Para falarmos de apostas em Portugal, temos que andar para trás no tempo e explicar como tudo começou, ou melhor, qual era o panorama geral antes do mercado online. Hoje, tento contar aqui um pouco da história das apostas em Portugal e como chegamos às apostas online nos dias de hoje. Para se perceber o mercado de apostas online, temos certamente que entender qual o ADN do apostador português, que não é igual ao apostador inglês, em que já nasceram com as apostas no seu dia a dia.
HISTÓRIA DE PORTUGAL NAS APOSTAS
Vamos falar de história e das apostas em Portugal que nasceram na mão da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML). Ainda há uns tempos atrás, os jogos disponíveis para se apostar em Portugal eram o famoso totoloto, em desuso nos dias de hoje, e o totobola. Eram aqueles que davam mais prémios em dinheiro. Havia também uma loteria nacional que tinha valores monetários altos. Durante anos, a SCML tinha o pelouro de ser a única que explorava os jogos em Portugal, e o objetivo central era agarrar nesses ganhos do jogo e colocá-los à disposição da sociedade portuguesa a nível social. A SCML tem ainda hoje um carácter social de peso em Portugal. Será a única instituição a ter tal importância e com uma dimensão nacional.
Os apostadores portugueses habituaram-se ao slogan da SCML: “Se perderes, estás a ajudar”. Assim está formatada a cabeça dos apostadores em Portugal, mesmo na perca de algum dinheiro ele será revertido de alguma forma para ajudar os outros.
A formatação destes apostadores passa por uma faixa etária de pessoas mais velhas ainda com alguma dificuldade a aderir às novas tecnologias. Portugal só mais tarde consegue encostar-se à Europa e o desenvolvimento começa aí. O acesso há Internet e aos computadores facilitaram aos mais novos que vissem este mundo de outra forma assim como tiveram conhecimento das apostas online. Quando as apostas online começam a proliferar em Portugal, elas encontravam-se num chamado “vazio legal”. Não havia Lei que punisse como também não havia Lei que permitisse. Digamos vivia-se no quero posso e mando no mundo das apostas online.
Obviamente que os mais novos, habituados à Internet, facilmente se adaptaram a este conceito. Esta comunidade de apostadores online começou a crescer por as universidades que, entre colegas, ensinavam como funcionavam as apostas desportivas. Estas propagavam-se; inclusive sei de relatos que ajudaram os alunos a pagar as suas próprias propinas.
Este era o ponto das apostas online em Portugal. Vivia-se numa “Golden Age” com cada vez mais apostadores a entrar para este mundo e com a facilidade de aceder às casas de apostas via telemóvel que ainda tornou o mercado mais forte.
LEGALIZAÇÃO: ANTES E DEPOIS
Antes da chegada da legalização, tudo era permitido, e claro, os apostadores arriscavam-se aqui e ali, pois não havia Lei. Posso dizer que sou deste tempo, e que ficamos muito mal-habituados há quantidade e à qualidade dos produtos oferecidos neste mercado das apostas online.
Aquando da legalização vivemos a chamada travessia do deserto, onde passamos uma quarentena sem termos onde apostar. As casas de apostas que operavam em Portugal passaram a estar ilegais, e muitas tiveram que deixar de operar. Passamos por uma Lei seca das apostas durante algum tempo até aparecer a primeira casa de apostas.
Mas no meio desta quarentena, a SCML lança o famoso Placard, um jogo de apostas físico que se assemelha às apostas desportivas online. O Placard esteve meses e meses à frente do mercado de apostas desportivas online, onde conseguiu abranger os apostadores que vinham do famoso totobola, algo semelhante às apostas desportivas, onde só se podia apostar unicamente no mercado 1 X 2, com duplas e triplas.
Deu-se um salto na modernização do conceito de apostar, e ainda nos dias de hoje, o Placard herdou os apostadores do totobola e ganhou mais apostadores na fase em que nada havia para apostar. Posso dizer que muitos que migraram das apostas online para o Placard ainda hoje não voltaram. Por quê? Penso que pela facilidade do dinheiro na mão, não há nada “virtual” ali. Pagas o teu boletim, se ganhas eles dão-te o dinheiro ou depositam na conta caso os valores passarem uma determinada quantia.
Por isso, mais simples que isto não há, já para não falar que o Placard está presente em qualquer café, tabacaria ou papelaria que sejam agentes da SCML. Esta facilidade que ali, ao virar da esquina, eu posso registar o meu boletim do Placard dá também confiança aos apostadores. Por quê? Porque o apostador olha para a cara do agente o dono do café ou da papelaria. Numa casa de apostas online, não, e digamos que o português ainda sente um pouco esta dificuldade do novo mundo do “online”. Culpa por termos chegado tarde às novas tecnologias, e pela confiança do “cara a cara”.
A CHEGADA DAS CASAS DE APOSTAS ONLINE
Uma de cada vez, diria a conta gotas, as casas de apostas online começaram a legalizar-se em Portugal e o objetivo era alcançar rapidamente o maior número de apostadores; ur buscar ao Placard aqueles que tinham migrado do totobola, assim como resgatar aqueles que antes da Lei das apostas andavam no “limbo”. A tarefa foi complicada, mas de certa forma foi sendo ultrapassada. O grau de confiança começou bem, pois a primeira casa de apostas que entrou legal já tinha andando por Portugal, chegando até a patrocinar a nossa liga de futebol portuguesa. Quem andava neste mundo e conhecia a migração adaptou-se facilmente e a confiança estava lá. Obviamente que outras chegaram ao mercado, e a disputa começa com quem dá mais bónus ou tem mais mercados e eventos para oferecer. Neste aspeto, mérito ao nosso regulador português SRIJ, que rapidamente começou a disponibilizar/legalizar mais mercados indo ao encontro do que as casas de apostas pediam, assim como os apostadores, dou como exemplo o famoso handicap asiático.
Foi tão boa ou tão má esta migração que o natural evoluir das coisas permitiu que outras casas viessem, vindo até das apostas em casinos, por exemplo. Grandes marcas de renome de casino em Portugal entraram nas apostas online, não só na versão das apostas desportivas, mas também no seu nicho de mercado os casinos online. Se o apostador português não gostasse de apostar não se via tantas casas a entrarem, e recentemente chegou a Portugal uma casa de apostas internacional que comprou uma casa que nasceu na fase de legalização.
Mesmo com uma Lei que poderia ser melhor e mais dinâmica, o interesse subiu e poderei afirmar que as casas de apostas internacionais viram aqui um bom modelo de negócio para se investir. O português poderá ser desconfiado a apostar, mas se as casas de apostas transmitirem essa confiança poderemos ter mais oferta e também as casas terem mais clientes. A publicidade agora também ajuda e não foi à toa que algumas casas de apostas patrocinaram os principais clubes da liga portuguesa. O grau de confiança vai aumentado e acredito que será um evoluir natural das coisas. Ainda se lembram do Placard, aquele jogo de boletim que vos falei anteriormente? A marca passou também para as apostas online, o formato é diferente, mas ela trouxe muita confiança.
UMA CONCLUSÃO OTIMISTA
O apostador português padece de confiança à marca. Se as casas de apostas conseguirem transmitir essa segurança, eu acredito na minha visão que possamos ter um mercado mais abrangedor, com mais oferta onde todos podemos sair a ganhar. Se olharmos para os relatórios do nosso regulador SRIJ, sabemos que os números aumentam de ano para ano, e que existe maior procura e oferta. Mesmo com uma Lei que poderia ser melhor, acredito que poderá ser o próximo passo a dar nas apostas online em Portugal.
As casas de apostas uniram-se e formaram uma Associação, APAJO, que lhes vem ainda dar mais força e união junto ao Governo português, assim como ao nosso regulador. Digo-vos mais, Portugal ainda padece de uma Associação de apostadores online digna de seu nome, porque, para mim, é o que falta para tudo estar perfeito. O triangulo tem que se fechar: temos o Governo – Regulador (SRIJ) o outro lado do triângulo as casas unidas em associação (APAJO), e falta-nos uma associação de apostadores para dar voz aos problemas deles. Falta uma voz de quem consome, de quem tem experiência com o produto oferecido, mesmo com um Regulador muito atento. Eu penso que em Portugal é este o passo que nos falta dar.
Posso afirmar também que estamos a caminhar bem neste campo das apostas online, desde que viemos do famoso totobola e chegamos à Lei das apostas online, e acredito que até assimilamos rapidamente as coisas e conseguimos muito rapidamente fazer cair barreiras e até quebrar ideologias. Sim, porque ainda há pouco tempo atrás, quem apostava em Portugal era conotado como viciado logo à partida.
De viciados a uma Lei das apostas online que comtempla apostas desportivas e casino é, sem dúvida, um grande passo na sociedade portuguesa. Obviamente, que a Europa tem culpa disto, pois foi ela que obrigou os seus Estados Membros a resolver esta questão, que como sabem mexe com muito dinheiro que precisava ser tributado e legislado corretamente pelos países.
Esta foi a história de Portugal nas apostas online, devagar, lenta por vezes, mas diria que conseguimos chegar a bom porto. Faltam algumas coisas para se tornar perfeita, mas acredito que em breve chegamos lá!
Boas apostas, bom ano e, claro, boa sorte!