Com a pandemia de COVID-19, ocorreu um paradoxo que poucos teriam imaginado: o fechamento de estabelecimentos físicos de jogos de azar fez com que a única forma de jogar fosse através de canais digitais e/ou móveis. Isso não afetou apenas as pequenas empresas de cassino, bingo ou jogos, mas também os grandes grupos globais de jogos que estão presentes em grandes centros como Macau ou Las Vegas. A realidade é que a maioria dos operadores de jogos terrestres que não tinham uma oferta através do canal on-line torno-se ‘invisível’ para os seus clientes. Nesse sentido, é possível que o desastre de saúde faça com que os operadores presenciais reconsiderem sua necessidade de desenvolver uma estratégia omnicanal. De fato, as empresas localizadas em jurisdições onde os jogos de azar on-line são regulamentados e permitidos devem, sem dúvida, incorporar essa possibilidade de navegar nos canais digitais com sucesso. Quer dizer, não apenas abrindo um site e aguardando a chegada dos usuários, mas realizando uma proposta ativa de promoção da sua oferta digital combinada com a terrestre: uma oferta omnicanal bem desenhada e desenvolvida.
UMA OPORTUNIDADE DE PROMOVER REGULAMENTAÇÕES DE IGAMING
É evidente que dimensão ou tamanho são importantes. Por este motivo, deve-se ter em consideração que, para as empresas menores, existem opções que lhes permitem capitalizar o seu negócio terrestre nos canais digitais através de um acordo com um operador on-line terceirizado. Por outro lado, muitos grandes grupos de cassinos presenciais em jurisdições onde jogos de azar on-line não são permitidos, por exemplo, em alguns territórios dos Estados Unidos e da Ásia, também não podem lançar um canal on-line. Assim, está claro que esta situação criada pelo Coronavírus fará com que a indústria de jogos terrestres dos EUA aumente sua pressão sobre os legisladores federais para promover uma iniciativa que implemente a regulamentação do jogo on-line mais rapidamente. A abertura de casas de apostas esportivas nos EUA mostra aos operadores presenciais o valor de ter receitas extras que podem ser obtidas a partir de uma nova e diferente base de clientes, especialmente nos Estados onde o canal móvel é permitido. Eles podem até ver como 70% da receita vêm desse canal. É essencial definir e especificar um regulamento iGaming no âmbito federal (ou estado por estado). Algo semelhante poderia ser dito da região da Ásia-Pacífico, naqueles territórios onde jogos de azar on-line regulamentados não existem e a oferta offshore não regulamentada é válida por si só. Em geral, está comprovado que países que não estabelecem regulamentação para jogos de azar (presencial ou on-line) estão se beneficiando de ofertas não regulamentadas, estrangeiras ou ilegais. O regulamento deve ser equilibrado e completo, com a inclusão de políticas de jogo responsáveis (que impeçam o acesso de menores e pessoas vulneráveis) e a segurança para que os operadores possam desenvolver um negócio sustentável, social e economicamente transparente.
QUESTÕES A CONSIDERAR PARA DAR UM SALTO PARA O NEGÓCIO DIGITAL
Sabemos que a parcela da contribuição da iGaming para a economia global do jogo não ultrapassa 15% de sua receita bruta (GGR). No entanto, incluir o canal digital como uma nova divisão é essencial para qualquer empresa de jogos no cenário industrial atual. As empresas que já deram esse passo importante cresceram e capitalizaram sua posição como propriedades que alimentam seus negócios on-line. Naturalmente, cada empresa deve realizar um estudo e uma análise prévia das possibilidades de mercado antes de lançar uma vertical iGaming. É relevante relembrar que o jogo on-line representa um modelo de negócio diferente, exigindo algumas estratégias específicas para garantir a sua viabilidade. No segmento de jogos on-line, existem várias ‘ligas ou níveis’ em que um operador pode participar. A empresa deve saber qual é o nível adequado em que se inserir, para que sua estrutura e investimento se adaptem às possibilidades que cada negócio possui. No processo interno de uma empresa, pessoas com experiência e conhecimento do funcionamento e marketing do jogo on-line devem ser escolhidas para que possam fazer a avaliação correta e tomar as decisões cabíveis para avançar nessa sinergia. A estratégia de iniciar um negócio de jogos de azar on-line vai muito além da transferência de produtos e serviços de ambientes terrestres para digitais e móveis. Uma empresa deve levar em consideração todos e cada um dos aspectos que influenciam o início de um negócio sustentável. Caso contrário, ele falhará irremediavelmente. Do meu ponto de vista, noto negligência nas áreas de gestão de algumas empresas que, tendo todos os recursos para se deslocarem para o mundo on-line, não contemplam esta possibilidade. Faria sentido para eles planejar e executar uma estratégia precisa que lhes permitiria capitalizar o poder de suas propriedades terrestres e base de clientes para evoluir para uma oferta de jogos completa, cruzando canais digitais para apresentar um modelo omnicanal. De nada servirá simplesmente obter licença e lançar um site para vegetar, com as consequentes despesas operacionais que isso representa, sem qualquer retorno. Tenho certeza de que muitas operadoras presenciais já possuem uma oferta multicanal completa e outras estão em andamento. Porém, para quem não avançou nesta área ou está indeciso ou não acredita no modelo, eu os incentivo a analisá-lo de forma pragmática e tentar entregar uma proposta digital atraente aos seus jogadores.
TRANSFORMANDO UM CLIENTE PRESENCIAL EM UM CONSUMIDOR OMNICANAL
Nos últimos anos, cada vez mais consumidores optam por jogar on-line em diferentes dispositivos. Eles podem ser jogadores tradicionais de cassino, jogadores digitais ou aqueles que estão se tornando clientes omnicanal valiosos. Os consumidores de hoje (independentemente de sua idade) estão sempre ‘conectados’ por meio de um ‘terminal’ que está permanentemente com eles: seus dispositivos móveis. Esses jogadores devem ser um alvo prioritário para os operadores de jogo presencial. O crescimento do iGaming pode parecer lento em comparação com o dos jogos físicos, mas é constante e de forma alguma canibaliza ou substitui a opção terrestre. Os casinos e as salas de bingo presencial terão sempre um atrativo particular para os jogadores: a participação direta, o aspecto social de qualquer ambiente, os acessórios de lazer e entretenimento que completam a oferta e a emoção da experiência pessoal. Em suma, aqueles operadores de jogos físicos com dimensões e capacidades adequadas devem incluir a oferta iGaming para atingir um universo maior de consumidores e permitir-lhes contribuir para a difusão da marca. Transformar um cliente presencial em um consumidor omnicanal duplicará (ou mais) seu valor em termos de receita por cliente e favorecerá sua fidelidade a uma única marca disponível em dois canais complementares.