Por Leticia Navarro, jornalista da G&M News.
Como você definiria o panorama atual do mercado iGaming em Portugal?
É super competitivo! Lembro-me que quando entrei em 2018 para a bet.pt havia cerca de 5 a 7 empresas (cerca de 13 licenças) que operavam em Portugal. Hoje em dia, são 17 empresas e 30 licenças, segundo dados oficiais do SRIJ. Em pouco tempo, é um grande crescimento para um mercado não assim tão grande (representa cerca de 227 milhões de euros). Por outro lado, importa salientar que esta competitividade também se traduz num aumento de profissionais da indústria em Portugal. Recordando o início do meu percurso no iGaming, na altura não havia quase ninguém profissionalizado. Algumas empresas até recorreram a talento fora de Portugal, onde o iGaming já estava mais à frente, com o intuito de ganhar algum tipo de vantagem no mercado. Este crescimento e competitividade foram excelentes motores para se começar a ver mais e melhores profissionais e, com isso, melhores salários. Hoje em dia, vejo ex-colegas e amigos um pouco por todas as casas de apostas em Portugal. Acredito que a competitividade que existe é saudável e torna-se até divertida!
A rápida evolução da indústria também captou a atenção dos fraudadores. O que as empresas do setor podem fazer para se protegerem?
Todos os negócios online que movimentam dinheiro e/ou bens e serviços são extremamente apetecíveis para os criminosos. Isto porque se consegue esconder a verdadeira identidade; é financeiramente compensatório, e o tempo despendido é relativamente baixo. Contudo, graças às ferramentas que hoje existem no mercado e que constantemente se atualizam, o número de fraudes tem vindo a diminuir. Defendo que o ponto fundamental é ter uma equipa de agentes de fraude treinada, com os procedimentos bem montados e um sistema onde esteja implementada uma alarmística para detectar comportamentos e padrões que podem indiciar a fraude. Tudo isto claro, aliado às ferramentas acima mencionadas, é a melhor maneira de ser proativo em relação as ameaças potenciais.
Quais são os riscos, fraudes e golpes mais comuns que as plataformas de jogos online detectam e combatem?
As fraudes e golpes mais comuns e transversais a todo o setor som o abuso de bónus. É maioritariamente por causa dos bónus que as casas de apostas detectam a utilização de dados de terceiros e tentativa de duplicação de contas. Muitas vezes, as fraudes e os golpes estão relacionados entre si. Com a evolução das técnicas de fraude e numa era em que a informação circula de uma forma muito rápida, os criminosos tentam sempre explorar todas as vulnerabilidades dos sites de apostas. Contudo, graças às ferramentas utilizadas que já por si possuem machine learning e/ou inteligência artificial, consegue-se evitar muitas das ameaças.
Como as empresas gerenciam os pagamentos com segurança?
O principal desafio está exatamente em equilibrar a facilidade com a segurança dos pagamentos. Neste aspecto, é importante salientar a evolução dos meios de pagamento de um modo geral na Europa. A PSD2 trouxe uma desburocratização dos meios de pagamento, fazendo crescer exponencialmente os chamados Alternative Payment methods (meios de pagamento alternativos) como as Wallets, os QRcodes, NFCs, Tokens, OpenBanking, etc. Esses métodos já aportam um determinado nível de segurança aliado à simplicidade, tudo em um clique. A questão seguinte prende-se também com a popularidade dos métodos de pagamento que muitas vezes são ‘locais’, ou seja, muito utilizados em determinado mercado e que nem sempre se mostram ser os mais seguros. Assim é a responsabilidade de uma equipa de pagamentos fazer esta gestão de uma forma equilibrada, com uma boa oferta de meios de pagamento que inclua os ditos locais, contudo, oferecendo e incentivando o uso daqueles que possam ter maior segurança e simplicidade não só para o jogador como também para a empresa.
Como combinar segurança e experiência através de métodos automatizados e uso da tecnologia na obtenção de processos mais eficientes que, ao mesmo tempo, resultem em uma melhor experiência ao usuário?
Assim como uma boa receita de cozinha, tudo tem que estar em harmonia para conquistar o cliente, e leva o seu tempo. Não se consegue automatismo, segurança e eficiência na primeira vez que se faz a ‘receita’. Aliás, é algo que se vai aperfeiçoando com o tempo, que se vai afinando à medida que os desafios também vão surgindo e que a experiência se vai acumulando. É também está a beleza de trabalhar nesta área: nunca é monótono, pois temos sempre desafios que nos desinstalam, um ‘novo ingrediente’ a acrescentar. No fundo, só temos que aliar automatismos à segurança, tornando mais eficiente o nosso trabalho e melhorando assim a experiência para o utilizador.
Em 26 de março de 2024, a G&M News realizará em Lisboa um jantar em homenagem e reconhecimento ao grande trabalho das operadoras portuguesas de jogo presencial e online. Quão importante considera que essas reuniões exclusivas sejam efetivadas, permitindo o intercâmbio entre os participantes?
Acho uma iniciativa incrível que coloca Portugal ao nível de outros mercados europeus como um país atrativo para o iGaming . Desde que o iGaming foi regulado em Portugal que poucas ou nenhumas iniciativas semelhantes foram feitas neste âmbito. A indústria só tem a ganhar com estes encontros, com partilhas de experiências e com diálogo entre as operadoras numa perspetiva de manter o mercado sustentável. A ideia é proteger em primeiro o jogador, papel fundamental desempenhado pelo SRIJ, e como digo acima tornar o mercado ainda mais competitivo tanto para operadoras como para profissionais do setor.