Por Leticia Navarro, jornalista da G&M News.
As receitas de jogos online têm crescido a níveis de dois dígitos ao longo deste ano no país. O que representam esses índices positivos e que futuro você vê para o mercado de iGaming em Portugal?
As receitas de jogo online têm evoluído positivamente, contribuindo para isso o efeito da transição natural dos consumidores para o ambiente digital, que acontece em todos os outros âmbitos do entretenimento, e também de alguma conquista de terreno as operadoras ilegais. Os consumidores portugueses sentem confiança nas operadoras licenciadas e podem assim desfrutar dos seus jogos e apostas preferidos. À medida que o mercado regulado se consolida, é expectável que haja uma normalização do crescimento nos próximos anos.
Qual o valor que a integridade nas apostas tem para a sua Associação e como avançou o Memorando de Entendimento que APAJO assinou em meados de 2023 com a IBIA? Que trabalho conjunto você tem planejado para 2024?
A integridade é uma pedra basilar das apostas desportivas em mercado regulado. Logo à partida, a necessidade de verificação de identidade de todos os jogadores, ainda antes de começarem a apostar, e o registo de todas as apostas é um dissuasor de práticas dessa natureza neste ambiente. Aliás, nas nossas conversas com a IBIA, sabemos que há muito poucos casos de suspeitas focados no mercado regulado português. Uma questão diferente é o mercado ilegal, e por causa do mesmo, há jogos que acontecem em Portugal e/ou com apostas de utilizadores presentes no nosso país que podem estar em questão. O combate ao jogo ilegal e a absorção da procura pelas operadoras licenciadas tem de ser as preocupações máximas de todos os stakeholders deste setor para bem da integridade desportiva e da proteção do consumidor.
Neste sentido, no dia 20 de outubro de 2023, o Parlamento português aprovou um novo regime jurídico da integridade desportiva, que contemplará a criação de um Conselho Nacional e de uma plataforma de acompanhamento para sistematizar e combater a manipulação de resultados. Em que consiste esta iniciativa e qual a sua opinião sobre ela?
Em termos gerais, a APAJO é a favor de iniciativas que possam contribuir para a integridade desportiva. Sobre o Conselho Nacional e a plataforma, a APAJO ainda irá ter conversas com a tutela e os organismos coordenadores antes de poder pronunciar-se mais claramente sobre o tema.
Enquanto países como Espanha, Itália, Inglaterra e Bélgica reduzem ou cancelam a publicidade de apostas no futebol, em Portugal, 13 dos 18 clubes (72%) da I Liga são patrocinados por casas de apostas. Isso gerou muita polêmica no país. Você considera que as empresas atendem aos critérios para realizar publicidade ‘socialmente responsável’? Como controlar esses limites?
Os mercados são muito diferentes entre si e transpor medidas de uns mercados para os outros sem cuidadosamente analisar o impacto dessas proibições parece-nos preocupante. Em alguns dos países onde foram aplicadas restrições severas à publicidade, o jogo ilegal tem aumentado. Temos testemunhado episódios de corrupção desportiva e também o aumento do jogo problemático. A publicidade no geral, e os patrocínios em particular, são veículos determinantes para informar o consumidor sobre quais são as operadoras licenciadas. No caso dos patrocínios, ainda há a vantagem adicional do apoio direto ao desporto. As operadoras licenciadas norteiam a sua comunicação pelas regras específicas do setor e pelo seu próprio compromisso com o jogo responsável. Os associados da APAJO, além disso, ainda desenvolvem iniciativas como a recente campanha O Meu Jogo é a Sério, na qual influenciadores portugueses foram sensibilizados para as boas práticas de comunicação de jogo online e comprometeram-se com as mesmas, além de divulgarem informação à sua audiência.
Qual a relação entre a APAJO e o Serviço de Regulação e Inspeção de Jogos (SRIJ)? Como avalia a gestão do Diretor Coordenador Dr. Luís Filipe Coelho à frente do órgão regulador da atividade?
A APAJO tem uma relação aberta e construtiva com o SRIJ, existindo naturalmente temas em que temos perspectivas diferentes. É muito importante que todos os agentes deste setor trabalhem em conjunto para atingir os objetivos comuns, como a defesa dos interesses do consumidor e a absorção da procura pelo mercado licenciado.
A APAJO se reuniu com entidades brasileiras de jogos para aconselhar sobre regulamentação e outras questões com base em sua experiência. Que lições Portugal poderia partilhar com o Brasil e que análise faz sobreo longo processo de regulação das apostas desportivas e dos jogos online que o gigantesco país sul-americano enfrenta atualmente?
Acreditamos que todas as jurisdições deste setor têm alguma coisa a aprender umas com as outras. A APAJO faz parte de uma rede europeia de associações, a qual inclusivamente acolheu em Portugal este ano, e gosta de saber os desafios e soluções que existem em diferentes ambientes. Creio que este é também o espírito de quem nos convidou para partilhar a nossa experiência com entidades brasileiras. A APAJO transmitiu a relevância de criar um mercado com capacidade de corresponder às expectativas dos consumidores, de forma a evitar a escolha das operadoras ilegais.
Quão valiosa é para o mercado dos jogos em Portugal a organização de encontros como o G&M Eventos Portugal, um jantar para as operadoras de jogos presenciais e online que se realizará no dia 26 de março de 2024 no restaurante Baía do Peixe – Praça do Comércio em Lisboa?
É muito importante a partilha de ideias dentro do nosso setor, tal como em todos. A APAJO gosta de tomar contato com a aprendizagem de outros e saber as suas prioridades e desafios. Eventos como o organizado pela G&M News podem contribuir para estas partilhas.