Um levantamento recente da Associação Brasileira dos Desenvolvedores de Jogos Digitais (Abragames) em acordo com a Agência Brasileira de Promoção de Exportação e Investimentos (ApexBrasil), divulgado nestes dias no BIG Festival, revelou um panorama completo e muito positivo sobre o segmento de videogames no Brasil, com mapeamento dos estúdios de desenvolvimento por região, informações sobre participações em eventos internacionais, tecnologias utilizadas, diversidade, capacidade de produção, fontes de receitas e expectativas.
O mercado brasileiro de games tem motivos para comemorar. O número de estúdios nacionais em atuação subiu de 375, em 2019, para 1.009 em 2022, crescimento de 169%. Outro dado da 1ª Pesquisa Nacional da Indústria de Games (PNIG) que chama a atenção é a distribuição geográfica dos estúdios por todo o Brasil. Apesar do ambiente de produção cada vez mais digitalizado e da presença de estúdios em todas as regiões do país, o Sudeste ainda concentra mais da metade dos desenvolvedores (57%), seguido do Sul (21%), Nordeste (14%), Centro-Oeste (6%) e Norte (3%).
Este relatório relembra um trabalho semelhante realizado este ano, a Pesquisa Game Brasil (PGB). Desenvolvido pelo Sioux Group e Go Gamers em parceria com Blend New Research e ESPM, foi focado em fãs de videogames e Esports no mercado brasileiro.
QUALIDADE E DIVERSIDADE
Seguindo com a PNIG, em relação à diversidade dentro dos estúdios brasileiros, o levantamento mostra que há cerca de 12.441 pessoas trabalhando com desenvolvimento de games no país, sendo 29,8% mulheres. Nas pesquisas de 2018 e 2014, essa mesma fatia representava apenas 20% e 15%, respectivamente. Além disso, mais da metade das empresas brasileiras (57%) afirma ter uma força de trabalho diversa, com transexuais, idosos, estrangeiros, refugiados, portadores de deficiência, pessoas pretas, pardas ou indígenas.
Para qualificar a indústria, atualmente, o Brasil conta com mais de 4.000 cursos de graduação de Jogos Digitais ou de Design de Games cadastrados no Ministério da Educação. Apenas 0,27% dos cursos é oferecido pelo setor público. Em termos geográficos, mais de 40% desses cursos está na região Sudeste e a estimativa é de que a cada ano se formem um total de 3.965 estudantes.
TALENTO INTERNACIONAL
Com cada vez mais profissionais qualificados e conquistas expressivas no mercado internacional, já se aguardava que muitos estúdios brasileiros revelassem negócios com empresas do exterior, mas o resultado foi acima do esperado, com 57% das desenvolvedoras tendo vendido seus serviços e jogos a empresas de outros países somente em 2021. Os principais mercados consumidores das produções brasileiras são Estados Unidos e América Latina, que fizeram negócios com 55% e 53% dos estúdios brasileiros, respectivamente. Em seguida estão Europa Ocidental (49%), Canadá (49%), países de língua portuguesa (41%), Japão (37%) e China (24%).
Além das vendas, a pesquisa revelou que 12% dos estúdios brasileiros têm representação ou assessoria de imprensa em outros países, 9% têm empresa formalizada, 2% conta com escritório local e 2% pelo menos uma unidade de desenvolvimento no exterior.
PARTICIPAÇÃO DOS PRINCIPAIS EVENTOS DA INDÚSTRIA
A presença brasileira também se estende à participação em eventos internacionais, seja acompanhando sessões de conteúdo, expondo produtos ou atuando em rodadas de negócios e missões comerciais. Segundo o reporte, 39% dos estúdios brasileiros que estão em atividade e responderam a pesquisa já participou de eventos internacionais de negócios como visitantes ou ouvintes, 33% estivou em rodadas internacionais de negócios, 17% foi a eventos internacionais como expositores ou palestrantes e 13% ficou parte de missões comerciais em outros países.
O alinhamento dos brasileiros com a indústria internacional também pode ser analisado sob o ponto de vista técnico. Atualmente, entre os estúdios nacionais, 83% da amostragem utiliza o motor gráfico Unity em seus projetos. Em segundo lugar, aparece o uso da Unreal Engine, da Epic Games, com 23%, seguida de Blender Engine (13%), Construct (11%) e Game Market (7%).
CAPACIDADE DE PRODUÇÃO E FONTE DE RECEITA POR TIPO DE JOGO
A pesquisa também mostra que a imensa maioria dos estúdios (93%) participantes do levantamento desenvolve suas próprias PIs (propriedades intelectuais), enquanto 18% licencia projetos de outras empresas, 17% está envolvido com projetos transmídia e 13% licencia suas Pis.
Entre os serviços oferecidos pelos estúdios brasileiros a terceiros, encabeçaram a lista em 2021: protótipo do jogo (49%), game design (42%), design de aplicativos (28%), gamificação (28%), desenvolvimento de softwares (26%) e construção ou design de níveis (25%).
Por fim, a relatório levantou as fontes de receita dos estúdios por tipos de jogos. Embora seja comum que uma desenvolvedora atue em mais de uma área, para efeito de levantamento, foi contada apenas a indicação da maior receita. Entre os respondentes, destacaram-se: jogos de entretenimento (76%), jogos educacionais (12%), advergames (6%), treinamento corporativo (4%), e simuladores com uso de hardware específico (1%). Os dispositivos mobile (38%) são a principal plataforma tecnológica utilizada, seguida dos PCs (20%), consoles (17%), web (13%), realidade virtual/realidade aumentada (9%) e redes sociais (0,4%).
EXPECTATIVAS E POTENCIAL DE CRESCIMENTO, DE ACORDO COM ESPECIALISTAS
No momento do balanço desta grande obra, Rodrigo Terra, presidente da Abragames, assegurou: “O estudo traz um mapeamento inédito da indústria brasileira de desenvolvimento de games e apresenta dados que colocam o país como um importante hub do setor na América Latina, além de um celeiro de talentos para o mercado global de jogos eletrônicos. O aumento significativo na quantidade de estúdios, de 2018 para 2022, tem muito a ver com o amadurecimento da nossa indústria. Hoje, temos quase 20% dessas empresas em atividade por um período entre 10 e 15 anos”.
Por sua parte, Eliana Russi, diretora da Abragames, explicou: “Temos um cenário cada vez maior e mais rico no Brasil, e o levantamento nos ajuda a compreender quem são esses estúdios, onde estão, o que estão fazendo e o que precisam para se desenvolver. Portanto, é mais uma ferramenta para que a Abragames possa apoiá-los da melhor forma possível a fim de gerar desenvolvimento como empresas, negócios e cases de sucesso”.
Apesar dos desafios impostos pela pandemia e pela crise econômica dos últimos anos, a indústria brasileira de desenvolvimento de games segue em plena ebulição e constante evolução. “Além dos números e fatos apresentados nessa pesquisa, nossas expectativas são ainda mais otimistas por fatores como a presença oficial no Brasil de diversas multinacionais da indústria e seus planos de incentivo ao desenvolvedor local, excelentes resultados dos nossos estúdios na área de desenvolvimento externo (XD), e até mesmo pelo crescimento do trabalho remoto, que fez com que muitos profissionais brasileiros passassem a trabalhar diretamente para empresas de outros países”, conclui Terra.