Por H. B. Ducasse, analista.
Não é novidade dizer que o Big Data está transformando o mundo dos games e das apostas, incluindo os próprios apostadores e a sociedade em geral. Somos sistemas e subsistemas de rede que compartilham informações, com ou sem consentimento, e deixamos rastros a cada clique, a cada dispositivo, a cada cúpula de rua. Para muitas empresas, o desafio é aprender a ler essas informações, fazer as perguntas certas para transformá-las em outros dados, analisá-los, procurar padrões, probabilidades e novos produtos e públicos. Assim, Big Data é uma abordagem comum e necessária no universo dos jogos. Os pesquisadores de mercado, é claro, são etnógrafos digitais que, a julgar pelos resultados, são melhores no manuseio de ferramentas do que muitos perturbados cientistas sociais.
APLICANDO MODELOS CIENTÍFICOS
Agora, para que serve o Big Data em jogos? Para melhorar seus produtos, selecione temas, gêneros e antecipe tendências em jogos futuros. Além disso, para gerar campanhas que promovam o non gaming. Trata-se de reunir informações que contenham feedback, estatísticas, cálculo de probabilidades e previsibilidade. Comunicação e matemática se sobrepõem nessa mudança de paradigma que, sem dúvida, afeta também o universo do jogo em todas as suas variantes. Tem a ver com o que Galileu argumentou, que “não vamos entender o universo sem primeiro aprender sua linguagem, a da matemática”. De gigantes como Netflix, Amazon, Google, Disney, Microsoft a pequenas empresas cruzam dados e algoritmos. Este é um exercício comum, um jogo e uma aposta em si, que se torna cada vez mais precisa.
Essa prática é tão comum que se espalha para qualquer jogo. Lembremos, se não, o efeito em cascata que a estratégia “Moneyball” teve no mundo do beisebol e do futebol. A história se tornou conhecida pelo filme Moneyball: O Homem que Mudou o Jogo, no qual Brad Pitt interpreta Billy Beane, gerente do Oakland Athletics, um time de beisebol que contrata jogadores com base em estatísticas e probabilidades. Mais do que nomes e figuras, a equipe embasa toda a sua montagem e até trabalha movimentos, punções e estratégias seguindo data science. No futebol, times como o Barnsley na Inglaterra e o Porto em Portugal colocam esse modelo em prática. Então, por que não pensar nesse fenômeno das apostas esportivas? Quais estratégias de apostas podem ser adaptadas a este modelo a partir dos dados? Se houver Big Data no campo de jogo, é sem dúvida aplicável no iGaming também.
PROCURANDO ATRAIR OS JOGADORES
Seguindo essa linha de pensamento, o Big Data é crucial no desenvolvimento de jogos mediado pela tela. O tempo online dos jogadores é monetizado nesta grande batalha por atenção. O Big Data ajuda a saber quando a publicidade é agressiva, excessiva e também a testar as emoções dos jogadores. Por isso, as empresas utilizam esses dados para o ‘pós-jogo’, oferecendo entretenimento e produtos de consumo no mundo online e offline. Da mesma forma, ter dados derivados de medir, prever e rastrear o comportamento dos jogadores permite melhorar sua experiência, saber o que e quanto oferecer; essa é a melhor maneira de chamar a atenção deles. Ninguém desconhece que, por exemplo, uma série do Netflix ou uma compulsão da Amazon apelam parcialmente à psicologia do jogo e das apostas. Também não se ignora que as empresas estão tentando trazer seus modelos de negócios por assinatura para todos os segmentos de entretenimento.
Existem os serviços de assinatura de conteúdo Xbox Game Pass, da Microsoft, e Arcade, da Apple. A propósito, em setores como cinema ou música, existe o risco de essas empresas se tornarem balcões únicos. Dessa forma, o Big Data ganha força e representa uma ferramenta fundamental para a defesa do know-how em um ecossistema online em que grandes plataformas -verdadeiras donas do Big Data- ameaçam monopolizar o tempo de atenção dos usuários.
Este ponto é especialmente relevante para gaming, onde a oferta é mais rica e abundante. Para atrair jogadores evasivos, jovens, exigentes, em um setor muito competitivo, as operadoras usam grandes quantidades de dados para melhorar seus sites, a variedade de jogos, seus bônus e promoções. Há sofisticação nesses mecanismos. Além disso, existe uma ligação crescente entre Big Data e Inteligência Artificial para segmentar públicos e adaptar formatos de acordo com o dispositivo, linguagem, habilidades e experiências do usuário. Em uma crescente convergência entre jogos presenciais e online, onde tudo é omnicanal e personalizável, essas ferramentas serão suficientes para impulsionar os negócios? Quais serão os próximos passos para as empresas? Como os consumidores responderão? Tudo resta para ser visto em um futuro incerto em que os jogadores são cada vez menos anônimos e mais ‘mensuráveis’.