Por Anamaria Bacci, jornalista e tradutora da G&M News.
Como nasceu o Hermit Crab Game Studio?
O formato do estúdio como ele é hoje nasceu no início de 2016, com uma ideia simples de trazer marcas do esporte -paixão em comum dos dois sócios- ao universo dos games casuais para dispositivos móveis. Na época, não era comum a presença dos grandes nomes do esporte mundial nestes mercados de forma oficial, em produtos exclusivos ou franquias. Nesse contexto, decidimos usar nossas paixões e nosso posicionamento através dos produtos como ponte entre estas marcas e os novos públicos, tornando viável e casual o acesso a games com grandes marcas e nomes.
Quanto mudou a indústria de videogames nesses anos, desde a fundação do estúdio até o presente? E quanto mudou a mentalidade do jogador?
Possivelmente, a indústria mais volátil no universo do entretenimento. A tecnologia e a criatividade são os fatores que impulsionam a indústria, que por sua vez promove a demanda e aquece o consumo de maneira exponencial. No nosso caso, isso sempre traz reflexões importantes para o desenvolvimento e projeção dos nossos jogos, uma vez que o perfil do jogador também acompanha essa evolução. A entrega da diversão precisa ser cada vez mais objetiva, ágil e engajante. Do contrário, o jogador desinstala o jogo, provavelmente para não voltar mais.
Qual é a mensagem positiva e o impacto sobre os jogadores que o estúdio busca com seus jogos?
Podemos dizer que gostamos da ideia da compensação que nos é atribuída em virtude do gênero que escolhemos. Em outras palavras, sabemos que o nicho do esporte nos games não é o gênero mais lucrativo da indústria. Através do esporte, conseguimos transmitir de uma maneira direta e consciente todos os valores que acreditamos que sejam fundamentais para a construção de uma sociedade que queremos viver e deixar de legado, como oferecer conteúdos para o entretenimento digital de maneira responsável.
Por que a decisão da realização exclusiva de jogos esportivos para celular? Qual é a vantagem desses títulos?
A decisão vem por meio de dois pontos determinantes. O primeiro, por nossa paixão e por relações estreitas com o esporte em âmbito profissional. Fato que facilita a comunicação com estas marcas, por entendermos e enxergarmos as vantagens e as necessidades das mesmas neste universo de jogos digitais. Assim, desenvolvemos um amplo conhecimento em como projetar estes grandes nomes para públicos que muitas vezes até o esporte não consegue alcançar. A consequência disso é a facilidade ao acesso a nomes do mercado como Paris Saint-Germain, Manchester City, Arsenal, Benfica a todo e qualquer público. O segundo ponto vem de nosso posicionamento enquanto empresa, e dos valores que acreditamos serem inegociáveis para que estejamos neste universo digital, sintetizados pelo nosso lema “Mais que jogos bons, jogos do bem”. Nossos conteúdos tem a ambição de impactar positivamente nossos públicos, com mensagens que contribuam de alguma forma para a construção dos valores de públicos tão jovens, ou que ao menos não sejam motivo de preocupação com que os filhos consomem o entretenimento digital nos dias de hoje.
O mundo está passando por uma explosão de jogos para celular. Você acha que no futuro este sistema irá superar os consoles e jogos AAA? Ou que os títulos AAA podem ser adaptados para dispositivos móveis?
Talvez seja mais fácil projetar sempre uma adaptação destes modelos para o mobile. Na indústria de games, acredito que as plataformas não sejam diretamente concorrentes entre si. Sempre haverá espaço para todo mundo. É um caminho natural para uma franquia de sucesso hoje em dia, se analisarmos. No momento que um AAA vem para o celular, por exemplo, ele se transforma em outra coisa: ele se reinventa e se adapta as particularidades daquele público. O caminho contrário também é possível: um jogo mobile ir para o console ou PC, mas com um grande processo de evolução em suas camadas de desenvolvimento. Além disso, podemos incluir a chegada da 5G, que ira certamente viabilizar o modelo do cloud gaming (streaming).
Que papel ou posição o Brasil ocupa no desenvolvimento dos videogames na América Latina?
O país é, sem sombra de dúvidas, o grande nome num contexto latino-americano. Se num passado recente, o início da indústria nacional sofria com a carência de inteligência especializada, hoje, o país concentra números significativos de estúdios competitivos no mercado internacional, bem como mão de obra extremamente qualificada. O país, que sempre foi um dos líderes em rankings de jogadores, hoje também é referência no desenvolvimento. Fazer parte desta indústria e poder contribuir nos traz muito orgulho.
O que significou para você representar o Brasil na Gamescom?
É um verdadeiro privilégio participar de eventos internacionais de maneira geral. Em se tratando de Gamescom, provavelmente o mais significativo deles. Nossa participação se torna ainda mais especial, uma vez que, desde o início do estúdio, nos fizemos presentes, e o evento sempre nos trouxe resultados muito positivos. Hoje, a Gamescom representa um compromisso essencial do estúdio e faz parte de nossa agenda anual de maneira permanente.
O que falta à região para ser um grande farol como os Estados Unidos ou a Ásia?
Mercados como nos países de Primeiro Mundo possuem uma tradição no desenvolvimento de jogos digitais bem mais longa e mais próspera. Porém, o olhar de insegurança ou incerteza para este novo mercado no Brasil faz com que a quantia de investimentos de uma forma geral não seja significativa o suficiente para alavancar a indústria da forma como poderia. Consequentemente, isso está tornando o amadurecimento da indústria mais lento, postergando que este “mercado do futuro” se torne o “mercado do presente”.
Que planos você tem em andamento para o restante de 2021 e para os próximos anos?
Temos muito trabalho pela frente até o final de 2021. Nossos games passam por melhorias constantes, que costumamos entregar através de campanhas e atualizações periódicas. Além disso, o quarto trimestre do ano ainda contemplará a publicação de nossos novos games (Manchester City, Benfica e um segundo game do Arsenal).