crash games ao seu público. O regulamento n.º 308/2023 formaliza padrões pré-existentes no jogo, como a trajetória do movimento da linha ou do elemento gráfico, que pode ser oblíqua, horizontal ou vertical, e o modo multijogadores.
Entretanto, a regulamentação também estabelece parâmetros específicos que apenas um regulador pode determinar. A taxa de retorno em prêmios (RTP) aos jogadores não pode ser inferior a 80%, e a aposta máxima não pode exceder 100 vezes o valor da aposta mínima. Além disso, a operadora deve disponibilizar informações claras, precisas e completas sobre o funcionamento do jogo em língua portuguesa (ou na língua que o jogador desejar). Em comparação com a proposta abrangente de Portugal, a abordagem no Brasil é diferente.
A Lei 14.790, promulgada em dezembro de 2023, estabeleceu o marco regulatório principal das apostas de quota fixa e definiu duas vertentes: as apostas de quota fixa de temática esportiva e as apostas de quota fixa de eventos virtuais de jogos online.
Apesar desse avanço significativo, ainda restam dúvidas sobre quais jogos serão autorizados e quais condições técnicas serão impostas. Após a promulgação da Lei, o Ministério da Fazenda iniciou a publicação de regulamentações secundárias. De acordo com a agenda regulatória publicada pelo Ministério da Fazenda, o processo de publicação dessas regulamentações seria dividido em quatro fases:
-Fase 1 (até abril de 2024): Portarias sobre o Processo de Autorização para Certificação de Laboratórios, Meios de Pagamento, Sistemas de Apostas, e Processo de Autorização para Operadoras.
-Fase 2 (até maio de 2024): Portarias sobre Lavagem de Dinheiro e outros crimes, e sobre Direitos e Obrigações.
-Fase 3 (até junho de 2024): Portarias sobre Requisitos Técnicos de Jogos Online Autorizados, Fiscalização, e Ação Sancionadora.
-Fase 4 (até julho de 2024): Portarias sobre Jogo Responsável e Destinos Sociais.
Até o momento em que foi escrito este artigo, somente a fase 1 foi concluída. Essa conclusão ocorreu com atrasos, uma vez que a última portaria sobre o processo de autorização para operadoras, que deveria ter sido publicada até abril, só foi publicada em meados de maio. Além disso, as portarias da fase 2, com previsão de publicação até o fim de maio, ainda não foram publicadas. De qualquer forma, a fase 3 é muito importante na análise que proponho, especificamente pela portaria sobre Jogos Online, que pretende estabelecer os requisitos técnicos dos jogos autorizados. Ainda não é possível afirmar quais disposições a portaria vai estabelecer, nem medir os seus impactos. Mas, sem dúvidas, essa portaria é uma das mais aguardadas pelas partes interessadas na indústria.
Teremos uma definição abrangente dos jogos de aposta ou veremos regulamentações específicas para jogos específicos, como os crash games? O que já sabemos é que os jogos precisarão apresentar um fator de quota fixa ao jogador antes que esse faça sua aposta. Também sabemos que a vasta maioria dos jogos de casino online não têm esse fator de quota fixa como padrão. Sendo assim, poderíamos ver uma indústria inteira se adaptando aos requisitos impostos pelo enquadramento legislativo da indústria brasileira.
ENCONTRO CHAVE ENTRE INOVAÇÃO E COMPLIANCE
Embora as respostas ainda sejam incertas, o contínuo monitoramento dos debates legislativos e o entendimento do desenvolvimento do produto é fundamental para compreender a evolução da indústria de iGaming. O monitoramento não apenas propicia uma atividade bem estruturada e alinhada com as exigências de compliance, mas também é essencial para a geração de políticas que levem em consideração as particularidades dos jogos e dos mercados.
Na TheRegulationService, acreditamos que a evolução da indústria acontece de maneira incrivelmente dinâmica. As diferentes abordagens adotadas por cada jurisdição fornecem insights valiosos, permitindo uma compreensão abrangente das diversas possibilidades de operação.
Nossa especialização em monitoramento regulatório global, em conjunto com nossa rede de advogados locais, nos capacita a oferecer análises detalhadas e atualizadas sobre as mudanças legislativas, ajudando nossos clientes a navegarem por esse cenário complexo e em constante mudança. Através de nossos serviços, garantimos que as operadoras de jogos estejam sempre informadas sobre as últimas atualizações regulatórias, permitindo uma adaptação rápida e eficiente às novas exigências.