Por Leticia Navarro, jornalista da G&M News.
Conte-nos sobre a expansão da Lektou em Portugal como parte da estratégia de internacionalização da empresa?
A abertura do nosso primeiro escritório em Portugal aconteceu em 2017 e resultou de uma estratégia calculada, tirando partido da ligação com Macau, onde a Lektou foi fundada há quase 40 anos, e, nessa medida, com o intuito de construir uma ponte entre a China e os países de língua portuguesa. Em Portugal, dedicamo-nos, essencialmente, a duas áreas: 1) investimento estrangeiro em Portugal, com foco nos clientes da República Popular da China, e 2) indústria dos jogos de fortuna ou azar. Pretendemos, também, estabelecer a ponte entre os empresários portugueses e a China, numa estratégia de proximidade com os clientes. Relativamente à indústria dos jogos, acompanhámos o seu crescimento em Macau após a liberalização. Sabemos da importância da indústria e da sua posição única no cenário global. Foi essa experiência que nos trouxe até aqui. Pretendemos reforçar o compromisso de alavancar a nossa relação histórica e cultural com a China, mas também posicionar-nos estrategicamente no mercado europeu e nos países de língua portuguesa de uma forma mais ampla. Portugal apresenta-se como um local ideal para a nossa expansão internacional, sendo uma porta de entrada para mercados emergentes na África e na América Latina, muitos dos quais têm laços históricos e linguísticos tanto com Portugal quanto com Macau. Por outro lado, os nossos escritórios em Portugal permitem-nos estar num ecossistema inovador, com acesso a parcerias estratégicas, talentos locais, e uma compreensão mais aprofundada das dinâmicas de mercado especificamente adaptadas para a comunidade de língua portuguesa. A nosso plano reflete o entendimento da importância das relações sino-lusófonas e nossa visão de sermos um ator nesse diálogo contínuo, promovendo os negócios, a cultura jurídica e as oportunidades educacionais entre a China, Macau, Portugal e os países de língua portuguesa. Como já disse há uns tempos: o nosso escritório é veículo de promoção de Portugal na China a que acrescento e vice-versa.
O que você acha sobre o mercado de jogos e apostas no Portugal e as questões legais que o diferenciam de outros mercados?
O mercado português de jogos e apostas têm demonstrado um crescimento robusto. Vejam-se os últimos números publicados relativamente a todo o ano de 2023, em que o mercado de jogos territorial continuou a crescer em relação ao ano anterior, com a receita bruta (GGR) a fixar-se em € 273,3 milhões, contra € 254 milhões do ano anterior, representando um crescimento de 7,55%. Mas foi no jogo online que revelou uma dinâmica e uma crescente maturidade do mercado, com o GGR dos jogos online e apostas desportivas a chegar aos € 842 milhões, representando um aumento de 28,34% em comparação com 2022, com apostas desportivas online de odds fixas significando aproximadamente 38,5% do total e casinos online, 61,5%. As apostas desportivas online viram um crescimento no GGR de 9%, de € 297,4 milhões (2022) para € 324,4 milhões, e nos jogos de azar online um notável avanço de 45,1%, de € 358,7 milhões (2022) para € 520 milhões (2023), concluindo-se que este segmento é o motor da esfera online. Tudo isto revela um mercado maduro e em franca expansão. Penso que o que diferencia dos outros mercados é ter uma regulamentação que protege os jogadores e promove a operação justa e transparente das empresas. O regulador (SRIJ – Serviço de Regulação e Inspeção de Jogos) desempenha um papel importante. Costumo dizer que podemos ter as melhores leis e regulamentos, mas que precisamos sempre de quem regule o mercado peculiar que é o dos jogos de forma consciente, percebendo quais as necessidades das operadoras. Considero que ainda temos uma tributação alta, mas é sempre difícil fazer alterações nesta matéria. Na minha ótica, comparativamente a outros mercados, Portugal destaca-se pelo seu rigoroso cumprimento de medidas de jogo responsável e prevenção de fraude, estabelecendo um modelo que poderia ser exemplar para outros países. Relativamente ao mercado territorial, sou há muito tempo a favor de uma reforma profunda no modelo regulatório, pugnando por um modelo de licenças e não de concessões, ou pelo menos não de concessões exclusivas para determinadas zonas de jogo. Na minha ótica, essa reforma na regulação será um veículo para integrar turismo, entretenimento e jogos de maneira holística. O que proponho é um modelo regulatório onde a indústria se ligue ainda mais com turismo e entretenimento em resorts integrados, promovendo estadias mais longas e gastos maiores, trazendo benefícios económicos significativos.
A legislação do jogo possui diferenciais peculiares de acordo à cada região. Como vê o caso da regulamentação das bets no Brasil?
Os Estados, os Governos e os Reguladores podem e devem recolher as melhores experiências e modelos de regulação, mas adaptando à realidade local. No caso do Brasil, é um mercado com enorme potencial. Torna-se central que haja uma política pública clara para a regulação da indústria. A legislação proposta promete criar um ambiente regulatório que marca um passo à frente essencial para o futuro. Mas o que virá a revelar-se essencial é que a aplicação da lei e a regulamentação não sejam um obstáculo à atração de investimentos, garantindo ao mesmo tempo a proteção dos jogadores. Será fundamental observar como a regulamentação se desenrola e se adapta às necessidades específicas do mercado brasileiro. Como Estado Federal, é chave perceber como é que a Federação dialogará com os Estados. Por outro lado, não há um gold standard da regulamentação. Há sistemas que funcionam melhor do que os outros em função dos objetivos da política pública. Nesta medida, revela-se também fundamental perceber como se vai combater o mercado do jogo ilegal que, quer queiramos, quer não vai continuar a existir. Estou muito esperançoso que as melhores soluções possíveis serão encontradas, mas é um verdadeiro desafio também para as operadoras que querem explorar o mercado regulado do Brasil.
Quais são as metas da Lektou para 2024?
Temos alguns projetos em mente. Continuaremos a nossa expansão no mercado português, abrindo um escritório na cidade do Porto com uma equipa especializada e focada na indústria do jogo, seguindo concentrados em fortalecer nossa presença nos mercados onde já operamos: Europa e Macau. Esta equipa estará focada não só em servir operadoras de jogo, mas também outros players da indústria, tais como os fornecedores de software ou os afiliados. Ao mesmo tempo, estamos sempre abertos a explorar novas oportunidades com foco nos mercados de língua portuguesa. Quem sabe se, no futuro, não teremos uma Lektou no Brasil! Estamos particularmente entusiasmados com a possibilidade de continuar a prestar os nossos serviços à indústria do jogo. Temos os pés bem assentes na terra, sendo a responsabilidade social um pilar chave para a nossa organização. Contamos estar presentes nos maiores eventos da indústria, como o G&M Eventos Portugal. Por outro lado, temos há alguns anos uma parceria com a Católica | Faculdade de Direito Escola de Lisboa que nos permite oferecer um curso avançado em Direito do Jogo e Regulação (cuja próxima edição será lançada em breve), bem como uma cadeira da Licenciatura em Direito do Jogo que se têm revelado um sucesso. Com exceção da Universidade do Nevada Las Vegas (UNLV), o curso avançado é uma oferta única para os atuais e futuros profissionais da indústria. Pretendemos, também, apoiar várias iniciativas orientadas para as temáticas à volta do jogo responsável.
Qual a importância para a Lektou, como uma das apoiadoras e patrocinadoras do G&M Eventos Portugal, que ocorrerá em 26 de março em Lisboa, de participar de um encontro desta magnitude?
Apoiar o G&M Eventos Portugal constitui uma oportunidade ímpar para nos darmos a conhecer junto dos profissionais da indústria, partilhando conhecimentos e criando sinergias. A participação num encontro desta magnitude permite-nos não apenas realçar a nossa dedicação à indústria, mas também aprofundar a nossa compreensão sobre as tendências locais, as expectativas dos consumidores e os desafios regulatórios com que nos deparamos. Trata-se de uma plataforma privilegiada para fomentar o diálogo, a inovação colaborativa e para reforçar o nosso empenho na promoção de práticas de jogo responsáveis e sustentáveis. A nossa presença é reflexo da nossa abertura para colaborar como o mercado, e é também um tributo à inovação e ao compromisso inabalável com o progresso responsável da indústria, propugnando por uma abordagem que atenda aos padrões mais elevados de responsabilidade e sustentabilidade. Bem haja todos os que irão estar presentes!