Há um tempo, tanto a Argentina como o Brasil se transformaram em mercados de Muito interesse para todos os atores da indústria do jogo mundialmente. As grandes empresas do gaming global se enfocaram nas licenças de jogo online por parte da LOTBA, a Loteria da Cidade Autônoma de Buenos Aires (Distrito Federal, Argentina), assim como nas licenças de iGaming decididas pela Loteria da Província de Buenos Aires (IPLyC). Está claro que os desafios que os Estados do Brasil devem enfrentar na criação de suas próprias Loterias Estatais são muito maiores.
No passado mês de dezembro de 2020, a Suprema Corte da Justiça do Brasil determinou o fim do monopólio estatal federal em matéria de jogos de azar. Devido a esta mudança de paradigma, são propostos grandes desafios para cada um dos Estados membro. Ao contrário das loterias estaduais da Argentina, que têm décadas de experiência, os Estados do Brasil deverão iniciar agora suas próprias loterias desde o princípio. Um aspecto essencial e complexo é que estes Estados terão que escolher que modelo de negócio de loteria querem empregar, definindo-o via legislativo ou adaptando sistemas já existentes. Evidentemente, cada Estado deverá implementar um modelo em função de suas necessidades e disponibilidade de recursos.
MODELOS, PRAZOS E ESTRUTURAS
Podemos definir dois modelos:
1) o primeiro seria que o Estado procedesse a criar uma entidade com funções de regulamentação e controle, delegando em um privado os aspectos operativos. Esta opção é de rápida geração e implementação, com um menor custo, uma mínima estrutura estatal e deixando a cargo de um privado o controle de todo o investimento e o risco na colocação em prática, operação e desenvolvimento do negócio;
2) o segundo modelo seria que todas as funções de regulamentação, controle e operação fossem exercidas pelo próprio Estado, com um investimento total suportado pelo Estado sob seu total risco. Esta derivação de recursos se daria em um contexto de escassas rendas e diversas prioridades mais vinculadas com a saúde.
Enquanto a Argentina tem loterias estatais criadas há muitas décadas, os Estados brasileiros deverão gerar estruturas administrativas, de controle, regulamentos e normativas, rede de vendas, rede financeira, estruturas legais e comerciais etc, tudo inteiramente financiado com recursos estatais. O financiamento não só compreenderia a etapa de armação, mas também a de operação e funcionamento futuro. Um tema não menor é o tempo que levaria em avançar em torno de cada elo deste negócio, considerando as burocracias estatais características de todos os países da América Latina.
É por isso que, a meu critério, o primeiro modelo é o mais conveniente para o Brasil, dada a urgência na geração de novos recursos impositivos e nos prazos de implementação, a falta de experiência no ramo, a carência de verba para cobrir estas despesas e os riscos associados ao desenvolvimento de um novo negócio, totalmente desconhecido por parte dos Estados do Brasil.
DECISÕES A TOMAR E DESAFIOS A SUPERAR
Uma vez culminada a primeira etapa de escolha do modelo de loteria a implementar, devemos enumerar algumas das tantas questões a definir com que se encontrarão os funcionários dos Estados: a determinação sobre que jogos formarão a carteira de produtos a comercializar por cada loteria; a criação de novas soluções lotéricas; os sistemas de sorteio a utilizar e a instalação das salas de sorteios; a implementação dos controles dos sorteios a fim de garantir transparência e confiança; a definição e aplicação dos sistemas de captação de apostas automáticas online; o design da rede comercial e seus diversos modelos de escala; a escolha e implementação dos diversos pontos de venda presenciais; o desenvolvimento da estratégia comunicacional tradicional e digital, com campanhas eficientes de comunicação e comercialização; a elaboração de planos de incentivo de vendas; o desenvolvimento e implementação dos sistemas de administração e controle; o preparo da tecnologia de Blockchain e Inteligência Artificial em diversos processos; a incorporação e execução da logística de distribuição de produtos e de todo o material comercial; assim como o desenvolvimento e implementação dos mecanismos de cobrança e pagamento dos prêmios, pagamento de comissões e outros custos.
No que se refere ao enfoque externo, estão a elaboração de campanhas publicitárias para a consolidação dos produtos e, por último, a determinação e execução dos diversos programas de jogo responsável e responsabilidade social empresarial que deve ter uma loteria moderna e de sucesso. Tudo isto e mais terá que ser levado em consideração com o estabelecimento de um plano estratégico, no mais estrito cumprimento de normas de qualidade ISO 9.001, 27.001 e 37.001 existentes no mercado.
Então, como podemos apreciar, os desafios que hoje têm pela frente os diferentes Estados do Brasil na criação de suas próprias loterias estaduais não são menores. Sua falta de experiência no negócio e a urgência de implementação em grande escala (a partir da necessidade de obter recursos) representam desafios árduos. Sem dúvida, será crucial a velocidade com que seja feito este processo de inicialização, penetração e consolidação no mercado por parte das loterias estatais, dado que competirão com a Loteria Federal, um organismo com muito mais experiência e penetração territorial no mercado.