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Qual é o seu balance pessoal após a experiência na Caixa Econômica Federal e na Subsecretária de Apostas e Promoção Comercial?
Neste momento, é importante salientar quem é o profissional Iuri Castro. Comecei em Loterias, há 25 anos, como Consultor de Campo, sendo responsável pelo apoio à gestão de uma rede de Casas Lotéricas (cerca de 40). Apoiei os empresários lotéricos em vários aspectos, tais como operacional, padronização da sua unidade, motivação, treinamento sobre produtos e vendas, e qualquer dimensão que pudesse impulsionar o seu negócio. Como me destaquei nesse papel, inclusive com atuação paralela como Professor Universitário de Marketing, fui convidado para ser Gestor Nacional da Rede, na matriz da empresa em Brasília. Durante minha carreira, migrei da gestão de rede para a área de Loterias, onde atuei, inicialmente, no planejamento estratégico, passando para a gerência de produtos. Lá pude aplicar o conhecimento acumulado tanto na área acadêmica, quanto nos anos dedicados ao acompanhamento do negócio loterias. Como resultado, foi possível criar os sorteios especiais, como Mega da Virada, Quina de São João e outros, além do Bolão, forma única de aposta cotizada. Além disso, trabalhei na concepção e na especificação de sistemas para vários outros produtos, marketing, treinamento, campanhas de incentivo, etc., bem como na gestão de loterias instantâneas, provavelmente o melhor produto para quem gosta de administrar loterias. Mais tarde, fui promovido para a área de Organização e Governança, onde pude ter uma visão global da empresa, além de interagir com diversas firmas de consultoria que prestavam suporte em vários projetos estratégicos para o banco. Somente após a acumulação de toda experiência na área de rede de unidades lotéricas, produto loterias e organização empresarial, tive a oportunidade de atuar na área de regulação de loterias e promoções comerciais do Ministério da Economia. Tive a chance de entender as variáveis que integram o processo regulatório, a necessidade de interlocução com todos stakeholders e de gerar resultados, mesmo que os recursos não sejam os ideais. Como consequência, aprendi muito sobre apostas esportivas e as relações dentro e entre Ministérios. Olhando para toda a experiência e conhecimento adquiridos e os resultados alcançados, vejo um profissional quase completo para atuar na indústria de loterias e apostas, por ter passado pelo corpo-a-corpo com os varejistas e aprendido as dificuldades do dia a dia. Também tive a visão nacional de rede de vendas, trabalhei como gestor e criador de produtos de prognósticos e loterias instantâneas, tive passado pela alta administração de uma grande empresa, além de atuar como regulador desses mesmos produtos. Parece que a única parte que falta é ser gestor de uma operação de apostas, portanto o balanço é extremamente positivo e as perspectivas são alvissareiras.
Como você vê a situação do mercado de jogos no Brasil hoje, considerando as reviravoltas que acontecem no âmbito legislativo? Você pode nos esclarecer as possibilidades para a próxima fase do processo de licenciamento de jogos online e apostas esportivas?
Havia grande expectativa gerada pela Lei 13.756, que dava o prazo de 2 anos, renovável por igual período para o Ministério da Fazenda regular as apostas esportivas, e que expirava em 12 de dezembro de 2022, já no fim do governo Bolsonaro, o que acabou não acontecendo. No entanto, o governo empossado em 2023 declarou, desde o início, que iria regulamentar essa modalidade de loteria (definição dada pela Lei em comento), o que realmente está acontecendo. Após todas as fases inerentes ao processo legislativo, no final do ano passado, fui sancionada a Lei 14.790, que trouxe à luz várias dimensões necessárias para o bom funcionamento desse mercado, o qual incluiu o jogo online. Já no início deste ano, o Ministério da Fazenda criou a Secretaria de Prêmios e Apostas (SPA), dotando-a de estrutura adequada para autorizar, regular, monitorar e fiscalizar o enorme ecossistema que envolve loterias e, principalmente, apostas. Nesse sentido, e de posse da Agenda Regulatória publicada pela SPA, as perspectivas para que tenhamos um mercado saudável, composto de empresas autorizadas, responsáveis e com compliance, parece seguir etapas previstas, as quais serão cumpridas dentro de um horizonte palpável de tempo. Isto nos dá segurança para dizer que possivelmente este ano tenhamos empresas autorizadas para atuar na operação nacional de apostas esportivas, salientando que já há empresas licenciadas em vários estados brasileiros.
Você acha que é possível que outros tipos de jogos sejam aprovados e regulamentados (cassinos presenciais, bingos) ou você acredita que será difícil de conseguir?
Incrivelmente, o processo de regulamentação de jogos começou em 1991 com o Projeto de Lei 442, depois que o Presidente Eurico Dutra, por meio do Decreto-Lei 9.215, proibiu os cassinos em 1946. No entanto, e após a sanção da Lei 14.790 pelo Presidente Lula, que regulamenta as Apostas Esportivas e o Jogo Online (especial atenção para este item), parece haver um ambiente favorável à evolução da legislação, ainda que se trate de tema controverso no país. Isto foi comprovado pelo longo tempo de trâmite do projeto na Câmara dos Deputados, onde foi aprovado em 2022, e que agora se encontra sob análise do Senado, sob número 2234/2022. Isto posto, entendo que o processo está amadurecendo para os congressistas, que devem buscar, cada vez mais, informações sobre os impactos positivos dessa indústria nos empregos, renda, turismo e investimentos, entre outros. Eles também devem conhecer as medidas mitigadoras que visam garantir o jogo responsável e impedir a lavagem de dinheiro e outros possíveis reflexos negativos que tanto preocupam uma parte significativa da sociedade. Para isto, temos uma quantidade enorme de experiências bem-sucedidas em vários países, as quais devem ser conhecidas. Dessa forma, acredito que os outros tipos de jogos serão aprovados no Brasil, considerando os benefícios que podem ser gerados e as tecnologias já desenvolvidas em que auxiliam na proteção contra eventuais malefícios. Porém, é difícil projetar um horizonte de tempo para que isso aconteça.
Por que é importante participar de encontros internacionais do setor, como o G&M Eventos Peru? Que intercâmbio de ideias e experiências você espera conseguir nesse evento com especialistas de outros países?
Historicamente, enquanto atuava como gestor de loterias, tanto de prognósticos quanto instantâneas, tive a oportunidade de participar de diversos eventos internacionais e visitas técnicas a empresas e Loterias de Estado, em vários países. Foram momentos em que a troca de ideias e informações, além de poder vivenciar a jornada do cliente em diferentes contextos, permitiram meu aperfeiçoamento como profissional da área. Além disso, trata-se de grande oportunidade para conhecer outros profissionais do setor, com os quais podemos aprender e termos a referência para futuros contatos. É exatamente isto que espero obter no G&M Eventos Peru.
Você está otimista quanto ao futuro dos jogos regulamentados no Brasil? Que passos deverão ser seguidos para avançar nesse sentido, tanto do Governo como do Congresso e das próprias empresas?
Como disse anteriormente, penso haver um ambiente cada vez menos antagônico para a regulamentação de todas as verticais no Brasil, o que passa pelo conhecimento da indústria e seu potencial de criação de riqueza. Apenas considerando Apostas Esportivas e Jogo Online, a Vixio Regulatory Intelligence, empresa sediada em Londres/Reino Unido, projeta um valor de US$ 4,9 bilhões de Gross Gaming Revenue (GGR) produzido por operadoras. Claramente, o número será maior se novas modalidades forem agregadas ao portfólio, gerando emprego, renda, pagamento de impostos e recursos para os diversos beneficiários estabelecidos por lei. Nesse sentido, as empresas e, especialmente associações, têm um papel fundamental em prover os legisladores de informações suficientes para que possam tomar suas decisões de forma consciente e embasadas. Eles têm que construir a regulamentação que permita explorar todo o potencial desse mercado, ao mesmo tempo que garanta a criação de linhas de defesa que protejam o apostador vulnerável e impeça a lavagem de dinheiro e outras possíveis externalidades negativas. Quanto ao Governo, além de propor medidas que visem alargar a base de modalidades atingidas, se for essa sua política, cabe dotar a SPA de todos os recursos necessários -humanos, tecnológicos e financeiros- para que possa atuar com efetividade na regulação dessa indústria, garantindo um mercado saudável e competitivo.