Por Anamaria Bacci, jornalista e tradutora da G&M News.
Que aspectos você destaca da sua gestão de 15 anos no casino? Que aprendizado obteve desde o início até hoje?
Sou Diretor do Serviço de Jogos (gaming manager) deste casino desde 2006, e posso afirmar que, ao longo desta década e meia, tem sido uma aprendizagem constante. É uma área de negócio que não é estática nem linear. Existe a necessidade de acompanhamento das novas tendências das gerações que vão entrando no mercado de trabalho e, por sua vez, que nos visitam pela primeira vez. Existe uma necessidade de estarmos atentos às apetências pelas novas gerações e tecnologias, e associar as mesmas a área de jogo. Tambem, de analisar a evolução macroeconômica do país, e a tendência dos indicadores de consumo das famílias. Somos pioneiros na disposição do Lay Out das salas de jogos, indo ao encontro das necessidades cognitivas dos jogadores, com espaços físicos segundo suas características e aspirações em relação aos jogos disponíveis. O nosso casino é uma referência no âmbito nacional por sua história e pela beleza das nossas salas de jogos e de espetáculos. Isso nos acresce de uma maior responsabilidade na oferta de produtos que respondam às expectativas dos clientes que nos procuram.
Que mudanças o mercado passou nesse período de quinze anos?
Nesses quinze anos, já passei por uma crise econômica de 2009-2011 que afectou a Europa e Portugal, particularmente. Não foi alheio à mesma, uma vez que teve a necessidade de um resgate financeiro pelo FMI. Por último, a pandemia que até aos nossos dias é uma realidade. O número de casinos no mercado aumentou neste período, com a abertura de quatro novos casinos em Portugal, Lisboa, Chaves, Troia e Açores. O jogo online é um forte concorrente dos casinos físicos e, com a pandemia, registaram um grande crescimento. Com o surgimento do Euromilhões e das raspadinhas, com cerca de cinco mil postos de venda da Santa Casa da Misericórdia, tem sido igualmente um deslocamento de receitas dos casinos para estes jogos. Apenas para ter uma dimensão, o negócio das raspadinhas gera o triplo de receitas que todos os casinos físicos juntos.
O casino online cresceu exponencialmente durante a pandemia. Como isso o afetou?
Era de se prever que o jogo online tivesse um avance, mesmo antes de haver a pandemia. Esta apenas veio antecipar e acelerar esse crescimento. A recuperação pós-pandemia do deslocamento de clientes dos casinos físicos para o jogo online vai depender de como os casinos físicos irão conseguir criar argumentos e atraentes, que justifiquem ao cliente deslocar-se em detrimento de ficar em casa no seu conforto.
Como você manteve a comunicação com seus clientes durante o fechamento e reabertura pós-pandemia? Como foi o trabalho de acordo com os protocolos de saúde e segurança?
A comunicação neste período é, sobretudo, digital através das redes sociais nomeadamente, Facebook e Instagram, bem como e-mail e sms. Foram igualmente implementados vários protocolos de segurança sanitária e ações de formação a todos os funcionários, para que os clientes que nos visitam sentissem segurança e permanecem mais tempo dentro dos nossos espaços. Tivemos que reduzir a disponibilidade das slots em cerca de 40% do parque para cumprir as medidas de distanciamento. Nos jogos tradicionais, a diminuição variou entre os 50% e os 66%. O resultado destas medidas até à data foi favorável. Nenhum funcionário ficou infectado, não afetando a atividade da empresa. Os inquéritos de satisfação feitos por nossos frequentadores são bastante positivos.
Quais fatores afetarão a recuperação de nível de atividade e receitas que casino tinha antes da pandemia? Há um plano em vigor?
A recuperação da actividade para os níveis que tínhamos antes da pandemia vai depender de como os países vão se adaptar a conviver com este vírus. Quanto mais depressa for essa adaptação e a normalidade do nosso cotidiano for uma realidade, mais depressa chegaremos a esse nível. Temos vários projectos em desenvolvimento e alguns em stand by. No entanto, devido às constantes medidas restritivas que temos sofrido ao longo dos últimos meses, com dois encerramentos, limitações de horário e de oferta ao cliente, estes estão a condicionar todos nossos planos. Temos que aguardar pela normalidade da actividade e evolução da pandemia para podermos definir os timmings da implementação dos projectos.
Você poderia descrever as características dos jogadores portugueses? Quais jogos eles preferem e quais são as demandas que eles têm dos operadores?
As características dos jogadores portugueses não diferem muito das restantes características dos jogadores europeus. Conforme já mencionei num dos pontos atrás, geramos um Lay Out, num conceito que vai ao encontro da tipologia de vários jogadores baseado num estudo do neurocientista Dr. Hans-Georg Hausel, sobre resposta sensório-motora, cognitiva e afetiva dos consumidores a estímulos de marketing. Os casinos atraem diferentes categorias de visitantes, cada uma delas com especificas expectativas e motivações, dependendo da sua personalidade. Cada uma delas tem influência na forma como jogam e frequentam as nossas salas de jogos. Em função da personalidade da amostra efectuada, este estudo ajuda a identificar pela personalidade de cada tipo de jogador a sua apetência e a sua zona de conforto nas salas de jogos. Este tema é bastante interessante e demoraria algum tempo explicar detalhadamente o conceito que implementamos, no entanto, serve para ficar com uma ideia de que nada é descorado na análise e nas preferências dos clientes que visitam os nossos espaços físicos.
Quais são os objetivos a serem cumpridos para 2021, bem com os novos projetos para os próximos anos?
O que ansiamos para 2021 é que seja um ponto de viragem para o regresso à normalidade, para colocarmos em prática todos os nossos projectos que estão em stand by. Temos igualmente a renovação da concessão, que tem sido adiada ano após ano, devido à pandemia, o que nos deixa num limbo de alguma incerteza para o futuro. Estamos confiantes na renovação da concessão e no regresso da normalidade.
Acha que o Brasil deveria regulamentar o jogo de uma vez por todas? Por quê?
Um dos objectivos do jogo regulamentado em Portugal é a proteção do cliente e a transparência desta actividade com os jogadores. Por outro lado, os benefícios fiscais que o Estado acarreta podem ser investidos em iniciativas sociais e investimentos públicos necessários à comunidade. Por estas razões, sim vale a pena o Brasil regulamentar o jogo.