Por Anamaria Bacci, jornalista e tradutora da G&M News.
Como foi que você decidiu virar jogador de poker profissional? Teve alguma influência?
Eu decidi virar jogador de poker quando estudava engenharia civil na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e conheci o jogo nos intervalos das aulas. Ali encontrei algo que brilhava meu lado competitivo, com a oportunidade de ganhar dinheiro. Mesmo detestando cartas naquela época.
Na sua opinião, como o poker evoluiu na última década e o quanto você mudou como pessoa e jogador?
A mudança do poker na última década é incrível. Estou no poker faz 15 anos. Vivi muito essa transição, de antes jogar escondido, ter vergonha de falar pra amigos, pra hoje ser ‘cool’ e despertar a curiosidade de muitos. Naturalmente, junto com a mudança do poker, vivi uma mudança pessoal gigante. Desde a questão da idade, pois comecei aos 18 anos, até a forma de encarar a vida, tomada de decisão, lidar com pressão, escolhas, estratégias, etc.
Você é considerado um dos jogadores mais importantes da atualidade. Como isso afeta sua vida pessoal?
Claro que é muito gratificante ter meu nome entre os maiores da história, e isso foi importante pra me motivar durante a jornada, mas hoje isso interfere pouco na minha vida. Gosto de ter alcançado o topo, faria tudo de novo, mas manter hoje o nível de renúncia que tive seria uma decisão influenciada muito mais pelo ego e emoção do que pela razão.
Quais jogadores te inspiram no poker, tipo assim, ídolos?
Tenho vários ídolos no poker e acho triste ver como não temos a cultura de idolatrar nossos representantes em todos os esportes. Muito mais se vê críticas aos pequenos erros do Neymar, do que elogios aos seus inúmeros acertos. Tento pensar diferente, focar no que os de destaque fizeram de forma assertiva, admirar isso e tentar evoluir. Assim, no poker, tenho ídolos onde aprendi e aprendo muito, como André Akkari, Rafael Caiaffa, Mateus Pimenta, Caio Pimenta e Phil Ivey. Cada um destes é melhor que eu em uma ou várias coisas, e me sinto privilegiado de poder aprender com eles.
Você prefere jogar online ou ao vivo? Como foi a adaptação durante a pandemia?
Sempre gostei de equilibrar ambos. 90% online, 10% ao vivo. Se tiver que escolher, prefiro o online, perto da minha família. Mas acho fundamental quebrar na rotina do online fazendo viagens pontuais pra destinos que me agradam.
O que você pode nos dizer sobre a Massari Poker School?
Quando consegui me destacar, eu tinha um estilo de jogo que chamava atenção, um pouco diferente do esperado, e a comunidade me pedia pra passar essas infos. Assim criei a Massari Poker School e o poker fora da caixa, onde a ideia era exatamente essa: ensinar aos alunos a sair do previsível, a criar, a explorar, retribuindo a comunidade o apoio que me deram. Os anos se passaram e o poker evoluiu para um jogo onde, para implementar esse estilo de jogo, precisa ter uma base bem sólida de GTO (Game Theory Optimal, uma maneira teorica e matematicamente perfeita de jogar poker). Assim, as aulas ficariam muito longas, não encaixando no nosso modelo e então não achei mais justo manter as aulas sem prepará-los para esse novo modelo.
Como foi ganhar doze vezes um dos principais circuitos digitais do planeta, a Powerfest, virando o jogador mais vitorioso da história do torneio?
Foi incrível me tornar campeão doze vezes da Powerfest. É um dos eventos mais técnicos, por ter muitos profissionais. Constância, doze títulos ao invés de almejar um título específico de mais visibilidade.
Alguma história curiosa durante os torneios que participou?
Quando ganhei meu maior torneio da carreira, em um determinado momento do dia 3 do evento, minha Internet caiu quando tinha AA. Ao perceber que isso estava me irritando, eu brinquei que era a mão de Deus me tirando de uma mão que eu ia dar azar e perder AA. Acabei sendo campeão, e isso me ajuda até hoje. Toda vez que tenho problemas de conexão em uma mão que eu era favorito, brinco que é a mão de Deus, e aí ao invés de ficar com raiva da conexão, que poderia afetar minha concentração, levo com risada e leveza, me mantendo focado e motivado.
O que você deseja na sua vida esportiva? Quais são as metas que você ainda precisa cumprir?
Alcancei todos meus objetivos no poker. Quando escolhi ser profissional, foi bem duro. Largar uma ótima faculdade em 2010 parecia loucura, então sempre tive objetivos baseados em contundência, constância, habilidade. E não objetivos onde o fator sorte tivesse grande influência, como ganhar um bracelete, ou um prêmio X específico. Então com relação a objetivos, cumpri os meus. Agora, vontade, desejo, eu tenho sim de ganhar um bracelete da WSOP. Algo que levo de forma leve, mas que adoraria conquistar.
5 Comentários
Pingback: João Simão cumpriu o seu sonho de ser campeão de poker do WSOP – Gaming And Media
Pingback: Gaming And Media
Pingback: Thiago Crema. Um craque do poker brasileiro que quer continuar conquistando prêmios – Gaming And Media
Pingback: Padilha. Um gigante do poker em um país de grandes jogadores – Gaming And Media
Pingback: Brasil deixa seu selo de vitória na WSOP – Gaming And Media