Por Leticia Navarro, jornalista da G&M News.
Como foi fazer esta mudança na configuração organizacional da Alea, onde tinha o importante papel como CEO, para agora atuar como um embaixador da empresa em um trânsito global, participando de diversas reuniões internacionais?
Em um momento, eu queria ir para a Espanha, eu queria ir viver em Chipre por razões pessoais. Eu gostei bastante, porque acabamos de construir a unidade da Alea, com cerca de 600 ou 700 m² em Barcelona. Eu passei, pessoalmente, dois anos construindo-a, 30% ou 40% do meu tempo. No momento em que tudo isso estava pronto, com o ginásio, a câmera hiperbárica, a sauna,realmente um entorno de trabalho ideal, tomei essa decisão. A sorte, mas não é a sorte, é uma coisa que todos nós trabalhamos nisso, tínhamos a equipe pronta para isso, então eu não precisava mais. Começamos uma meeting ou duas por Skype, e o negócio, a partir do momento em que eu me fui, cresceu de uns 10% a 15% por mês, a cada mês, durante o ano de 2023. Basicamente, nós multiplicamos a cifra de negócios por três, entre dezembro de 2022 e dezembro de 2023. Nos três primeiros meses do ano de 2024, entre dezembro e março, nós multiplicamos novamente por dois. Então, é uma progressão exponencial, sobre todos os mercados, mas com um enfoque claro na América Latina e no Brasil.
Conte agora um pouco sobre sua participação no G&M Eventos Espanha, ao levar pessoas da indústria de LatAm à Europa e vice-versa.
Sobre o evento da G&M News, lembro-me do primeiro aonde fui, em Cádiz, em San Roque, em 2023. Foi antes da ICE, e todas as grandes operadoras da América Latina vieram no evento antes da ICE. Foi um evento muito interessante, e este ano também. São eventos bastante exclusivos para pessoas que querem ter um enfoque na América Latina, trazendo essas operadoras para a Europa. Tudo excelente.
Às vezes vemos no mercado pessoas visionárias, que estão adiante do seu tempo, como no seu caso. Em uma determinada época, você criou essa empresa que exploda e se torna um êxito, resultando em uma premiação como a desta semana de “Melhor Agregador” no SiGMA Americas Awards 2024. Poderia fazer um panorama dos primórdios da Alea até chegar a esta premiação?
Muito obrigado pelas palavras que acabou de mencionar. A primeira coisa que eu quero dizer é que nós somos muito orgulhosos de ter recebido o prêmio de ‘Melhor Agregador’. Temos recebido vários prêmios de ‘Melhor Agregador’ ultimamente, seis ou sete no último ano de diferentes organizações. Mas este é muito importante para nós porque é na LatAm. Somos o agregador número um na América Latina e no Brasil, isso está claro. É relevante para nós que uma organização como a SiGMA e os juízes, e a indústria reconheça. Agora, a história mais desconhecida é que comecei antes de Alea, em 2004, como operadora na América Latina com um casino chamado Casino Solera, que desapareceu completamente e era impossível processar o Brasil, era impossível processar a Argentina, era muito antes de todas as regulações. A cada ano o que escutávamos era vai ser o ano do Brasil, vai ser o ano da América Latina, vai ser o ano dourado! Cada ano, desde 2004, eu escutava isso, como vai ser o ano do celular, sabe? O ano do celular chegou em 2012, são oito anos depois que eu entrei na indústria. Imagina que o ano do Brasil foi em 2023 para mim. Há quase 20 anos, depois que eu entrei nessa indústria. Tomou tempo para que o online finalmente toque o Brasil, mas com que potência, um tsunami! Agora todo mundo, as maiores empresas de gaming estão aqui. Há dois anos, que país você escutava? América, EUA, mercado EUA, todo mundo quer ir para o EUA, e agora todo mundo quer vir para o Brasil. Há uma história engraçada que um dos jogos que funciona melhor no Brasil é um jogo chinês, o Fortune Tiger, da PG Soft, que nunca adaptou o jogo para o mercado, e que está funcionando de forma muito inesperada. Então há várias coisas que estão acontecendo, em 2023 e agora em 2024. Obviamente, estamos esperando a regulamentação, o que vai ser desafiante.
Com sua experiência, noção ampla de mercado, e que, seguramente, já passou por inúmeros processos de regulação em diversos países, qual sua visão desse processo inicial, do crescimento e para onde vai essa regulamentação no Brasil?
Eu fui operadora, regulador no Reino Unido, na Suécia, e em muitos mercados como B2C, e na verdade, eu não tenho muita fé nos reguladores. Nunca conseguiram realmente proteger o jogador e fazer o mercado funcionar. Mataram o mercado sem proteger o jogador e,, no final, o jogador foi para o mercado negro. Tenho mais fé no regulador brasileiro porque não o vejo tão estreito de mente como os reguladores da Europa do Oeste. Agora, o que eu vejo é que, de 10 mercados que há, um ou dois vão ter licença, muito poucos. Há muitos cassinos online agora no Brasil, há uns 300 ou 400 cassinos. Deles, uma pequena porcentagem vai ter licença, digamos 10%. Vamos ter 30 ou 40 cassinos com licença, e desses, outros 10% vão sobreviver. Vai ser um mercado muito duro, vai haver muita concorrência. O que eu vejo é, primeiro, obviamente, não tantas licenças, e no final, muitos não vão poder sobreviver. Se dentro de alguns anos tivermos 10 cassinos que funcionem no Brasil, eu acho que vai ser o máximo. Mas, mais ou menos, por número de licenças e também competitividade e leis de mercado.
Para finalizar, gostaríamos que deixasse aos nossos leitores e leitoras algum conceito que queira transmitir a cada um deles, profissionais e executivos do setor.
Minha recomendação não tem nada a ver com o setor do jogo, nem com o mercado latino-americano brasileiro. É mais política de empresa, de como fazer com que os empregados que trabalham para a companhia tenham as melhores condições de trabalho. Isso para mim é super importante e tem que ser baseado em saúde. Na Alea, a saúde é fundamental, o sono é importante, a água que bebemos, o ar que respiramos, a luz, o nível de luz que os empregados recebem por dia. No final, quando estou em Espanha, eu vivo na empresa, tenho uma pequena sala e passo o fim de semana dentro da empresa como se fosse a minha casa. Então a construí como uma extensão da minha casa, e coloquei o ginásio, que tem que ser o melhor, as máquinas de café, as de chá, a sauna, em breve o ice bath. Temos duas ou três sessões de esportes por dia, o ginásio (13:30), e temos todos agora o Whoop, que te permite hackear basicamente o sono, o nível de oxigênio, todos os tipos de níveis, o coração, a temperatura, e ver se o que você está fazendo, os seus hábitos fazem bem para a sua saúde. Estamos trazendo tudo isso para a empresa, e isso me parece essencial. No final do dia, sem ser uma família, porque cada empregado, cada um de nós temos nossas próprias famílias, sua tribo, e passamos ao mínimo oito horas por dia juntos, e durante essas oito horas, acontecem muitas coisas, e o que queremos não é ser um exército, não vejo uma dimensão beligerante, mas mais uma equipe que funciona juntos, que se ajuda, e que não há toxicidade, que não vamos sacrificar o bem-estar da gente para a produtividade de uma forma irresponsável. Se tem que trabalhar, se trabalha, isso é importante, a empresa tem que sobreviver e fazer dinheiro, mas o que é importante é que a saúde emocional e física da gente funcione, por quê? Porque passamos a maioria do tempo acordados e isso tem que ser por qualidade. Temos que nos divertir bem, temos que ser criativos, temos que ser inspirados, temos que ser autênticos. O que fazemos tem que nos mover por dentro. Porque senão, nós vamos queimar e não serve para nada, porque no final, eu vou amargar a vida, e os empregados também. Para mim, tudo isto é fundamental!