Por Leticia Navarro, jornalista da G&M News.
Você participou recentemente do BiS SiGMA Americas 2024 em São Paulo, Brasil. Qual foi sua impressão sobre esse evento de jogos?
Não é uma surpresa ver que o mercado continua crescendo e evoluindo favoravelmente. Primeiro, pela seriedade das pessoas que o organizaram, e segundo, porque o tamanho do mercado e a expectativa que se gerou através das conversas que estão sendo feitas sobre as possíveis legislações e regulamentações, sobretudo no tange o jogo digital. Por outro lado, me deu muito prazer ver que há tantas empresas novas que estão cada vez mais progredindo em função de como vai evoluindo este processo. Houve muito bons painéis, boas discussões, boa presença de companhias de todo tipo de tamanho. Então, todas as impressões foram positivas.
Conhecida mundialmente, a marca Hard Rock tem vários hotéis na América Latina, mas apenas um cassino na República Dominicana. Qual é a razão para isso? Vocês planejam avançar no segmento de jogos na região?
Hard Rock International é uma companhia de entretenimento. Ela tem várias verticais de negócios que vão desde hoteleiras, cafés, Hard Rock Live, em tudo o que há de shows, retail, hotéis, resorts integrados, e também o que é online gaming através da nossa vertical Hard Rock Digital. Então, temos distintas operações que estão presentes em mais de 70 países em todo o mundo. Constantemente, a companhia, através da direção do seu Chairman, Jim Allen, está buscando expandir sua presença em todos os lugares onde a marca seja bem-vinda. Nós estamos olhando todos os mercados, e independente do que se esteja discutindo neste momento, o Brasil é um mercado significativo no contexto do mundo, então, como consequência, sempre estamos atendendo novas possibilidades.
Voltando ao Brasil, a empresa fez um forte investimento no país, com vários projetos hoteleiros em andamento e outros já concluídos (há sete meses, foi inaugurado o Hard Rock Hotel Gramado, no Rio Grande do Sul). Por que vocês decidiram avançar nesse imenso país e qual é a situação de cada um desses projetos hoteleiros?
A marca tem diversas maneiras de se ligar a projetos. Existem projetos que são propriedade 100% da marca, outros em que o vínculo se manifesta através dos agendamentos licenciados, e aqueles em que a relação se dá no que nós chamamos de ‘projeto de management’. E nós ainda não abrimos o primeiro hotel no Brasil. Temos dois desenvolvedores, um que se chama Residence Club, e o outro, que é o agente de Hard Rock Gramado, que estão desenvolvendo projetos em distintas partes do Brasil, os quais, uma vez concluídos, vão ser manejados pela marca. Esses são projetos de um desenvolvedor, aos quais a marca começará a administrar uma vez que esses planos estiverem concluídos. Até que estes projetos estejam concluídos, o único que estamos fazendo é acompanhar essa evolução para poder operá-los quando estiverem prontos, dado que nós temos com esses desenvolvedores uma relação de management agreement, um acordo de gerenciamento das propriedades, e não temos nenhum equity position. Não somos proprietários desses hotéis. No futuro, de acordo com as condições que se gerarem, esse vínculo pode continuar se manifestando através de agreements de licença. Pode haver mais projetos sob gerenciamento de Hard Rock, e projetos sobre os quais a companhia tenha uma inversão direta em qualquer tipo de proporção. Até esse momento, o único que temos ali, à margem dos cafés, é um acordo de licença e gerenciamento da marca.
Após a regulamentação das apostas esportivas e iGaming no Brasil, o debate continua em torno de um projeto de lei que visa à instalação de cassinos físicos no território. Qual é a sua opinião sobre esse assunto? Se esse projeto for aprovado, o Hard Rock começará a considerar o desenvolvimento de cassino resorts no Brasil?
Há duas partes nessa pergunta. Acredito que na primeira parte se refere ao tema digital e das apostas esportivas. A respeito das apostas esportivas, a lei já existe, foi aprovada em dezembro do ano passado, foi assinada pelo Presidente Lula, e a partir dessa firma, se avançou a uma etapa de regulamentação da lei. Esse processo de evolução da regulamentação da lei ainda tem que cumprir fases, mas posso dizer que está indo no caminho correto referente aos próximos passos. Uma vez que a regulamentação esteja concluída, aí começará o processo de registro de companhias, e depois o outorgamento das licenças, de acordo com os termos da lei e da regulamentação. Isso é a respeito do tema digital. A respeito do tema land-based, ainda estamos um passo atrás no tratamento desta lei. Essa lei passou pela Câmara, a Câmara aprovou e neste momento está na Comissão de Constituição e Justiça do Senado no Brasil. Uma vez que se submeta a votação, eu creio que, de repente, deve ocorrer antes de que culmine o mês, com esta lei pode ocorrer duas coisas: remetida à firma do Sr. Presidente, ou pode ser que volte à Câmara com observações parciais à mesma. Então, estamos falando de dois processos que estão em diferentes momentos e níveis de evolução. A nossa companhia está olhando com muita atenção o acompanhamento deste processo antes de decidir seus próximos passos.
A empresa ganhou vários prêmios de satisfação aos clientes. No setor de jogos, sabe-se que há vários aspectos não relacionados a jogos (gastronomia, shows artísticos, etc.) que também são fundamentais para atrair visitantes. Quais são as principais estratégias do Hard Rock ao pensar em como satisfazer os hóspedes?
O Hard Rock tem reconhecimento global, não somente pelo tratamento ao cliente, mas, por exemplo, está listado como o melhor empreendedor do mundo. Esse prêmio o ganhamos em 2021, 2022 e 2023, desde a revista Forbes, ganhamos também, desde 2019 até 2023, o prêmio da Forbes, da “America’s Best Large Employers”. Além disso, obtivemos “Best Employers for Women” (Forbes, 2019-2023), “Best Employers for Diversity” (Forbes, 2020-2023), temos ampliado “Best Employers for New Grads” (2019-2023), por pessoas que saíram da escola. Posso mencionar aqui muitas outras distinções, como “Mexico Best Employers”, “America’s Best In-State Employers” e, no que se refere estritamente ao tema de cassinos, ganhamos o “Annual Casino Executive Satisfaction Survey”, que é uma pesquisa que se faz em todo o nível executivo, de todos os executivos que estão na indústria, e fomos o primeiro em seis dos últimos sete anos. Ou seja, ganhamos de inúmeras companhias e também as melhores companhias.
Você acha que esses prêmios e a diversidade na oferta da empresa são as chaves que explicam a força e o reconhecimento global da sua marca?
Antes de ser uma companhia de hospitalidade, o Hard Rock é uma marca de entretenimento. Grande parte deste DNA que nós temos de entretenimento está muito ligada à música e às experiências com diferentes protagonistas da música em distintos momentos ao longo dos últimos 50, 70 anos. Então, nós sempre dizemos que Hard Rock é uma marca que vai atraindo clientes desde os 8 anos até os 80 anos, porque temos, na realidade, um tipo de operação para cada segmento de negócio. Por exemplo, através dos hotéis, temos uma associação com o Lionel Messi, temos programas para crianças que foram gerados através dessa associação com Messi como embaixador da nossa marca. Temos cafés para os maiores e um número enorme de espetáculos que estão ligados a esta experiência. Ao lado, temos uma grande variedade de memorabilia. Temos mais de 86 mil peças de memorabilia em um lugar que nós usamos para guardar, no qual cuidamos que cada propriedade possa ter uma representação da música que foi relevante ao lugar em que ela foi gravada, de modo que possamos criar um tipo de experiência única para a pessoa que vai viver sensações e momentos únicos. Então, se você tem a oportunidade de ir a um lugar e ver certos valores da marca que têm a ver com a cultura, com a transmissão da música, com as experiências de poder ver memorabilia em cada uma das propriedades e elementos que são relevantes ao lugar, ao mercado e ao tipo de operação que se tem, evidentemente isso cria um tipo de tráfico nessa propriedade que é qualificada e muito horizontal. Isso é válido tanto para as experiências hoteleiras quanto para os cafés, é válido para o entretenimento. Nós fazemos também mais de 36 mil shows por ano de todo tipo de tamanho. Vão de eventos em nossas operações para um número limitado de pessoas, até eventos que se fazem em nosso Hard Rock Life, que são nossos teatros. De fato, temos um teatro de última geração em nossa propriedade no Guitar Hotel em Flórida (EUA) para 7.500 pessoas. Também temos os naming rights de um estádio de propriedade da família Ross, que nós conhecemos hoje como Hard Rock Stadium, onde jogam os Dolphins, onde se acaba de fazer a corrida de Fórmula 1, e onde se faz o torneio de tênis. Lá também se organizam concertos de renome mundial, e temos uma única posição de oferecer uma experiência absolutamente integrada por vários setores de negócios da companhia para todo tipo de clientes, e isso acho que é um dos nossos fatores diferenciados.
Que metas o Hard Rock tem para a América Latina nos próximos dois anos?
Bem, de novo, nós olhamos com muito interesse a evolução da Latinoamérica. É um mercado extremamente atrativo para nós, e o único que esperamos é que as oportunidades se trazem de uma maneira que assegure a companhia ter uma boa base legal, boas leis que sejam condizentes para estabelecer negócios de forma segura para poder gerar viabilidade econômica nos projetos. Depois, queremos ter regulações que sejam extremamente estritas para proteger a longevidade dessas inversões. Então, enquanto há segurança jurídica e uma viabilidade econômica, vai existir a possibilidade de que a marca esteja presente em qualquer mercado. Nós procuramos segurança jurídica, viabilidade econômica e uma regulação forte para proteger a integridade das operações onde nos toca estabelecermos. Queremos e vamos ser bons vizinhos de cada um dos mercados, só que esperamos ter as condições que nos permitam garantir uma operação que favoreça tanto o país onde está como o contínuo desenvolvimento da marca.