Por Alejandro Caminos, jornalista, roteirista e colaborador da G&M News
Colaboração e tradução ao português de Anamaria Bacci, jornalista e tradutora da G&M News.
Historicamente, o futebol e as apostas sempre andaram juntos. Os torcedores amantes da sorte encontram um gosto extra nas vitórias de seus respectivos times. Isto é uma constante num ‘país do futebol’ como o Brasil. Por isso, a G&M News analisa este fenômeno, que continuará se expandindo nos próximos anos.
O MAIS RECENTE SOBRE ESTE ASSUNTO
A principal forma em que está se manifestando esta sinergia entre apostas e futebol no mercado brasileiro é mediante o patrocínio de casas de apostas para diversos times locais. Recentemente, foi oficializada a nova parceria (contrato por dois anos) entre o operador de jogos on-line europeu Betano e Fluminense. Sobre isso, Alex Fonseca, Gerente Nacional da Kaizen Gaming para o Brasil (Stoiximan/Betano), comentou: “O patrocínio e apoio ao esporte são pilares fortes na estratégia global da Betano. A empresa é atualmente a única com dois contratos de patrocínio Master ativos no Brasil, Fluminense e Atlético Mineiro, ambos jogando no Brasileirão, na Série A, Copa do Brasil e Copa Libertadores. Ao mesmo tempo, temos diversas outras equipes patrocinadas ao redor do mundo, como o S.C. Braga and C.S. Marítimo em Portugal, Universitatea Craiova e FCSB na Romênia, Olympiacos FC e PAOK FC na Grécia, assim como alguns medalhistas olímpicos e o time olímpico da Grécia. O Fluminense nos surgiu como uma oportunidade interessante, pois não tinha um patrocinador master, é um clube emblemático, com mais de 100 anos de história e que nos recebeu muito bem. Tudo isso permitiu que o negócio fluísse de forma rápida e amigável”.
Por sua vez, Mário Bittencourt, presidente do Fluminense, ressaltou: “Este convênio demonstra que estamos obtendo resultados através de uma filosofia de gestão que prioriza a organização, a estabilidade do ambiente, a expansão da marca e a recuperação de nossas finanças”.
Paralelamente, está aumentando o debate parlamentar sobre esta questão. Na semana passada, a Câmara de Deputados do Brasil aprovou a Medida Provisória 1.034/2021, que prevê a regulamentação de vários regimes tributários, incluindo o das apostas esportivas. As mudanças no artigo 30 da Lei N° 13.756/2018 foram apresentadas pelo deputado Moses Rodrigues. No artigo 6 da nova legislação foram estabelecidas as porcentagens que receberão todas as instituições estatais a partir da Renda Bruta do Jogo (menos os prêmios pagos). Além disso, foi decidido um novo imposto para a adjudicação da licença. Estima-se que 95% da arrecadação será destinado à cobertura dos custos e despesas do ente estatal que seria criado para controlar o setor do jogo e as apostas. Fora isso, 2,55% iria à Força Nacional de Segurança Pública (FNSP); 1,63% às entidades esportivas brasileiras que cedem seus direitos e marcas na execução de apostas de quotas fixas, e 0,82% a organismos escolares.
UM POUCO DE HISTÓRIA
O ano de 2017 marcou um fato transcendental. Nessa época a Caixa Econômica Federal anunciou que deixaria de patrocinar o futebol. Isto fez com que 14 de 20 times participantes da Primeira Divisão já não contassem com seu apoio. “Essa situação, somada à proximidade da regulamentação das apostas esportivas de cota fixa, fez com que mais empresas desse mercado procurassem vincular os clubes às suas marcas”, indicou Angelo Alberoni, Country Manager do Brasil da marca Betmotion. Também, ele afirmou: “As marcas aproveitaram a paixão dos brasileiros pelo futebol e, consequentemente, criaram uma sinergia entre stakeholders que se nutrem do esporte. Todas têm a diversão, a emoção e o entretenimento como elementos em comum”.
No fim de 2018, o Governo Temer lançou a Medida Provisória N° 13.756/2018. Logo depois (e com a mudança do Poder Executivo), o novo presidente, Jair Bolsonaro, transformou em lei. A normativa classifica as apostas esportivas de “quotas fixas” como um produto de loteria, que define quanto pode ganhar o jogador caso acerte. O prazo para a duração dos acordos seria de quatro anos, até fim de 2022. Enquanto isso, por exemplo, a firma de apostas Bodog se afirmou na região graças a seu acordo com a CONMEBOL.
Isto fez com que, no ano seguinte, o mercado da publicidade e marketing experimentasse uma mudança radical, que pôde ser vista no fato de treze dos vinte clubes do Brasileirão, a Série A de futebol, fossem patrocinados por empresas deste setor. Um caso a ser citado é o Flamengo, que conta desde 2019 com o patrocínio da Sportsbet.io.
Quanto a números, segundo o Ibope Repucom, em 2019, o mercado do futebol brasileiro movimentava R$ 4 bilhões por ano em apostas. Atualmente, para Instituto Jogo Legal, o valor estimado do mercado do jogo ilegal no Brasil é de R$ 6.4 bilhões. Já em 2017, a rede de firmas de auditoria KPMG anunciava que o grey market brasileiro de apostas controlava mais de R$ 10 bilhões só na modalidade on-line.
CHUVA DE PATROCÍNIOS PARA TIMES DE FUTEBOL
Se em 2020, 70% dos clubes da Série A estavam patrocinados por empresas de apostas, hoje esta porcentagem subiu para 75%. No total, as casas de apostas investiram cerca de R$ 10 milhões em publicidade para o Brasileirão 2021, enquanto a média gasta por uma dessas empresas em publicidade em cada um dos canais esportivos fechados é de R$ 30 milhões. Além disso, com 14 de 20 camisas patrocinadas, a Liga Brasileira é a que conta com a maior quantidade de patrocínios deste tipo, superando, na temporada 2020/2021, a Premier League da Inglaterra (10 times patrocinados) e a Liga Espanhola (7 camisas), o que mostra a dimensão do fenômeno no Brasil.
Entre as casas de apostas, as eu têm acordos assinados com os clubes são: 1) Betsul (cinco times: São Paulo, Grêmio, Ceará Sporting Club, Chapecoense e Fortaleza); 2) Galera.Bet (dois times, Corinthians e Sport Recife); 3) Betano (dois times: Fluminense e Atlético Mineiro); 4) Dafabet (também dois: Santos e América-MG); 5) Sportsbet.io (um: Flamengo); 6) Netbet (um: Bragantino), e 7) Casa de Apostas (um: Bahia). Por enquanto, os únicos clubes que não contam com este tipo de patrocínio são o Palmeiras, Athlético Paranaense, Atlético Goiás, Cuiabá, Internacional e Juventude. Claro que isto poderia mudar nos próximos meses. Ao mesmo tempo, há clubes de categorias menores com esta modalidade de patrocinios, como, por exemplo, Guarani FC com o site Betchamps, e Mixto Exporte Clube com a Gol Bet 365. Não podemos deixar de mencionar os convênios das firmas de apostas com canais de TV que transmitem o futebol brasileiro.
Segundo especialistas, essa tendência de alta ocorre por diversos motivos. Por um lado, a paixão da torcida brasileira pelo futebol. Por outro lado, o fervor pelo jogo, em um país cuja legislação avança após décadas de proibição e ilegalidade. Assim, a maioria dos moradores (principalmente, os jovens) não conhece o mundo das apostas esportivas, o que torna o torcedor brasileiro um grande público de consumidores potenciais para qualquer empresa. Pelo contrário, noutros países como Portugal (cuja atividade de jogo está regulamentada desde 1927), a margem de crescimento é muito inferior. Para impulsionar ainda mais, a CONMEBOL e o próprio presidente Bolsonaro já confirmaram a realização da Copa América de Seleções de Futebol no Brasil, com Brasília, Cuiabá, Rio de Janeiro e Goiânia como sedes estabelecidas para os jogos. Não há dúvida que isto irá potenciar a expansão do negócio, com um aumento notável do volume de receita das marcas de apostas desportivas naquele país. Usando uma metáfora do futebol, o mundo das apostas no Brasil está a um passo de ganhar o jogo de goleada.