Fui convidado para escrever algumas palavras para uma comunidade que me diz muito. Na Latam, eu cresci como apostador; lá eu aprendi em antigos Grupos e Fóruns algumas das lições primárias do que é ser apostador, há mais de 15 anos, e por isso sinto-me em dívida para com esta comunidade.
E hoje tudo mudou. A Latam está a par de África a ter o maior crescimento quanto a operadores. Temos os reguladores locais a fechar muitos dos mercados, dificultando não só o acesso das operadoras que pretendem manter se no chamado ‘Black Market’ como, sobretudo, impondo regras e criando uma indústria que nos próximos anos irá certamente desenvolver se em toda a sua dimensão. Também houve uma evolução nos provedores e players latino-americanos. Seja via marketing ou como sindicalizados, alguns poderão extrair uma renda maior, em um mercado cada vez mais atraente e lucrativo.
O DESAFIO DO CONHECIMENTO
Há um ponto que me parece ter uma importância fulcral para que o mercado cresça e se mantenha totalmente autónomo, pelo menos consistente. Refiro-me ao grau de conhecimento do apostador, e o target onde o mesmo pretende partilhar a sua liquidez com o mercado.
Para muitos, esta última afirmação parecerá extremamente complexa. Terá de ser dividida para fazer sentido. Vou penas para salvaguarda futura separar a Latam em dois fenómenos que considero completamente distintos no nível dos apostadores: por um lado, vou situar Brasil e, por outro, colocarei países de língua espanhola, como Argentina, Uruguai, Bolívia, Chile, Equador, Colômbia, Venezuela e Paraguai.
MERCADO INTERNO X MERCADO EXTERNO
Vamos ao ponto em questão. Do lado dos apostadores latino-americanos, vejo um fascínio total e obsceno pelo que não é deles. Este é um erro fundamental quando se pensa em potenciar e cimentar um mercado de apostas equilibrado na Latam. Desde os mais (profissionais e semiprofissionais) ao menos experientes, o modelo que impera é basicamente copiar o que é feito no âmbito europeu, seguir as ligas e as equipas desse âmbito. Encontrar uma notícia que pensam (erradamente) que ainda não está devidamente precificada na linha de aposta, e com base num salto de fé, colocar a stake muita das vezes em planos de flat stake numa qualquer casa de referência mundial e registar uma aposta no Blogabet ou no Tipstrr para, mais tarde, vender um serviço a apostadores europeus. Afinal, qualquer serviço de £30 a £40 será barato num contexto Europeu, mas representará um bom encaixe nos principais países que compõem a Latam.
Basta fazer uma simples busca para descobrir que a maioria dos registos dos apostadores latino-americanos está focada no “exterior”, enquanto o Brasil atua principalmente no mercado “interno”. A verdade é que, com este sistema, os apostadores estão claramente colocando dinheiro numa Pool onde sindicatos e outros apostadores competem com melhor e mais rápido acesso às informações. Além disso, os mercados locais estão ficando órfãos de liquidez. É muito menos provável que um apostador ou Sindicato Europeu aposte em uma linha em uma partida de futebol no Chile do que um apostador chileno nos resultados da Série A italiana.
MAIOR LIQUIDEZ, MAIOR EFICIÊNCIA
Sabemos que a liquidez é sinônimo de eficiência, ou seja, quanto maior o grau de liquidez de um mercado, maior certamente será seu nível de eficiência e, como tal, maiores as chances de obtenção de vantagens comparativas. Isso pode ser visto ao observar os jogadores em um mercado local da América Latina em relação aos mercados sobrepovoados de Sindicatos e de apostadores profissionais naquele continente.
Vou explicar para você de outra maneira. Se uma aposta é um ponto de informação, muitas apostas são muitas informações. As casas de apostas compram dados (de todos) por meio das linhas de informaçaõ de mercado. Em mercados de alta liquidez, por exemplo, uma aposta de €10.000 em qualquer casa representa pouco ou nada para aquele mercado, especialmente em dias de jogos. O que acontece em uma Liga Regional, no Paraguai, Chile ou Uruguai? Também será assim?
Quando falamos de apostadores profissionais, ou daqueles que aspiram a ser, é necessário ter em conta em que medida a sua própria actividade e o mercado permitem que se tornem verdadeiros profissionais. Para tal, é fundamental que a atividade de apostas seja “escalável”, ou seja, que permita que os apostadores utilizem os seus mercados locais para aumentar o seu volume de apostas à medida que vão obtendo lucros. Portanto, um mercado de baixa liquidez não será escalável. Ou seja, não apostar em ligas locais vai contra o desenvolvimento do próprio jogador e reduz a dimensão do mercado a médio e longo prazo.
A CONSCIÊNCIA DO APOSTADOR
Temos que estar atentos que cada vez que apostamos, não é só a casa de apostas que compete contra nós. Principalmente, estamos competindo contra outros apostadores no mesmo mercado, na mesma linha e pelos mesmos preços. Quero dizer que apostar é uma corrida entre apostadores para apostadores para encontrar o valor disponível e agarrá-lo antes que qualquer outro o faça.
O executivo americano do Morgan Stanley, Michael Mauboussin, escreveu muito sobre o ‘Paradoxo da Habilidade’. Isso nos obriga a pensar sobre por que é cada vez mais difícil obter sucesso a longo prazo. Vou citá-lo aqui: “Quanto mais o nível de habilidade de todos for o mesmo, mais se espera que a quantidade de retornos excedentes para os gerentes financeiros diminua”.
Esta colagem mistura a maioria dos jogadores da Latam com as principais competições e ligas que acontecem em outras regiões (Champions League, BIG FIVE Championships de futebol). Ao fundo, aparecem as Ligas Nacionais de cada país latino-americano. Alguém realmente acha que um apostador do Caribe ou da Colômbia será mais eficiente numa Liga de Alta Liquidez, onde Sindicatos e operadores altamente eficientes prosperam? Que sentido fará para um Tipster uruguaio buscar valor em mercados como a Champions League na Europa?
DÚVIDAS E CONCLUSÃO
Na hora do balanço, podemos nos fazer algumas perguntas. Será que se as apostas forem desviadas para a liquidez das Ligas e Desportos Nacionais, estaremos ajudando a cimentar um mercado de apostas localmente eficiente? Como os operadores são forçados a competir por informações para atrair apostadores?
Para terminar este artigo e deixar um tema para debate, é importante que, para ser profissional, um apostador verifique e compare as informações de todas as casas de apostas a que tem acesso. Quanto maior for o número de “outs” ou “saídas” para comparação de preços e linhas, maior será o espectro e a possibilidade de ganhar. Esta possibilidade real de comparação de ofertas fez com que alguns operadores locais esperassem pela informação (apostas) e se deixassem dormir no mercado (linha de aposta). A coisa certa a fazer seria eles começarem a controlar e dominar o que acontece em seus mercados e regiões. Também será fundamental tentar criar mercados e pools de liquidez onde os mais eficientes possam prosperar localmente. Quem conquistar essas vantagens poderá aproveitar as oportunidades que se apresentam.