Por Leticia Navarro, jornalista da G&M News.
Como você vê a transformação digital no compliance, e quais benefícios ela possibilita na gestão de riscos no setor iGaming?
Na minha opinião, a transformação digital do ponto de vista de Gestão de Riscos e de Compliance é uma grande aliada e, ao mesmo tempo, um grande desafio. Desafio porque ela proporciona maior agilidade, escalabilidade aos negócios e tudo isso num ambiente mais conectado. Quando falamos de um ambiente conectado, pensamos no volume de dados que está sendo transitado nesse ambiente. Então nesse sentido, o grande desafio de Compliance e da Gestão de Riscos, oriundo dessa transformação digital, é garantir que as empresas tenham segurança na captura desses dados, no tratamento, no uso, e que atuem em conformidade com a lei. Me refiro principalmente a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que requer todo cuidado, tratamento, para que não ocorra o mal uso ou vazamento dessas informações, pois são informações extremamente importantes. Trata-se de informações pessoais, dados pessoais, transacionais, financeiros de clientes. Isso tem que ser guardado a sete chaves. Por outro lado, quando falo que ela é uma grande aliada de Riscos e Compliance, por que eu digo isso? Porque esses dados podem ser utilizados de uma forma inteligente pelas equipes de Riscos e Compliance para que se trace comportamento de usuários, de clientes, para assegurar a idoneidade de nossos parceiros. Quando fazemos a conexão com um parceiro, usamos dados para verificar, fazer o KYC, ver se essas pessoas são idôneas, se esse parceiro tem algum fato ou alguma questão que não seja positiva para que a gente se conecte a ele. Dessa forma, o Compliance e Riscos, com base na análise efetiva e objetiva desses dados, pode criar controles e monitoramentos que nos deem essa visão de efetivamente uma Gestão de Riscos. E por que essa Gestão de Riscos? Porque precisamos olhar do ponto de vista antifraude, prevenção à lavagem de dinheiro, e outros atos ilícitos. Então ter um rastro, dado transacional e financeiro de um cliente, nos permite traçar um comportamento padrão dele. Todos aqueles que saiam desse comportamento padrão vai ser analisados de uma forma um pouco mais detalhada, para a gente ter certeza de que as instituições ou as empresas não estão sendo usadas como ponte para crimes financeiros ou qualquer ato, que não seja um ato lícito. Do ponto de vista do iGaming, isso é muito benéfico, porque ao mesmo tempo que as empresas podem usar a transformação digital para proporcionar experiência ao cliente, que hoje é um diferencial (o UX é um diferencial das plataformas), eles podem usar esses dados para acompanhamento, monitoramento, evitando situações que possam prejudicar seus negócios.
O Brasil é um dos principais países em usuários que mais acessam sites de apostas no mundo, e isto significa grande volume de dados para as empresas do segmento iGaming. Como a Pay4Fun gerencia esta quantidade de informações para identificar riscos de fraude e políticas de jogo responsável?
A Pay4Fun hoje atua como instituição de pagamento, intermediando o pagamento entre clientes, pessoas físicas e as plataformas de Gaming. De fato, temos uma grande quantidade de dados, desde o momento em que o cliente se cadastra com a gente. No primeiro contato que ele faz com a Pay4Fun, onde informa CPF, nome, data de nascimento e depois num cadastro mais completo, onde ele nos dá todos os dados pessoais dele, além dos dados transacionais que a gente captura, utilizamos estes dados para validação de identidade, de regularidade do CPF, se não é um CPF atrelado a um óbito. Então isso vai de encontro à antifraude, ou seja, aquela pessoa que está nos encaminhando estes dados é efetivamente o dono desse dado, é o titular deste dado, e assim validamos os dados do documento, selfie, prova de vida. Outro importante diferencial da Pay4Fun é que validamos a titularidade nas transações, ou seja, através do uso de dados, asseguramos que os pagamentos realizados por uma pessoa efetivamente são para pagar ou receber das plataformas em contas da mesma titularidade, não tendo aí um risco de transação de pagamentos para terceiros, o que reduz ainda mais a questão de antifraude. Do ponto de vista de jogo responsável, o uso de dados nos permite que a gente não processe pagamentos para menores de idade, além de outras questões na atuação do jogo responsável, conseguimos contribuir com esse viés.
O uso da Inteligência Artificial é um caminho sem volta em inúmeros processos empresariais, e obviamente também chegou ao setor de jogos e apostas. De que formas a IA contribui e como ela é utilizada na Pay4Fun?
Usamos a IA para auxiliar na visão estratégica da empresa, ações de marketing e na gestão de riscos. Alguns exemplos: a) detectar e prevenir fraudes na abertura de conta de clientes e em transações financeiras; b) traçar comportamento de clientes e criar parâmetros para monitoramento e análise de transações, para prevenção a lavagem de dinheiro e demais crimes financeiros; c) ações de marketing personalizadas, segmentando bases e ofertando produtos e serviços, e d) mecanismo de segurança (cibersegurança).
Uma nova tendência no segmento de apostas atualmente é a implementação da IA por parte de apostadores para analisar melhores oportunidades e palpites nos jogos. Quais os prós e contras do uso deste recurso tecnológico por parte dos apostadores, em sua visão como especialista na Gestão de Riscos?
Ainda que a Pay4Fun seja uma instituição de pagamento e não operadoras de jogos/apostas e porque não acompanhamos a questão do uso de algoritmo ou qualquer ferramenta usada por apostadores. Acredito que, como os algoritmos têm a capacidade de interpretar dados históricos, identificando padrões que, eventualmente humanos não tenham capacidade, o seu uso traz agilidade e otimiza o tempo de análise ou automatiza a tomada de decisão do apostador. Isso permite que o apostador tenha previsões mais precisas, o que poderia derivar em resultados nas apostas. Do ponto de vista de riscos, é importante que assegurem que os algoritmos utilizados sejam neutros e não apresentem enviesamento de resultados, o que pode acontecer em caso de algoritmos elaborados de origem desconhecida. Sempre deve se-lembrar que utilizá-los reduz a análise e tomada de decisão humana o que, na minha opinião, é de extrema importância.
Qual sua perspectiva quanto ao mercado brasileiro, comparado a outros países já regulamentados no setor iGaming, e já com um histórico na Gestão de Riscos/Compliance? Existe alguma inovação nesse sentido que pode ser detectada, ou mesmo medidas que a Pay4Fun tem em vista após a regulamentação dos jogos e apostas no Brasil?
Sou bem otimista quando se trata da regulamentação dos jogos e apostas no Brasil. Na minha opinião, não há cenário melhor para um setor quando há regulamentação que dita regras e diretrizes, trazendo transparência e segurança a todo o ecossistema e acredito, sim, que precisamos deste cenário no Brasil. O setor de jogos e apostas esportivas ainda é visto como “High Risk” e o grande motivador é a falta de regulamentação específica, o que traz dúvidas e inseguranças. Com relação a Pay4Fun, desde que iniciamos nossa operação, nos preocupamos em desenhar processos e criar uma estrutura de gerenciamento de riscos robusta para, justamente, prestar um serviço de qualidade e ofertar segurança a nossos clientes e parceiros. Desde o início, estamos preparados para isso, inclusive, justifica sermos a primeira Instituição de Pagamento autorizada pelo Banco Central que atua com iGaming. A autorização Bacen chancela nossa estrutura de gerenciamento de riscos, incluindo as melhores práticas de prevenção à lavagem de dinheiro, antifraude, cibersegurança, nos permitindo prestar serviço com qualidade, agilidade e segurança, unindo tudo isso à experiência do cliente. Com a regulamentação, vamos ampliar nosso escopo para novas diretrizes que sejam apresentadas especificamente para o setor, e que sejam cabíveis a pagamentos, caso as mesmas já não estejam contempladas em nossa atuação.