Por Anamaria Bacci, jornalista e tradutora da G&M News.
O Brasil tem um enorme potencial para seu mercado do jogo, sem suas diversas variantes. Entretanto, a regulamentação está atrasada em relação ao interesse que desperta o jogo, tanto no âmbito interno como em investidores estrangeiros. Qual é a sua opinião sobre esta situação? O que o Estado deveria fazer para avançar com a legalização de toda a indústria?
Temos avançado muito em relação há anos anteriores, com a legalização dos esportes, só faltando a sua regulamentação. Já vemos uma luz muito forte no fim do túnel com apoio maciço de parlamentares da Câmara e Congresso Nacional, do Ministério da Economia e do Presidente da República, que em alguns momentos esteve desfavorável. Hoje entende a importância desta atividade para financiar diversas áreas carentes na economia do país. Estamos vivendo um momento de grande expectativa. Acredito que estamos perto de resolver o impasse de 70 anos sem jogos no Brasil. Tivemos os Bingos por 13 anos com cinco decretos de lei desde 1994 a 2007 funcionando nos últimos cinco anos amparados por decisões judiciais. Esta experiência nos coloca em alerta para que, através de inúmeras reuniões com parlamentares, ministros e políticos em geral, tenhamos o cuidado necessário de transmitir e orientar os governantes para criar uma legislação que não cometa os erros do passado e que seja viável para que o mercado local e os investidores internacionais se sintam seguros trabalhando em nosso país.
Você tem uma empresa que controla casas de bingo e distribui slots. Qual foi o desempenho de sua companhia no último ano, considerando a crise produzida pelo COVID-19? Como você está tentando se recuperar dos efeitos da pandemia?
Os últimos três anos, focamos em grande parte o mercado online que tem crescido com muita força. Hoje comporta importante faturamento em todas as áreas, mais precisamente no futebol, um fenômeno consolidado no Brasil e no mundo. Apesar de ainda não haver regulamentação, os grandes players mundiais já se consolidam no mercado Brasileiro patrocinando importantes clubes de futebol. Sabendo que o Governo sinalizou para julho deste ano o regulamento para licenciar as empresas interessadas, ainda existem dúvidas de como serão essas licenças ou concessões, mas haverá com certeza uma enxurrada de empresas vindo do mundo todo. O Brasil é a última fronteira de jogos no mundo, país continental onde cada região tem costumes diferentes e preferências por determinados jogos. Muitas empresas pretendem se instalar no país. Eu sou bastante procurado para consultoria, as empresas estrangeiras sabem da importância da assessoria local. O que funciona na América Latina é diferente das particulares preferências dos brasileiros, e muito deve ser feito para introduzir novidades num país como o Brasil.
O bingo é um jogo que apaixona os brasileiros, e os latino-americanos em geral. Como especialista neste tema, por que é tão atraente para os jogadores? Como você descreveria os fãs do bingo no Brasil?
As casas de bingo foram a única atividade autorizada no Brasil. Isso fez com que os brasileiros em 13 anos da atividade se apaixonassem pelo bingo, na modalidade de 90 números no formato espanhol. Quando as primeiras máquinas de vídeo-bingo chegaram, o jogador migrou pra elas, que antes eram simples e monótonas, mas um produto nunca antes visto no país. Em pouco tempo, se consagraram pelas mudanças que foram criadas pelas empresas locais que as transformaram, com variantes do mesmo jogo e altos prêmios nos jackpot, provocando entusiasmo e entretenimento diferenciado das clássicas slot machines do resto do mundo. Após a proibição das casas de bingo, os fabricantes brasileiros migraram a outros países e conseguiram sucesso impondo a novidade, demonstrando alta capacidade criativa com múltiplos jackpot e devolvendo ao jogador mais sequências de prêmios. E esta é a principal atração nesta modalidade, que não acontece com outros produtos. Os vídeo-bingos ganham mercados quando os jogadores entendem o conceito deste jogo apaixonante.
Como afetaria o setor presencial com a futura legalização do jogo online no Brasil? De que maneira aproveitar esse contexto para potencializar e complementar ambas as modalidades de aposta?
A modalidade online veio realmente para ficar. Muitos jogadores se adaptaram a este contexto e encontraram as inúmeras variedades de jogos que antes não tinham acesso no modo presencial, como, por exemplo, os Esports. E no caso do Brasil, exceto o bingo, praticamente quase tudo provoca uma sensação muito diferente. O jogador que gosta de socializar e fazer amigos nos locais de jogos dificilmente mudará seus hábitos. Em minha opinião, o convívio das duas situações continuará valendo sempre. A Internet criou novos jogadores seja por curiosidade, seja por falta de opção ou por causa da pandemia mundial, que incorporou jovens adeptos ao poker virtual que também começaram a gostar de novos jogos. Uma modalidade nunca acabará com a outra.
Como você vê a evolução do setor do jogo no Brasil nos próximos dois anos? De que forma você poderá potencializar sua atividade e incrementar os negócios para sua companhia?
A tendência nos próximos anos no Brasil vai depender muito da legalização de todas as modalidades de jogos. Se for fraccionada, como alguns políticos sugerem, teremos os mesmos e velhos problemas de ilegalidade das outras variantes, e isso é o que traz insegurança para os players locais e internacionais. Estamos trabalhando para isso não acontecer. O Brasil tem, por exemplo, o jogo do bicho, com 128 anos de existência exclusivamente nosso pais, enraizado profundamente na cultura popular, assim como a Quiniela em outros países da América Latina. Seria um equívoco gigantesco não legalizar este jogo e outros como o bingo. Estas duas modalidades trazem um faturamento enorme, que deixaria ao Governo impostos importantes, assim como milhares de empregos. O preconceito e a falsa moralidade não podem prevalecer sobre a realidade de que o jogo existe no Brasil com ou sem lei. O brasileiro é apaixonado por apostas e jogos. Por isso, este país é um gigante de mais de 200 milhões de pessoas que com lá legalidade de todos os tipos de jogos se transformará em um dos gigantes mundiais. É só aguardar os próximos acontecimentos. O Governo precisa entender que somente por meio da legalidade é possível arrecadar impostos, controlar o jogo problemático e coibir a corrupção, a sonegação e a lavagem de dinheiro.