Como descreveria as características do seu trabalho diário na Sportingtech, numa área tão importante como o compliance?
A Sportingtech é um provedor B2B, por isso temos menos pontos de contato que regem questões de direito do consumidor, e a proteção do consumidor é uma das preocupações mais urgentes dos reguladores. A nossa função é apoiar as operadoras totalmente licenciadas para que se tornem e permaneçam em conformidade com as leis aplicáveis e se concentrem nos seus negócios e tomem as medidas necessárias para garantir que as operações estejam livres de atividades ilegais e suspeitas. Cooperamos com diversas partes interessadas, juntamente com as operadoras, para tornar isso possível. Uma parte significativa da minha função está relacionada com a manutenção da conformidade e relatórios das nossas licenças existentes, desenvolvendo melhores práticas de governação, negociando vários acordos e mantendo-me a par de quaisquer atualizações regulamentares ou de conformidade em qualquer mercado em que a Sportingtech opere. Supervisiono muitas áreas do negócio, desde a análise de estruturas corporativas até a discussão de contratos e o fornecimento de consultoria de risco para o negócio. Recebo e forneço feedback sobre muitas das tendências ou atualizações do ponto de vista regulatório para que nossos produtos cumpram os regulamentos de uma jurisdição específica e a equipe esteja a par das tendências e desenvolvimentos. Manter um relacionamento positivo com os reguladores é fundamental. Eles estão tão interessados em falar conosco e ouvir sobre nossas operações quanto em fornecer informações sobre questões do setor. Damos a nossa opinião sobre o que está a funcionar bem dentro dos regulamentos existentes e o que poderia ser melhorado quando convidados a fazê-lo.
Que desafios de compliance a sua empresa enfrentará este ano em mercados como a Europa e a América Latina?
Operamos em menor escala no mercado europeu, por isso não vejo grandes desafios de compliance no horizonte. No que diz respeito à América Latina, o desafio é encontrar o equilíbrio entre a velocidade de colocação no mercado face a vários requisitos que exigem mais esclarecimentos e a conformidade regulamentar. A área chave para nós é o Brasil e o restante dos mercados latino-americanos em geral. Estamos entusiasmados em aumentar a presença que temos lá. Alguns mercados já bastante maduros que tiveram regulamentações aprovadas, o que lhes dá uma vantagem sobre países como o Brasil em alguns aspectos. Os requisitos que os reguladores impuseram às plataformas são substanciais e abrangem tudo, desde certificação e recursos de segurança até produtos e compliance. Manter os jogadores seguros com iniciativas de jogo responsável (RG), AML e autoexclusão em conformidade com os requisitos locais é um dos desafios. É vital priorizar a segurança dos jogadores e garantir que nosso produto esteja em consonância, sem interromper as operações do dia a dia e a gestão do crescimento em nossas plataformas.
Quais possibilidades o mercado brasileiro de jogos traz para a sua empresa agora, após a regulamentação do iGaming e das apostas esportivas? Como você imagina o futuro desse mercado nos próximos meses?
As barreiras à entrada são bastante elevadas. Uma coisa que podemos esperar é a consolidação no mercado. A exigência de ter 20% de investidor brasileiro em qualquer operação B2C também é uma proposta interessante e sem dúvida levará a uma mudança na forma atual de operações de algumas empresas. Há uma grande questão em torno do cassino ao vivo e de alguns produtos muito populares, como jogos crash específicos que parecem ter sido removidos do último projeto de lei ou criticados publicamente por políticos de alto escalão. Eu me pergunto se os reguladores manterão sua posição de omitir esses produtos, ou se eles retornarão de alguma forma ou estilo assim que a imagem se tornar um pouco mais clara e certas proteções e ferramentas básicas forem implementadas para melhor cuidar daqueles em risco de problemas com jogos de azar. Dito isto, “entusiasmo” é o sentimento geral agora que as regulamentações estão cada vez mais próximas de serem concretizadas. Já falamos há muito tempo sobre o impacto positivo que um mercado regulamentado no Brasil poderia ter sobre o setor, e estamos finalmente prestes a ver isso se tornar uma realidade.
Não há dúvida de que, desde o lançamento da sua oferta Bet Builder na Série A brasileira (torneio local de futebol), você obteve resultados surpreendentes: 102 milhões de apostas feitas, um aumento de 1.300% no total de apostas em comparação com a temporada de 2022, e impressionante 75% de apostas pre-match. Como esta e outras ferramentas da Sportingtech ajudarão as operadoras licenciadas a cuidar dos seus jogadores e a desenvolver uma política de jogo responsável?
Nem é preciso dizer que quanto mais volume e atividade vemos em nossa plataforma, maiores são as chances que temos de detectar quaisquer padrões de apostas suspeitos nos dados que coletamos. Estamos cientes de que existem organismos industriais aos quais as operadoras serão obrigadas a aderir com o único propósito de reportar qualquer atividade deste tipo, e este nível de transparência será benéfico. Como plataforma, nossa missão é apoiar as operadoras, uma vez que não temos acesso a perfis completos de clientes, informações pessoais e comportamento de forma mais aprofundada. Cooperamos com as operadoras para investigar qualquer atividade quando solicitada por elas, pelos fornecedores, e também pelos reguladores. Além disso, temos períodos de autoexclusão, limites de depósito, limites de tempo e relatórios de tracking de jogadores que muitas vezes nos ajudam a identificar comportamentos de risco. Algo de que nos orgulhamos na Sportingtech é estarmos atentos às últimas tendências, soluções e ferramentas de RG disponíveis, e integrá-las nos nossos produtos para nos tornarmos o mais refinados possível. A segurança dos nossos jogadores é a nossa prioridade número um e iremos garantir isso de todas as formas que pudermos, enquanto trabalhamos em conjunto com as autoridades para criar um ambiente mais seguro.
Como sua companhia pode colaborar no Brasil para aumentar a conscientização sobre o combate à manipulação de resultados no futebol?
A nova Lei no Brasil exige que cada operadora tenha uma área ou estrutura específica dentro de sua organização para lidar com solicitações e dúvidas de qualquer órgão que faça parte do Ministério da Fazenda, do Sistema Nacional do Consumidor, do Judiciário, do Ministério Público e assim por diante. A Lei exige ainda a integração com organizações nacionais ou internacionais que monitorizam a integridade esportiva, e pede uma política obrigatória sobre a preservação da integridade das apostas e a prevenção da manipulação de resultados e outras atividades fraudulentas. A Sportingtech reconhece a importância de manter os esportes livres de tal corrupção e leva estes deveres muito a sério. A nossa empresa fará tudo o que estiver ao seu alcance para garantir que as operadoras cumpram as suas obrigações, bem como a intenção da lei. Temos uma equipa de gestão de risco que monitoriza a atividade de apostas em tempo real 24 horas por dia, 7 dias por semana. Também trabalhamos com nossos parceiros de dados e colaboramos proativamente para garantir que qualquer tipo de manipulação de resultados seja destacada.
Além da clara evolução da Sportingtech no Brasil, em quais outros mercados latino-americanos você prevê crescimento para sua empresa durante 2024?
Isso está muito no nosso radar. México, Peru e Colômbia são mercados nos quais buscamos ativamente nos lançar. Com os sucessos que tivemos no Brasil, olhar para outros mercados latino-americanos e explorar o vasto potencial da região são passos naturais. Queremos imitar o nosso sucesso em outras áreas geográficas.