Por Anamaria Bacci, jornalista e tradutora da G&M News.
O começo de sua carreira
Tendo um forte core business em assuntos regulatórios, trabalhando em empresas de tecnologia, já em 1996, André teve seu primeiro contato com o mercado de gambling na abertura dos bingos no Brasil, mas somente em 2002 realmente começou a atuar de forma mais efetiva nesse setor. Em 2010, iniciou seu relacionamento com a rede de cassinos Caesars, de Las Vegas (Estados Unidos), dedicando-se integralmente a este setor, e em 2015, já trabalhando com o Caesars como consultor na área de regulamentação, foi que começou a pensar em poker. Quando adquiriu a licença da marca pra o Brasil, sua primeira ideia foi sair do campo teórico e experimentar na prática como era ser um operador de jogos no Brasil, sendo que naquela época o poker ainda não estava tão reconhecido pelas autoridades e ainda sofria preconceitos e muitas dificuldades na questão regulatória principalmente para conseguir o ‘alvará’ as licenças de funcionamento. “Tenho que reconhecer que não foi fácil, porém a pior fase para se conquistar o reconhecimento do poker como esporte no Brasil já tinha sido travada pela Confederação Brasileira de Texas Hold’em (CBTH) o que ajudou muito na realização do primeiro WSOP no Brasil”, ele comenta e acrescenta: “Para você ter uma ideia, só conseguimos nosso alvará para o primeiro WSOP no Brasil apenas 8 horas antes de abrirmos o portão do evento! Uma verdadeira loucura”.
De lá pra cá muita água rolou, muita coisa aconteceu, o poker se solidificou e criou fortes raízes no Brasil, e André diz que nele também, que aprendeu muito, fez e conquistou e muitos amigos, e alguns inimigos, como já se era de se esperar. Hoje, mais de 11 anos depois do seu primeiro contato com o mundo do gambling, ele continua lutando pela regulamentação do jogo no Brasil, atendendo grandes marcas internacionais, cultivando amizades com muitos players de mercado e batalhando pelo que ele espera que aconteça logo, a regulamentação de todo setor de jogos no Brasil.
Sua experiência com os torneios WSOP
É assim que ele conta, com orgulho e luxo nos detalhes: “O primeiro WSOP no Rio foi um caso de adrenalina. Muitos acreditavam que não seria possível. Confesso que algumas vezes até mesmo eu fiquei em dúvida se conseguiríamos realizar o evento. O primeiro de todos ocorreu em São Paulo, em 2016. As autoridades do Rio de Janeiro já haviam impedido a realização um grande evento alguns anos antes. O Rio estava há muito anos sem sediar um grande evento de poker. As fichas não estavam o nosso favor. Eu e meu sócio Rodrigo Cariola acreditávamos que seria possível, e também sabíamos que se nós conseguíssemos realizar aquele evento, definitivamente estaríamos inseridos na história do poker no Brasil, pois teríamos trazido o maior torneiro de poker para o país, e depois teríamos realizado o evento no Rio de Janeiro que todos consideravam como um grande e quase impossível feito. Pois bem, fomos lá, tentamos a sorte, nós nos apoiamos em pessoas chaves e muito competentes; criamos um grupo e encaramos o desafio. Conseguimos realizar o WSOP no Rio. Foi um grande sucesso de público, em um lugar icônico o famoso Copacabana Palace, que, entre outras coisas, foi o primeiro cassino do Brasil e aquele salão onde realizamos o WSOP era o local cassino. Fizemos história, recontamos a história, marcamos uma época. Aproximadamente 70 anos aqueles salões construídos em 1927 não recebiam jogadores, dealers, mesas e fichas. Foi histórico, especialmente para mim, que luto pela regulamentação do setor. Aquilo era um sonho, uma honra e uma realização. Então, em 2019, fizemos outro WSOP no Rio, outro grande sucesso. Realmente, foi apaixonante ver o público, os incríveis jogadores brasileiros prestigiando. E como disse, já havíamos trazido ao Brasil o WSOP, depois abrimos as portas da cidade maravilhosa para o poker após muitos anos. Mas isso não seria tudo. Haveria mais torneios pela frente”.
Você se refere ao Million South America? Existem planos para agora?
Nosso patrocinador, a Partypoker, nos trouxe outro desafio: organizar o Million South America, o que fizemos, resultando num grande evento. E qual era o grande desafio desta vez? Buy ins e prêmios de padrão internacional, valores tanto de buy in quanto de prêmios nunca antes presentes no Brasil ou na América Latina, o maior torneio da história em prêmios. Mais um projeto realizado com sucesso e planejado em conjunto com meu sócio Rodrigo Cariola, que realmente é a pessoa que entende de poker. Eu apenas cuidei do operacional; ele sim era a pessoa responsável pela jogabilidade do torneio, o maestro durante o evento.
Qual foi seu caminho dentro do pôquer? Como você decidiu se envolver como organizador de eventos no Brasil?
Comecei com o poker em cassinos junto ao Caesars de Las Vegas, trabalhando integralmente com este setor, e em 2015, como consultor na área de regulamentação, foi que comecei a pensar no poker pra valer. Nesses últimos anos, o poker me levou para Las Vegas, Montreal, Israel, Espanha, Inglaterra, República Tcheca, Lituânia, Bahamas, Saint Martin, Argentina, Chile, Uruguai, México, Costa Rica e República Dominicana.
Quantos jogadores brasileiros participam hoje no pôquer online?
Nos nossos eventos ao vivo temos mais de 1.000 jogadores participando por dia, em eventos que duram em média 7 a 10 dias. Nos eventos online não saberia te dizer.
De que forma se manifestou a explosão do pôquer online no Brasil e América Latina em 2020 devido à quarentena pelo COVID-19?
Em 2020, resolvemos voltar pra São Paulo. Optamos pelo Hotel Unique, outro grande ícone da hotelaria nacional. Preparamos um evento incrível para novamente tentar fazer história, mas o Vírus nos parou, parou o mundo. Mas pretendemos em 2021 fazer o maior WSOP C da história. Esse tem que ser grandioso, um festival de vida e liberdade para os jogadores, pra as famílias que sofreram tanto da privação de relacionamento, da falta de eventos ao vivo. O poker é um evento social, um evento para toda a família e este vírus atacou a nossa alma e o nosso sector. Por isso, 2021 tem que ser especial! E vai ser, está marcado para outubro de 2021 no Hotel Unique em São Paulo. Por causa da pandemia, a reclusão a falta de convívio social, o poker migrou para o on-line. Com certeza, 2020 foi o ano do poker on-line, explosão de acessos, recordes de público e prêmios. Mais uma vez os brasileiros fizeram história nas premiações on-line.
Que diferenças há entre os jogadores brasileiros e os de outros países da América Latina?
Você me pede para comparar os eventos ao redor do mundo. Simplesmente, não dá. Cada um tem seu charme, seu apelo, suas características únicas, mas tem muitos brasileiros. Sempre nosso público é fiel e sempre o mais animado! O jogador brasileiro por ser passional, ele se torna menos previsível, e isso é uma vantagem nos feltros. Eu já ouvi muitas vezes de jogadores estrangeiros que eles têm muita dificuldade de leitura dos jogadores brasileiros. Então acredito que nossa paixão pelo poker nos dá certa vantagem nos feltros.
Como você vê o futuro do pôquer (online e presencial) nos próximos três anos?
Eu acredito que nos próximos três anos, vamos experimentar o maior crescimento e desenvolvimento da indústria do poker no Brasil. Devido à grande ascensão do poker on-line durante a pandemia, milhares de novos jogadores entraram no circuito; muitos deles nunca participaram de um torneio presencial. Por isso que acredito que o boom do on-line vai se refletir no presencial também.
Qual é a sua visão sobre o avanço da regulamentação e legalização do jogo no Brasil?
Quando o assunto é a regulamentação dos jogos no Brasil, cassinos, etc., ainda acredito que teremos um bom tempo pela frente, no mínimo mais dois anos, se tudo der certo. O primeiro grande passo foi a aprovação da lei das apostas esportivas, que deve ser regulamentada ainda esse ano se não houver surpresas. Após, a regulamentação o governo deve ainda definir o modelo e a quantidade de licenças, e somente depois disso proceder à venda das licenças (em leilão). Portanto, antes de meados de 2022, não devemos ter nenhuma empresa operando oficiosamente no Brasil. Mas essa regulamentação já seria um grande passo rumo a regulamentação de todo setor. Eu defendo a regulamentação de todo setor de jogos, inclusive bingos, cassinos e loterias estaduais federais e até municipal (em minha opinião, o melhor caminho para se regulamentar o jogo do bicho). Os projetos de lei, que tentam regulamentar apenas uma atividade, como cassinos, por exemplo, eu não vejo com boas perspectivas. Eu acredito em um mercado regulado, amplo e para todas as atividades, inclusive os jogos de habilidade como o E-Sports.
E pra fechar a entrevista, de todos os lugares que você conheceu, qual você recomendaria para pela paisagem, cultura, sua gente, sua gastronomia e seus principais atrativos?
Sua última pergunta é bem difícil. Sou um apaixonado por viagens, por vinhos e pela gastronomia. O público de poker é muito seleto e muito exigente. Então normalmente onde tem torneio de poker, sempre temos boa comida, lindas paisagens e excelência no atendimento. Porém, não posso deixar de destacar alguns pontos. Em primeiro lugar, se você quiser ver um torneio de poker bem administrado, um exemplo de organização e competência em um clube fantástico dentro de uma reserva indígena, você não pode deixar de ir ao Playground em Montreal, no Canadá. O pessoal de lá dá um show de competência! Rozvadov, no Cassino Kings (na República Checa), é um capítulo à parte. Excelente gastronomia, um salão incrível, um cassino grandioso em meio a uma paisagem incrível. Recomendo muito também esse lugar principalmente no inverno, onde existem estações de esqui muito próximas. A Ilha se Saint Marteen não tem nem como explicar. Tem que ir pra ver. O hotel Maho e o Cassino Royale, onde é realizado o WSOP Caribe, são incríveis! As pessoas são fantásticas, além das praias do Caribe, um sonho. Entretanto, um lugar próximo, muito, mas muito bonito mesmo, de fácil acesso, excelente gastronomia, e com uma equipe fantástica muito competente, que faz com que os brasileiros se sintam em casa, é sem dúvida nenhuma o Enjoy em Punta del Este, Uruguai. Lá você tem um resumo de tudo: belas praias, lindas paisagens, bons vinhos, gastronomia e o melhor a poucas horas de voo. Sem dúvida, uma grande experiência!