Por Anamaria Bacci, jornalista e tradutora da G&M News.
Você pode nos contar um pouco do histórico de sua carreira?
Com minha experiência no mundo corporativo e de startups, consegui alinhar as expectativas de grandes empresas com tecnologias inovadoras. Tenho conhecimento sobre commodities, mercado financeiro, consultoria digital e vendas. Fundei mais de cinco startups, lancei a comScore no Brasil até sua liderança no setor, participei do início da STONECO na Arpex Capital, e vi o nascimento do mercado de tecnologia e marketing digital no Brasil no Biz Dev da Predicta.
Para que propósito foi criado o DX Gameworks?
A DX Gameworks é uma empresa sediada em Manaus, e têm filiais em São Paulo e Miami. Nosso objetivo e missão desde a fundação foi de ajudar o mercado de desenvolvimento de games latino-americano a se desenvolver, tanto no lado da produção de jogos quanto de preparação de profissionais.
Quais serviços vocês oferecem?
Para atingir nossa missão de melhorar o mercado de games latino-americano, tivemos que criar três pilares para cumprir a missão. Temos um pilar de educação bastante forte, que pretendemos explorar com muitas participações de agentes do mercado. Somos também uma empresa de serviços para terceiros, aonde mantemos contato com a tecnologia ‘state-of-the-art’, e aprendemos muito e alinhamos as expectativas do mercado. Finalmente, temos o publishing, aonde ajudamos estúdios a terminarem seu jogo no nível de excelência internacional, com foco absoluto em vendas e rentabilidade.
Que requisitos eles devem atender para construir ótimos videogames?
Pregunta difícil. Se soubesse, eu tinha vários títulos publicados e de sucesso (risos). No nosso conceito, grandes jogos são aqueles que atinjam as exigências de qualidade do mercado internacional, e que tenham uma boa receita financeira. Isso é o que precisamos focar nesse momento do mercado. O mercado latino-americano ainda não está pronto para fazer jogos de grande sucesso, dado os investimentos são tímidos. Mas estamos vendo um grande potencial criativo que nos deixa muito empolgados com o futuro.
O que significa ser ‘agnóstico em relação aos negócios’?
Mesmo tendo o apoio da Microsoft Xbox, trabalhamos com todas as plataformas de forma agnóstica e idêntica. Nossos jogos são avaliados e publicados nas plataformas que nos trarão maior sucesso.
Seu interesse é o mercado brasileiro e latino-americano. Qual é a sua visão de ambos os ecossistemas?
Ainda estamos na inicio do mercado quando olhamos a grande maioria dos estúdios. Claro que existem exceções. O volume de investimento feito no mercado ainda é muito baixo, a quantidade de profissionais é reducida, e o volume de produção tem que melhorar. Mas acreditamos muito na criatividade do latino, e também na dedicação ao mercado de desenvolvimento de games. Queremos e vamos mudar esse cenário rapidamente.
Algumas semanas atrás, aconteceu o E3. Que influência esses grandes eventos têm no mercado de videogames da América Latina?
O impacto indireto é que devemos olhar e ver para aonde o mercado de games está caminhando. Falou-se muito de cloud e subscription services. Isso nos mostra muito o caminho para o futuro, e aonde devemos focar nossos esforços.
Quais foram as principais mudanças no jogador e consumidor de videogames nos últimos anos?
O mercado independente ‘indie’ ganhou muito espaço, mas a mudança principal foi na forma de consumo do novo jogador. O crescimento dos serviços de assinatura foi a grande mudança, na minha opinião. Isso afetou radicalmente o negócio.
Um mercado em auge é o de jogos para dispositivos móveis. Que visão você tem sobre esse setor? Quais são suas principais vantagens em comparação com os videogames classificados como AAA?
É um setor muito difícil. Considero o mercado de mobile game como um negócio diferente do de consoles e PC. Para se ter sucesso, é o mercado que exige uma captura de dados intensa. Muito conhecimento do comportamento dos usuários, de compra de mídia e conversão são requisitos mínimos para o êxito. Fora a quantidade de concorrência que você tem do mundo inteiro e de economias e mercados muito mais maduros. Dado o modelo de negócio free-to-play, o jogo indie e de nicho, por via de regra, não tem como ser rentabilizado. Brinco que no mercado mobile, com um plano de marketing agressivo e caro, você consegue ter algum sucesso mesmo com um jogo ruim. Portanto, nossa estratégia para o mercado mobile será reativa. Só entraremos nesse mercado para títulos que já tenham alguma demanda e awareness.
Quais projetos você tem para concluir em 2021 e para os próximos anos?
Temos a primeira leva de jogos que estamos terminando e publicando. Devemos terminar todos no final de 2021. Nosso objetivo é crescer a base de game studios que vamos ajudar. Também temos o ambicioso objetivo de formar pelo menos 1.000 profissionais em três anos dentro das nossas plataformas do Academy. Queremos abraçar jogos maiores, e trazer mais recursos para o mercado latino-americano de desenvolvimento de jogos. Além disso, estamos apostando muito no mercado de edutainment, que é educação através de jogos digitais. Acreditamos que, cada vez mais, as crianças vão se interessar por um conteúdo mais lúdico, leve e interativo, que ensine enquanto se diverte. Temos uma enorme aposta nesse segmento, que se mostrou crucial, nesses últimos tempos difícil que passamos. Ainda podemos evoluir muito nisso, e ter um efeito direto nas vidas das crianças.