Por Anamaria Bacci, jornalista e tradutora da G&M News.
Você tem mais de 25 anos de experiência em esportes, produção de eventos e planejamento estratégico. Como você participou da criação da CBGE em 2019, entidade que você presidiu desde então? Que análise você faz desses dois anos de trabalho?
Meu histórico na participação, e até mesmo na coordenação, de candidaturas do Brasil para grandes eventos internacionais desde os Jogos Panamericanos Rio 2007 chamou a atenção das entidades de administração do desporto no Brasil, para a estruturação, primeiramente da Federação do Estado RJ de Esportes Eletrônicos (FERJEE), em 2015, com posteriores estudos para a legalização de uma Confederação Brasileira. Juntamente ao grupo de estados dispostos a iniciar este movimento organizado, legalmente constituído e reconhecido pelo Governo federal, iniciamos o planejamento da Confederação, nas bases da legislação brasileira, mormente a Lei Pelé. Com isto estabelecido, após extensivas análises e contatos no Brasil e no exterior, buscamos a abertura oficial da CBGE com o registro em março de 2019. Fui então, eleito presidente e podemos olhar para trás e termos a satisfação de ver o que já fizemos, com caminhos abertos e prospecção de futuro com muito otimismo. Como tudo o que é novo, leva um tempo de maturação. Procuramos investir nossa energia na estruturação dos estados afiliados, com foco no ‘Game para todos’: competitivo, social, educacional e inclusivo, no desenho de projetos incríveis e na busca de apoios públicos e privados nacionais e internacionais.
Qual o valor que você atribui ao reconhecimento e registro oficial concedido ao seu corpo pela Secretaria Especial de Esportes do Ministério da Cidadania (Governo Federal do Brasil)?
Este é para nós o mais importante reconhecimento nacional e até internacional, pois é resultado de um trabalho que desenvolvemos desde a fundação da CBGE e conseguimos atingir em junho deste ano. Demonstra que nossa capacidade técnica e de governança foi reconhecida pela instituição oficial do Governo federal responsável pela administração do desporto no Brasil.
Quais são os esportes eletrônicos mais populares do Brasil? Quais são as características dos brasileiros que jogam Esports?
O Brasil é o terceiro país do mundo em audiência e prática de videogames, segundo pesquisas divulgadas pela Newzoo. Isto demonstra o interesse do brasileiro em games e Esports. Temos vários jogos populares. Podemos destacar League of Legends, Free Fire, CS:GO, Valorant, Rainbow Six, FIFA, eFootball PES, PUBG Mobile, Street Fighter, Fortnite, e Pokémon, dentre outros. O brasileiro consumidor de games está na faixa etária de 16 a 25 anos, principalmente, e o interesse também se estende a outras idades (26 a 50).
Como está o país em termos de desenvolvimento de videogames e crescimento dos Esportes Eletrônicos? Que tipo de plano ou promoção o Estado brasileiro realiza, e como deve ser estimulado o investimento e a participação dos patrocinadores neste setor?
A prática dos Esportes Eletrônicos (Esports) no país cresceu muito nos últimos anos e continua a avançar, firmando-se como um dos segmentos esportivos que mais se expande entre as crianças e adolescentes. Apesar de ter uma relevância maior entre os jovens, também são praticados por adultos e idosos, homens e mulheres, despertando interesse em programadores e empresas do seguimento de tecnologia da informação. O Brasil é o décimo terceiro mercado mundial em termos de faturamento (US$ 1.5 bilhão), onde 59% da população online assiste e consome o conteúdo dos jogos. Com o advento de novas tecnologias, esse segmento tem sua relevância relacionada não apenas na geração de emprego e renda, mas também na vocação de promover inovações tecnológicas, além de fomentar a economia local e do um país como um todo, por meio do empreendedorismo, que permeiam esse novo nicho de mercado. Por estar se firmando no mercado e gerando atração dos mais diversos segmentos da economia, esses jogos que antes eram, apenas, uma brincadeira, hoje é um esporte que deve ser levado a sério. Os Esports causam impacto na sociedade, contribuindo para o estímulo do raciocínio, reflexo, planejamento, estratégia e, principalmente, da criatividade em seus praticantes. Além disso, ajudam a promover novas tecnologias. Um exemplo é o desenvolvimento de simuladores para treinamentos, que reduzem o risco de eventuais acidentes em treinamentos reais, sem contar o crescimento significativo do setor de entretenimento na economia. A participação do Estado reside justamente na importante função social, com grande preocupação na formação do indivíduo, contribuindo para aproximação do ser humano e o surgimento de novos líderes. Porém, ele também apresenta características da Manifestação Desportiva de Rendimento com o objetivo de participar e alcançar resultados nas competições de Esports, previstas no calendário nacional, das Federações Estaduais e da Confederação Brasileira, bem como no calendário internacional da Global Esports Federation. Os patrocinadores vão contribuir com seu suporte no desenvolvimento dos novos projetos, fixando sua marca, apoiando novos talentos e proporcionando o crescimento do ecossistema como um todo.
Sua entidade é membro da Global Esports Federation (GEF). Como foram incluídos na Federação? Que tipo de alianças no âmbito regional e pan-americano você acha que deveriam ser geradas para fortalecer a indústria no continente?
A CBGE teve a honra de ser convidada para, juntamente com alguns países, ser uma das Federações fundadoras da GEF, em dezembro de 2019. Encheu-nos de orgulho, pois, para nós, foi o reconhecimento de que estávamos no caminho certo. Hoje, o Brasil, participa das comissões da GEF, como a Comissão de Educação, Cultura e Juventude, Comissão de Saúde e Bem-estar, e participamos ativamente dos projetos em desenvolvimento das demais comissões, bem como na organização de eventos do portfolio da GEF, regionais e internacionais. Já temos aliança regional com quase todos os países sul-americanos, da América Latina e do Norte, e ainda por meio das relações institucionais da GEF, com vários dos 104 países membros. Apoiamos a nova PanAmerican Esports, organismo criado recentemente pela GEF para o desenvolvimento dos projetos nas Américas.
Como Membro da Comissão de Educação, Cultura e Juventude do GEF, qual a importância de dar um marco educacional, social e cultural ao universo Esports? Que convênios específicos o CBGE mantém com universidades do país?
Este é um trabalho que desenvolvemos com todo carinho. A educação por meio dos games é uma das missões da CBGE. A cultura é associativa aos projetos de Esports, com amplo aproveitamento pela juventude, a maior beneficiária. Neste exato momento, estamos com memorandos de entendimentos assinados e desenvolvendo projetos com universidades e com instituições que trabalham com projetos sociais. Apoiamos algumas iniciativas de organizações do terceiro setor com projetos em andamento no Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia, Sergipe, Santa Catarina e Paraná, com perspectivas de alcance nos demais estados nos próximos meses.
Nos últimos tempos, tem havido um aumento da violência e da discriminação durante torneios e chats em diferentes modalidades dos Esports. Como combater essas agressões e criar um ambiente saudável e inclusivo?
Várias iniciativas já estão em andamento. Por exemplo, com os regulamentos dos torneios sendo mais rigorosos, proibindo estas práticas nefastas, divulgando e apoiando medidas para minimizar tais tentativas, sendo pelas próprias plataformas de jogos, ou por denúncias dos demais participantes. É necessário um acompanhamento mais pontual pelos organizadores de eventos, bem como uma constante fiscalização para evitar tais abusos. É uma preocupação forte de CBGE, pois atingimos diretamente os praticantes dentro dos seus lares e temos que estar vigilantes e atuantes para combater práticas abusivas e violentas, proporcionando o melhor ambiente possível.
Quais projetos o CBGE tem em pauta para os próximos doze meses?
Após um evento presencial e histórico realizado em Foz do Iguaçu/PR, em outubro, onde selecionamos a delegação brasileira para participar em três modalidades (DotA 2, eFootball PES e Street Fighter 5), nosso calendário 2021 termina em dezembro no Global Esports Games 21, em Singapura. Para 2022, teremos a continuação da Liga CBGE (naming rights em tratativas finais de negociação), com várias modalidades, torneios sul-americanos, a seletiva para o Global Esports Games 22, a ser realizado em Istambul, e outros projetos em desenvolvimento com as Federações estaduais afiliadas. Em breve, anunciaremos nas midias sociais nossos eventos 2022, que serão abertos para toda a comunidade brasileira, possibilitando aos que se destacarem representar o Brasil nos torneios internacionais.