Por Anamaria Bacci, jornalista e tradutora da G&M News.
Como surgiu sua relação com os videogames? O que você jogava quando era menina? Que jogos te inspiraram muito? Qual era o seu videogame favorito?
Tenho três irmãos e tive a sorte de jogar videogame com eles durante a minha vida toda, mas também eu competia com eles pelo uso dos consoles, haha! Meus videogames favoritos são o Phantom System e Mega Drive. Eu gostava muito também de Megaman 2, Super Mario World e Sonic The Hedgehog.
Como foi criado o Pixel Ripped?
A minha inspiração veio de um sonho onde eu estava numa sala jogando videogame e o jogo que eu jogava ia mudando de gráficos para épocas posteriores, e também mudava a aparência da sala onde eu estava. Quando acordei refleti sobre aquilo, tive que olhar além da minha própria vida como jogadora desde o final dos anos ’80. Sendo uma garota com três irmãos e apenas um console, era difícil. O marketing de videogame era muito focado nos meninos e eu era a única garota brigando entre eles por ter algum tempo de jogo quando eles não estavam usando. Depois disso, compramos um Nintendo 64 e jogamos muito juntos. Como sempre, desfrutamos tanto desses momentos preciosos, então sempre guardei uma lembrança muito vívida de como os jogos eram naquela época. Além disso, uma forte inspiração para o Pixel Ripped 1989 foi o tempo limitado e a multitarefa. Durante a minha infância, era difícil ter tempo para jogar e só jogar. Sempre tinha que fazer outra coisa ou tinha um tempo limitado antes da chegada dos meus irmãos, escola, ou meus pais me chamavam para ajudar em algumas tarefas! A série evoluiu muito desde o início. Originalmente, no primeiro protótipo, o jogo era apenas sobre como vencer um videogame clássico. Um dia, um bug aleatório fez com que o sprite do personagem principal Dot saísse da tela para o mundo 3D. Quando vi isso de repente, parecia mais um feature do que um bug! E assim que um dos momentos mais especiais e surpreendentes do jogo surgiu, rapidamente se tornando um pilar importante e um conceito fundamental de toda a série.
Qual o motivo da escolha da estética retro? Que jogos eles procuraram homenagear e porque a razão para eles? Por que eles são históricos para você?
Pixel Ripped é concebido como uma série de jogos e tenho um lugar para todos os meus jogos e personagens favoritos. Lembro-me de antes mesmo de anunciarmos quais jogos iríamos fazer referência, os fãs conseguiram a maioria dos principais, como Zelda, Metroid, Castlevania, Star Fox, Ninja Gaiden, Alex Kidd, Super Ghouls ’n Ghosts e Donkey Kong.
O jogo usa o sistema de Realidade Virtual (VR). Que futuro você vê para essa tecnologia?
Realmente, queria criar um jogo que transportasse as pessoas no tempo pro passado, e a realidade virtual e a tecnologia que melhor permite fazer isso. Realidade Virtual veio para ficar e ainda mais agora durante a pandemia, se provou a melhor média para conectar as pessoas, tornando possível ficarmos mais próximos em momentos como esses de lockdown.
Segundo o portal especializado Metacritic, o jogo é considerado um dos melhores videogames de 2020. O que essa menção significa para você?
É realmente uma grande conquista para nós. Uma honra realmente estar ao lado de títulos como Streets Of Rage 4. Receber esse feedback positivo do nosso público é o melhor reconhecimento que um developer pode esperar.
Você planeja fazer uma sequência? Se a resposta for sim, que novidades você desenvolveria na nova edição? E quais jogos homenagearia?
Já lançados dois episódios, o Pixel Ripped 1989 é uma homenagem às máquinas de 8 bits como NES e Game Boy, e Pixel Ripped 1995 foi inspirado na guerra entre os consoles Nintendo vs SEGA da era 16 bits. Mas temos planejado outros três títulos para serem lançados na série. Cada episódio vai referenciar outros grandes marcos da indústria de games, como a Golden Age dos Arcades, era 8 Bits, Atari e primeiros consoles domésticos, Video Game Crash, o surgimento de jogos 3D, como Nintendo 64 e PlayStation 1 e a Internet.
De acordo com o seu Instagram, você é um cosplayer. Por muito tempo, o cosplay esteve ligado a mangás e animes. Qual é a razão para essa nova relação entre cosplay e videogame?
Quando projetei Dot, a personagem principal de Pixel Ripped, decidi que ela se tornaria a personagem de videogame mais durona que eu poderia fazer. Ela representaria todos aqueles heróis que cresci jogando e que sempre sonhei em me tornar. Eu fui muito além desse sonho e até me tornei Dot por fazer cosplay da personagem dela em eventos, é uma forma que tenho de interagir com os fãs e também com o resto dos desenvolvedores, para personificar a minha personagem do jogo.
Você também é uma criadora e inovadora. Historicamente, os videogames eram relacionados com homens. Você percebe que atualmente há mais mulheres nos videogames e que elas têm mais reconhecimento? Existem mais espaços para elas, tanto jogadoras como criadoras?
Tudo que consigo lembrar da minha infância são jogos com fortes protagonistas masculinos. E eu tive essa frustração crescendo, de nunca encontrar bons jogos com fortes protagonistas femininas. Meu objetivo é inspirar meninas ao redor do mundo a correrem por seus sonhos e se tornarem líderes em suas áreas. Pensava que quando eu crescesse, gostaria de ter mulheres mais fortes para admirar, alguém para seguir que não fosse uma figura masculina. Acredito que, se continuarmos com o trabalho árduo, poderemos provar ao mundo que as mulheres são relevantes para o setor, lançando grandes criações e fazendo história. Uma história que vai inspirar essas meninas a se tornarem líderes também no futuro. Em uma mídia tão nova como VR/AR/XR e tantos ‘Rs’ por vir que nem podemos imaginar, precisamos de inovação para romper e realmente mudar o que esta indústria pode se tornar no futuro. Trazendo variedade em gênero, experiência, disciplinas, pode aumentar as chances de inovação na direção certa. Estamos em um oceano azul agora, onde, para tirar o máximo proveito da caixa, o melhor que podemos nos tornar. Toda essa variedade de visões que mulheres, trans, gays e homens podem trazer juntos só aumentará nossas chances de sucesso. O grupo minoritário em qualquer setor geralmente luta para ser aceito. Podemos começar ajudando as pessoas ao nosso redor, mostrando-lhes apoio e reconhecendo seu trabalho árduo. Ao capacitar mulheres, transexuais e gays ao nosso redor, podemos ajudar essas pessoas a se tornarem mais confiantes e bem-sucedidas, inspirando outras pessoas a também se juntarem a esta indústria e ajudá-la a se tornar um ambiente mais diversificado e acolhedor. O grupo do Facebook “ARVR Women And Allies” tem sido a minha escolha ao procurar apoio e compartilhar experiências com outras mulheres da indústria.
Pra fechar, que tal um rápido ping-pong?
Vamos, vai ser divertido!
Um livro?
Ready Player One.
Um filme?
Back to the Future.
Um jogo?
Megaman II.
Um esporte?
Volei.
Música preferida?
‘Sultans of Swing’, a música dos Dire Straits.
Um mentor/a, alguém que você admira?
Lady Gaga.
Um perfume?
Egeo Dolce, by Boticário.
Um lugar para morar?
Beaconsfield, interior da Inglaterra.
Um lugar para veranear?
Barreirinhas, Lençóis Maranhenses.
Um lugar para comer?
Gyu-Kaku Japanese BBQ.
Uma comida?
Isca de peixe com farinha d’água e vinagrete.
Uma bebida?
Snakebite.
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