Outro dia, eu estava sentada em um Uber a caminho de um casino local com o objetivo de fazer uma pesquisa de campo. Um jovem motorista de vinte e poucos anos estava me provocando porque eu já iria ao casino no meio do dia. Eu ri e expliquei a ele que trabalharia na indústria do jogo. Então, Marc, seu nome, me contou vividamente uma história sobre quando ele ganhou muito dinheiro com uma slot simplesmente apertando um botão sem nem mesmo inserir dinheiro. Aparentemente, a persona que havia jogado na máquina antes dele não usou todos os seus créditos.
No mesmo instante, ele sentiu que precisava enfatizar que não jogaria, em geral. Não. Ele encontrou uma maneira muito melhor de ganhar dinheiro usando um ótimo aplicativo no Telegram. Lá, ele recebia mensagens a cada dois minutos com dicas de quais itens comprar e vender. Ele continuou detalhando quanto dinheiro havia ganhado em cada período de tempo, aparentemente sem nenhum esforço. Em sua opinião, com um pouco de prática, não havia risco, mas apenas feliz win/win. Aqueles que estavam enviando as dicas não fariam outra coisa senão monitorar os mercados financeiros. Eu escutei com atenção, fiz algumas perguntas, pedi que ele me mostrasse o aplicativo e pensei que alguém calculando probabilidades em que outros colocariam dinheiro me parecia bastante familiar.
Novamente, em outro dia, recebi uma ligação de um headhunter me perguntando sobre minha disponibilidade para trabalhar com uma empresa de jogos baseada em blockchain. Não seria realmente um jogo de azar, pois os jogadores também poderiam participar de torneios de graça e ganhar prêmios incríveis. Nenhum dinheiro envolvido. Procurando mais detalhes no site, notei que, para ter sucesso nos torneios, ajudaria muito comprar cartões de jogador de futebol. Quanto melhores eram os jogadores, mais caros ficavam os cartões. Sem dinheiro envolvido? Talvez, não no sentido clássico.
Por boas razões, o regulador de jogos de azar do Reino Unido, um dos reguladores mais avançados do mundo, enfatizou repetidamente a necessidade de lidar com produtos de negociação (não necessariamente pelo UKGC, pois não é jogo como é entendido hoje), como tokens não fungíveis ou moedas criptográficas. Isso ainda mais, pois na negociação, e principalmente quando os ativos criptográficos estão envolvidos, as flutuações de valor podem ser vistas como um risco adicional. Perseguir perdas é uma das questões críticas quando falamos de problemas de jogo. Quando, de repente, um ativo criptográfico perde valor, esse é mais um motivo para continuar apostando. Além disso, o Primeiro-Ministro francês emitiu recentemente um decreto que obriga os operadores a identificar os clientes antes de usar ativos digitais.
NOVAS TECNOLOGIAS E PRODUTOS REVOLUCIONAM A INDÚSTRIA
Por que eu menciono tudo isso? A partir dos exemplos acima, percebe-se a rapidez com que a cena do jogo está mudando hoje em dia e com que as linhas entre jogos de azar, gaming ou trading se confundem. Somos confrontados com uma gama completa de tecnologias avançadas e novos produtos: AI, realidade mista ou metaverso estão ganhando velocidade graças ao 5G; ativos e moedas criptográficas estão se tornando cada vez mais comuns e acessíveis devido às trocas de criptomoedas; nova legislação da UE cria confiabilidade na esfera criptográfica. Esportes virtuais, fantasy sports, crash games, aplicativos de negociação, loot boxes ou slots baseados em habilidades atraem, em particular, as gerações mais jovens de clientes. Enquanto isso, o jogo móvel é mais proeminente do que o jogo no laptop.
Não é fácil acompanhar esta grande quantidade de desenvolvimentos, mas é inevitável fazê-lo. Claro, é muito importante revisar e aprimorar as regulamentações existentes ao longo do caminho, analisar dados e deduzir recomendações, avaliar diferentes formas de publicidade, incluir ferramentas que detectam jogos prejudiciais. Devemos ter em mente, no entanto, que enquanto novos produtos não têm nenhuma regulamentação, também não haverá proteção alguma, mas, em vez disso, um novo mercado negro paralelo estará se desenvolvendo. Além disso, esses produtos são usados principalmente pelas gerações mais jovens, aquelas que têm maiores riscos de desenvolver comportamentos prejudiciais, como muitos estudos e pesquisas já mostram.
MANEIRAS DE ENFRENTAR O DESAFIO DE ACELERAR A INOVAÇÃO
Então, o que seria razoável fazer? Bem, pode valer a pena considerar trabalhar em um conceito de como abordar novas tecnologias e produtos, e não necessariamente apenas na indústria de jogos de azar. Nosso mundo está se movendo em um ritmo tão acelerado que a legislação, muitas vezes, encontra-se vários passos atrás do que está acontecendo.
Para esse efeito, as autoridades reguladoras podem precisar de funcionários ou departamentos dedicados que monitorem os desenvolvimentos e antecipem o que deve ser feito a seguir. Para estabelecer marcos regulatórios aprimorados e ampliados, seriam necessários dados de pesquisa baseados em evidências. Mas como criar dados rapidamente com novos setores? As pesquisas podem ser um ponto de partida, seguidas pela análise de dados empíricos.
Além disso, seria essencial prever uma legislação primária que apenas regulamentasse elementos muito básicos e que permitisse acrescentar decretos e portarias com facilidade e rapidez. Por exemplo, pode-se até definir em quais períodos regulares tais decretos serão emitidos para dar aos operadores uma melhor autoridade de planejamento e preparação. Mas tais decretos, novamente, precisariam de ajustes regulares depois que dados adicionais estivessem disponíveis. As revisões devem ser planejadas e executadas, o que me traz de volta ao pensamento de montar um conceito bem refletido e uma estratégia que antecipa as mudanças.
Setores movidos pela tecnologia só podem ser abordados quando um ajuste constante da legislação é possível e feito. Somente antecipando os desenvolvimentos e reagindo a eles em tempo hábil, a proteção do jogador se tornará realmente abrangente e eficaz, deixando cada vez menos espaço para evasões.
Alinhamentos entre jurisdições terão que se tornar um padrão comum. Projetos conjuntos, reuniões e intercâmbio de dados de pesquisa seriam extremamente úteis quando novas estruturas tivessem que ser criadas. Para este efeito, uma atitude colaborativa entre indústrias, governos e fiscalização parece inevitável se alguém quiser atingir o mesmo objetivo: a melhor proteção para os clientes.