Na primeira metade do ano passado, os portugueses apostaram €7.000 milhões. São cada vez mais os jogadores que apostam online. Nos primeiros seis meses do ano, em média, foram apostados por dia €38,7 milhões, mais 36,3% do que no mesmo período de 2022. Segundo dados do regulador SRIJ, contabilizam-se mais de 3,082 milhões de registos de jogadores que estão em diferentes plataformas. Quem mais aposta tem entre 25 e 34 anos (35,6%) e é no Porto e em Lisboa que se encontra o maior número de apostadores que investiram em jogos de sorte e azar, casinos e apostas desportivas à cota.
As 17 empresas com autorização para operar no jogo online e que são detentoras de 30 licenças (13 licenças para exploração de apostas desportivas à cota e 17 licenças para exploração de jogos de fortuna ou azar) obtiveram uma receita bruta de €402,4 milhões, um crescimento homólogo de 33%. Este disparar da atividade permitiu ao Estado Português arrecadar receitas de €122,4 milhões em IEJO (Imposto Especial de Jogo Online). A atividade de jogos e apostas online gerou, durante o 2º trimestre de 2023, cerca de €205,9 milhões de receita bruta, traduzindo-se num aumento de 4,9% comparativamente ao trimestre anterior. Relativamente ao período homólogo de 2022, registou-se um desenvolvimento da receita bruta em €60,7 milhões (mais 41,8%), em resultado observado tanto em jogos de fortuna ou azar, como nas apostas desportivas à cota (€41,5 milhões e €19,3 milhões, respetivamente). Do total de receita bruta, 59,2% foi resultado de apostas em jogos de fortuna ou azar e 40,8% de apostas desportivas à cota.
JOGO FÍSICO X JOGO ONLINE
No primeiro trimestre de 2023, a atividade do jogo praticado em casinos e salas de máquinas em Portugal gerou cerca de €66 milhões de receita bruta, representando um aumento de 22,28% face ao período homólogo de 2022. No segundo trimestre de 2023, a receita bruta foi de cerca de €66,8 milhões, uma ampliação de 1,20% face ao trimestre anterior, e 6,82% face ao período homólogo de 2022. Ou seja, a receita dos casinos físicos no 1º semestre de 2023 quedou-se pelos €132,8 milhões. Os números são claros.
O jogo físico tem perdido receita ao longo dos últimos anos. Pelo contrário, desde a sua regulamentação em Portugal no ano de 2015, o jogo online tem vindo a obter resultados cada vez mais significativos. Isso foi benéfico tanto para as operadoras como, claro, para o Estado, o qual obteve (só no primeiro semestre de 2023) €122,4 milhões devido ao Imposto Especial de Jogo Online. Comparando as receitas do jogo online no 1º semestre de 2023 (€402,4 milhões) com as receitas do jogo em casinos físicos no mesmo período (€132,8 milhões), encontramos uma enorme disparidade de valores.
Sendo certo que as receitas do jogo online continuam semestre após semestre a apresentar uma acentuada tendência de crescimento enquanto da parte dos casinos físicos, a tendência é a da estagnação de resultados ou mesmo de decréscimo. Uma das questões que se pode e deve colocar é se se trata de uma inevitabilidade, de um destino com nuvens muito negras pela frente. Talvez não. Como podem os casinos reagir a estas tendências? Será possível mudar as coisas? Sim, é possível, mas não seguramente com o atual paradigma de exploração adotado para os espaços dos casinos de base territorial.
TENDÊNCIAS E MUDANÇAS, DE GERAÇÃO EM GERAÇÃO
Como todos sabem, o jogo mudou muito nas últimas duas décadas. As mudanças tecnológicas transversais a toda a sociedade foram brutais. No entanto a matriz adotada desde 1927 (1ª Lei do Jogo em Portugal) mantém-se na sua essência e na sua estrutura, exatamente a mesma. O mesmo modelo, o mesmo regime, salvaguardadas claro, as sucessivas alterações à natureza das contrapartidas ao Estado.
As mudanças que se impõe levar a efeito não poderão ser apenas cosméticas, mas sim mudanças que correspondam às diversas opções, marcadamente as de natureza tecnológica que as novas gerações mais apreciam. Terá de existir e cada vez mais da parte das operadoras a capacidade de atração da nova geração aos espaços dos casinos físicos, nomeadamente aos espaços extra-jogo com os quais se identifiquem. E, claro, a capacidade para influenciar uma definição de políticas públicas que permitam esses desideratos, designadamente através da adoção de políticas fiscais que equilibrem as diversas explorações de jogo e que permitam aos empresários planejar estrategicamente e com segurança os seus investimentos.
Os espaços não-jogo ou extra-jogo terão naturalmente um papel chave na solução de futuro de tornar um casino físico atrativo para as novas gerações. Não se deve menosprezar a importância económica das gerações que muitas vezes, por razões de natureza convivial, apreciam deslocar-se aos casinos físicos e usufruir das vertentes do conforto dos espaços, da qualidade dos serviços da restauração e do bom nível dos espetáculos e da animação. Acresce que o jogo online terá de estar necessariamente associado e presente no casino físico. Essa deverá ser a inevitabilidade.
Naturalmente que tudo terá de passar pelas necessárias alterações legislativas. Porém, realidades como as apostas desportivas ou mesmo os Esports, ou outras similares, poderão, no futuro, vir a ter lugar nos casinos físicos portugueses. Em paralelo, matérias como a responsabilidade social das empresas exploradoras e o desenvolvimento de efetivas políticas de jogo responsável e de jogo seguro poderão vir a desempenhar um papel fulcral no alcance destes objetivos. Tornar o jogo mais transparente e apostar na prevenção e proteção do jogador mais frágil poderá vir a ser o caminho para a aprovação social do jogo.