Por Anamaria Bacci, jornalista e tradutora da G&M News.
Como nasceu o Afterverse? Quais são seus processos, valores, missões e objetivos ao desenvolver seus jogos?
A Afterverse nasceu dentro de uma célula de inovação da PlayKids, empresa focada em conteúdo online infantil. A então equipe de PlayKids criou o jogo PK XD, um game social em formato de sandbox que, em poucos meses de lançamento, alcançou a marca de 10 milhões de usuários mensais! (hoje já somos 50 milhões). A partir do PK XD, observamos que havia um público bem diferente do público de PlayKids para oferecermos produtos de qualidade. Enquanto PlayKids foca em crianças de até seis anos, o PK XD atraiu pré-adolescentes, adolescentes e até adultos como público principal. A partir daí, surge a Afterverse, uma empresa de games focada no entretenimento de diversas faixas etárias. Recentemente, a Afterverse se tornou uma empresa independente de PlayKids, ou seja, agora somos uma marca com personalidade, portfólio e atributos próprios que usa tecnologia para levar entretenimento para todas as pessoas que tiverem um smartphone com acesso à Internet. Atualmente, o PK XD é o carro chefe do nosso portfólio, mas temos também o Crafty Lands, que tem quase 10 milhões de usuários mensais. Todos os nossos jogos são jogos sociais e assim pretendemos ampliar nosso portfólio. Não descartamos outros tipos de jogos, como e-games, mas nosso foco atual é ampliar a presença da marca enquanto empresa com grande potencial de alcance global. Nossa principal visão é que é possível quebrar barreiras sociais, geográficas e culturais por meio dos nossos jogos, porque tecnologia com atitude muda o mundo.
PK XD é um de seus jogos estrela. Como surgiu a ideia de criá-lo? Quais são os desafios de um título tão popular e divertido?
Surgiu dentro da célula de inovação da PlayKids, por meio da visão inovadora de nossos colaboradores. Nosso principal desafio é manter as atualizações constantes do jogo, ou seja, oferecer aos jogadores novidades que mantenham o universo de PK XD ao mesmo tempo acolhedor e desafiador, trazendo de fato entretenimento com segurança, diversão e qualidade para todos. Para isso, contamos com um time de desenvolvedores que não são apenas muito bons tecnicamente, mas também eles têm um senso apurado de criatividade. Ouvimos muito nossa comunidade de gamers, que geralmente nos traz ideias fantásticas que conseguimos colocar em prática, aumentando o senso de pertencimento e comunidade entre a Afterverse, o PK XD e os jogadores. Acho que muito do nosso sucesso vem dessa parceria genuína que temos com a comunidade, além da dedicação dos times da empresa, que realmente abraçaram a ideia de criarmos universos e experiências inesquecíveis por gerações.
Os produtos mencionados são jogos sociais de mundo aberto e, hoje, muitos desenvolvedores estão se voltando para esse gênero. Por que essa tendência está ocorrendo? Você acha que os jogadores estão em busca de novas realidades, além da própria realidade concreta?
Algumas pesquisas do Google, divulgadas há dois ou três anos, mostram que os jogos sociais serão em breve as novas redes sociais, já que unem o melhor dos dois mundos: é possível se entreter jogando e, ao mesmo tempo, compartilhar experiências e conquistas com amigos e usuários de diversas partes do mundo. Acho que a questão de buscar outras realidades faz parte do lado criativo do ser humano. É o que vivenciamos nos livros de ficção, em programas de TV, filmes, séries, histórias infantis e até mesmo em viagens. O advento da Internet e a criação das redes sociais ampliaram muito todas essas experiências. Talvez, venha daí nosso poder inventivo enquanto seres humanos. Estamos sempre em busca de experimentar muito mais do que a nossa própria realidade. Se a experiência é concreta ou virtual, depende muito dos meios disponíveis para tanto. Temos a possibilidade de vivenciar novas experiências por meio de ambientes online, o que pode contribuir muito para ampliar nossas visões e quebrar certas barreiras que nos separavam enquanto seres multiplus.
Qual é a função da Afterverse para streamers e criadores de conteúdo? Por que eles são tão importantes?
Se nosso encontro com os criadores de conteúdo fosse retratado no cinema, seria o que os hollywoodianos chamam de ‘Cute meet’: o encontro perfeito entre protagonistas. Mais do que jogos, nossa ideia sempre foi criar comunidades que pudessem se unir, quebrando barreiras físicas e culturais por meio da interação dentro dos games, das parcerias que fechamos e dos nossos creators, youtubers parceiros que fazem vídeos sobre o PK XD de forma orgânica e estão muito próximos de nós, inclusive sugerindo melhorias e novas features. Nossa relação com produtores de conteúdo acontece de forma bastante orgânica e engajada, por isso tem dado tão certo. Começamos enviando e-mails para os youtubers de quem gostaríamos de estar próximos, principalmente tratando-se de PK XD. Hoje, temos mais de 200 produtores de conteúdo que fazem vídeos periódicos sobre PK XD e temos um time de Community dedicado ao relacionamento com eles e nossos jogadores. Alguns youtubers gamers possuem uma forte comunidade ao redor de seus canais e essas pessoas estão também interessadas em jogos como o PK XD. Por isso, essa troca é sempre muito rica para ambos os lados. Basicamente, o youtuber produz vídeos periódicos sobre o PK XD e recebe spoilers sobre novas features, ferramentas dentro do jogo para produzir conteúdo, participam de concursos. Dentro do jogo, nós possuímos uma feature que destaca alguns desses vídeos para que nossa comunidade de gamers assista. Muitos youtubers, inclusive de países como Espanha e Rússia, criaram canais 100% dedicados ao PK XD.
Você entende que os videogames terão um papel mais social no futuro? Por quê?
Desde a criação dos primeiros videogames, a questão da sociabilidade sempre foi importante, seja para reunir os amigos para jogar, seja para comentar os jogos com pessoas que também gostam daquele tipo de entretenimento. Somos seres sociais, por essência, e dificilmente a tecnologia vai mudar isso. Pelo contrário, ela pode ser uma grande aliada para ampliar nossa experiência enquanto sociedade, não apenas na área do entretenimento, mas em outros campos como economia, política, sustentabilidade, educação, sexualidade, acesso à informação, entre outros. Com certeza, a possibilidade de conexão com pessoas de diversas partes do mundo está transformando os videogames e os jogos online em processos de sociabilização de uma forma muito mais amplificada do que a décadas atrás. É preciso entender que o avanço do acesso à Internet e as inovações que surgem a cada dia, como o 5G, expandem nosso próprio universo e isso não tem volta. O caminho é sempre para frente quando se trata da expansão online. Claro, ainda temos muito que aprender com todas essas novas tecnologias, assim como qualquer inovação que surgiu ao longo da história de produção humana, mas com certeza o futuro é cada vez mais compartilhado e social.
Como você percebe o desenvolvimento do mercado de mobile games? Eles serão mais lucrativos e bem-sucedidos do que jogos de grandes desenvolvedores e para consoles, estilo AAA?
Eu diria que, na verdade, os jogos mobile são mais acessíveis. Os consoles de videogame são grandes sucessos entre jogadores de games, porém têm um custo alto para a realidade da maioria da população, sem contar a compra dos próprios jogos para cada console, que também não são tão baratos. Os jogos mobile têm a vantagem de não precisarem de um aparelho específico para rodar. Eles dependem de o jogador possuir o que hoje consideramos uma ferramenta básica para o dia a dia da grande maioria da população: um smartphone. Mesmo em comunidades mais carentes ou entre pessoas com menor acesso monetário, os smartphones estão presentes, ainda que não sejam aqueles considerados de primeira linha ou o último lançamento das empresas mais top de linha. São aparelhos mais acessíveis e mais populares do que os consoles de videogames tradicionais. Acredito que exista público, no entanto, para os dois tipos de jogos. Não imagino que uma coisa vá acabar com a outra. Mas o posicionamento da Afterverse tem muito a ver com quebrar essas barreiras sociais que o acesso muitas vezes impõe. Por isso, nada mais lógico do que projetarmos e desenvolvermos jogos para que cada vez mais pessoas possam se divertir.
Qual a sua visão em relação ao desenvolvimento dos videogames no Brasil, e na Latam em geral?
Em relação a tecnologia, nós brasileiros somos grandes entusiastas. Também estamos provavelmente entre os top cinco países que consomem entretenimento. Dessa forma, o potencial do Brasil em relação a games é gigantesco. Somos 211 milhões de pessoas, com realidades bastante diferentes, ou seja, temos público para todo tipo de jogo, em busca de diversas formas de entretenimento no universo dos games. A Afterverse é um exemplo disso: uma empresa que não nasce como uma marca de jogos brasileira que está se expandindo para outros países, mas sim como uma empresa global que tem sede no Brasil. E isso traz muita visibilidade para o mercado nacional, seja em relação aos usuários o aos profissionais envolvidos no mercado de games. Apenas 30% dos nossos jogadores se encontram no Brasil. Dos 70% restantes, boa parte está espalhada pelos países de língua espanhola, principalmente Latam. O Brasil costuma lançar tendências nesse campo, portanto vejo um grande potencial de expansão entre a comunidade gamer de Latam.
Quais são os planos do Afterverse para o restante de 2021 e para nos próximos anos?
São muitos! Todos os dias, surgem novas ideias entre os times e, muitas vezes, precisamos priorizar algumas em detrimento de outras para dar conta de tanta criatividade. Mas o nosso principal objetivo é construir um metaverso Afterverse (inclusive, esse é um dos lugares que vem o nome da empresa: metaverso, multiverso). Somos uma empresa que abriga em si diversos universos que estão à disposição das pessoas que por eles se interessarem, independente da idade ou do país em que se encontra. Vamos unir as pessoas por meio de seus interesses do que consideram entretenimento. Estamos lançando neste momento algumas parcerias importantes com marcas que vão trazer os produtos da Afterverse dos jogos para a realidade. Uma delas é a parceria com a marca de calçados Pampili. Vamos ter alguns acessórios e calçados Pampili dentro do jogo, para nossa comunidade de gamers. A empresa também produziu vários calçados e acessórios para que os fãs de PK XD possam literalmente vestir os itens do jogo. O mais legal da parceria é que a Pampili, mesmo sendo uma marca mais voltada para sapatos e acessórios usados por meninas, topou fazer uma linha PK XD mais unissex, com designs coloridos que chamam atenção de meninas e meninos e quebra o estereótipo de gênero que geralmente as marcas acabam reforçando.