Por Leticia Navarro, jornalista da G&M News.
Você tem um reconhecimento junto ao segmento de jogos que vem de mais de 30 anos no setor, e atualmente está ocupando o cargo de Diretor de Desenvolvimento de Negócios da Betsat Brasil. Conte um pouco desta trajetória profissional tão extensa, e que seguramente lhe confere autoridade para dar um panorama do que era antes o mercado de jogos, comparado com o atual.
Descrevendo a evolução experimentada em diferentes fases de minha carreira profissional, as principais mudanças podem ser concentradas em três áreas principais: regulamentação, tecnologia e progresso em telecomunicações. Eu destaco o valor que deve ser dado ao valor humano e o reconhecimento que deve ser dado a fatores como criatividade, “pensar fora da caixa”, obter uma equipe profissional e motivada. Por um lado, a regulamentação sempre esteve vários passos atrás dos avanços tecnológicos, mas essa lacuna está diminuindo aos trancos e barrancos, assim como a distância entre o canal de varejo e a conectividade móvel e a cultura digital dos usuários. Nos últimos anos, as tendências de informação têm se concentrado muito em “I.A.” e na experiência inversa do usuário por meio da realidade virtual e da personalização do conteúdo; mas, por outro lado, o fator humano por trás de todas as facilidades tecnológicas criadas para alcançar o usuário deve contar muito mais do que o que é mencionado hoje. Acredito que o treinamento e o cuidado adequados com o fator humano sejam a “quarta perna da mesa” que deveria ter muito mais peso em todos os níveis, porque acho que há algum tempo a perspectiva se perdeu um pouco, dando muito mais valor aos outros três fatores mencionados acima.
Como definiria o crescimento do iGaming no Brasil, as particularidades do mercado brasileiro e a grande competitividade que cada vez mais cresce no país?
O crescimento do igaming no Brasil está passando atualmente por um período de euforia e um alto nível de participação em nível operacional, principalmente nos últimos 4-5 anos. O surgimento do Pix como método de pagamento, a entrada de algumas operadoras nacionais e internacionais com grande exposição na mídia e a perspectiva de regulamentação futura aceleraram essa atividade. No entanto, acredito que esse “balão” será um pouco esvaziado com o início do mercado regulamentado e o mercado será um pouco compactado, digamos que será uma seleção natural em que os mais fortes terão uma alta participação de mercado; e, até certo ponto, aqueles que se posicionarem na linha de frente terão uma grande vantagem competitiva. Depois que o mercado regulamentado tiver sinal verde, ele precisará de alguns anos para começar a dar valor real à sua evolução em termos de crescimento, e muito disso dependerá das medidas de proteção que o órgão regulador poderá exercer para minimizar o jogo “cinza” ou ilegal. Também será importante aguardar e analisar possíveis mudanças ou desenvolvimentos, especialmente nas regulamentações de publicidade e tributárias (impostos nacionais e federais). Acredito que tudo dependerá do cumprimento ou não das metas de receita do governo. Pessoalmente, acho que elas serão menores do que as anunciadas, portanto, certamente haverá ajustes regulatórios.
Qual sua análise sobre a questão quanto ao uso saudável das plataformas de jogos pelos usuários e políticas que considera importantes neste sentido?
O jogo responsável e o KYC, partindo de uma base de conhecimento correto e verificação da identidade de um usuário. Acho que isso é especialmente importante em um país como o Brasil, onde o jogo é fortemente combatido por alguns setores políticos. Basicamente, nesse aspecto, como operador, eu tentaria dar mais garantias do que aquelas que são obrigatórias pela regulamentação. Obviamente, é inevitável que haja alguns incidentes ou problemas, mas acredito que seja essencial não apenas identificar o usuário em vídeo “em tempo real” em vários estágios do processo de “jornada do cliente”, mas também garantir os limites auto impostos de conformidade, sendo um passo adicional colaborar de forma associativa com entidades que oferecem ajuda e apoio a pessoas com problemas de dependência de jogos. Todos perdem com o problema do jogo, até mesmo um operador de jogos de azar.
Quais os projetos da Betsat para o mercado brasileiro em 2024, e se há alguma novidade que possa adiantar, com exclusividade, que está sendo preparada pela empresa no país?
A Betsat está no Brasil há aproximadamente um ano e está basicamente se posicionando na linha de partida em termos de regulamentação a nível tecnológico, humano e de mídia. Recentemente, fechamos um acordo de patrocínio com o clube de futebol “Esporte Clube de Vitória”, que é um dos próximos passos que estamos definindo para diferenciar a marca e nos posicionar em um mercado que será tão competitivo na pole position quanto na corrida. E estamos nos concentrando em otimizar “o carro” para o Q3. Temos uma equipe local profissional e experiente, temos a tecnologia WA Technology comprovada com atuação brilhante em vários mercados, defendemos também uma oferta diferenciada e uma comunicação que chegue a um público que queremos e, o mais importante, que gostamos. A corrida será longa, por isso temos que pensar a longo prazo, e é isso que estamos fazendo. Obviamente, muitas outras notícias serão divulgadas nos próximos meses, mas sempre pensando a longo prazo.
Na noite da última terça-feira, 26 de março, ocorreu a primeira edição do G&M Eventos Portugal, na capital portuguesa, onde além da sua relevante presença, também outros importantes executivos do segmento iGaming participaram. Qual sua opinião sobre o evento e quesitos quanto ao ambiente, organização, logística, e principalmente sobre perspectivas de negócios geradas neste encontro?
Em primeiro lugar, fiquei muito feliz por ter um evento para participar em Portugal, principalmente por dois motivos: primeiro, por causa da proximidade com meu local de residência e, segundo, por causa de sua forte conexão com fornecedores e operadores de países de língua portuguesa. O lugar era lindo e certamente será o primeiro de muitos. Este ano, quando outros eventos do setor se concentrarão em Lisboa, acredito que a G&M News em Lisboa ou no Porto, será certamente um evento imperdível no calendário. Estou ansioso para repetir e ver este evento crescer tanto quanto acredito que crescerá.