Tenho lido e ouvido muitos colegas, profissionais do sector, defenderem que há espaço para a coexistência de casinos territoriais e casinos online. No meu ponto de vista, se não mudarmos rapidamente a forma como gerimos os casinos territoriais, esse espaço vai desaparecer num futuro muito próximo.
Assistimos, inertes, a um crescimento exponencial do jogo online e continuamos a culpar a pandemia e o consequente encerramento dos casinos físicos na altura, sem percebermos que são a diferença de regras, limitações e directrizes aplicadas às duas vertentes do sector, assim como o adormecer da gestão, que parece ter parado no tempo, os principais responsáveis pelo crescimento referido.
DADOS PREOCUPANTES SOBRE JOGO ONLINE E TERRITORIAL
Não vou tecer considerações sobre estes pontos neste artigo, pois tornar-se-ia demasiado extenso. Vou me focar em algo que considero absolutamente preocupante. No primeiro gráfico abaixo, relativo ao último trimestre de 2023, podemos observar os dados relativos ao jogo online (disponíveis no site do regulador português SRIJ). Já no segundo gráfico, os dados dizem respeito a uma operadora territorial. Para obtermos um resultado ainda mais fiável, e provavelmente mais assustador, seria importante reunir os dados de todas as concessionárias territoriais, mas, ainda assim, estes são suficientes para termos algumas noções sobre a realidade actual.
Em 31 de dezembro de 2023, os jogadores registados com idades compreendidas entre os 25 e 34 anos representavam 35,0% do total no online e apenas 4,4% no territorial, sendo 79,9% no online e 23,2% no territorial, a proporção dos jogadores registados com idade inferior a 45 anos. Relativamente ao registo de novos jogadores, apurou-se que 79,8% no online e 54,5% no territorial tinham idade inferior a 45 anos.
Analisando agora as suas características etárias, observamos que 32,9% dos novos jogadores online têm idades compreendidas entre os 18 e os 24 anos e que, nos novos jogadores em casino territorial, a faixa etária mais forte foi a dos 35 aos 44 anos, com uma percentagem de 20,3%. Mas vamos ao mais preocupante: relativamente à faixa etária dos jogadores, podemos observar que 79,9% dos jogadores registados no online têm idades compreendidas entre os 18 e os 44 anos, enquanto no jogo territorial, 76,7% dos jogadores têm idades superiores a 45 anos.
UM FUTURO QUE DEVE SER REPENSADO
Ora, tendo em conta os dados apresentados, percebemos facilmente a tendência: o jogo online renova-se e garante a sua sobrevivência a um ritmo elevado assente essencialmente nas gerações mais jovens, que nasceram formatadas para a tecnologia. Por sua parte, o jogo territorial parece começar a palmilhar o caminho da extinção uma vez que a geração que o mantém “meio vivo” não tem muito mais tempo e as novas gerações não parecem ter interesse suficiente para lhe dar esperança.
É hora de repensar o futuro, um futuro que tem de ser conjunto, com permeabilidade entre ambos os sectores. Continuar a aumentar o fosso é matar o jogo territorial. Não sou da opinião que o online é algo negativo e quero deixar isso claro. Mas não podemos permitir que o facilitismo de termos o jogo num aparelho na palma da mão nos faça perder a magia dos casinos físicos.
MAGIA DOS CASINOS FÍSICOS NÃO SE COMPARA AO ONLINE
Um casino não é um ecrã de computador, tablet ou telemóvel; é glamour, cocktails e flutes de champanhe. Um casino é conversa entre amigos, dançar e ver o futebol; é a adrenalina de ver a máquina “abrir”, ou a bola a cair no cacifo do número que escolhemos para nos premiar. O casino é curiosidade, emoção, adrenalina, luzes, concertos, musicais, revista, teatro, exposições de arte, lançamento de livros e espetáculos de magia. É luxúria, é cabaret, é classe. Nada disto existe online.
Se não queremos que os casinos sigam os caminhos dos clubes de vídeo, totalmente destruídos pelas plataformas de streaming, temos de começar a mudar. Precisamos de tirar as pessoas de casa. Precisamos de as trazer ao casino. Está na hora acordar, de nos mexermos, levantarmos da cadeira e desenvolvermos novas ideias. É importante aprender com o que de melhor se faz online e transportar esse conhecimento para a realidade física, transformando-a.
É urgente mostrar que a ida ao casino é uma experiência única que nenhuma realidade online poderá igualar. Acredito que o próprio online pode e deve ajudar neste processo. Como? Realizem-se por exemplo, torneios online, realizem-se torneios de slot machines simultâneos, em que as finais se realizem numa mega sala de um casino físico, com direito a jantar e festa posterior. Promovam-se mais torneios, de pano verde, de slot machines, de poker, em que os prémios contemplem idas aos nossos casinos, seja por meio de oferta de vales para experimentar jogos, bilhetes para concertos, peças de teatro, jantares ou bebidas. É necessário promovermos esta sinergia para que a palavra ‘casino’ não venha, um dia destes, a ver-se despida de todo o seu misticismo.