
Por Anamaria Bacci, jornalista e tradutora da G&M News.
Maria Luiza Kurban Jobim é advogada especialista em gaming na FYMSA Advogados, o renomado escritório jurídico fundado por Luiz Felipe Maia. Ela estudou Lei e Economia da Regulamentação, e tem um mestrado em Direito Comercial Internacional (Canterbury). Ao mesmo tempo, ela trabalhou sete anos no Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul como Assessora Jurídica.
Esta executiva se considera uma pessoa bastante dedicada, e indica que seria impossível se empenhar ou trabalhar para uma coisa que não verdadeiramente acredita. Ela diz ter tido a sorte de encontrar sempre no trabalho mentores que realmente admirasse. “De uma forma ou de outra, procuro ser sempre autêntica, seguindo meu instinto, mas não sem muita base, estudo e reflexão por trás”, diz. Ela acredita que os grandes problemas da humanidade são faltas de comunicação. E isso, seja no trabalho, seja em suas relações pessoais, sempre prima por conseguir zelar: dialogar, negociar e evoluir, sempre, a cada dia. “Entender e ser entendido eis o primeiro passo para relações duradouras pessoais e laborais”, ela reflete.

QUALIDADE, DIÁLOGO E BOAS PRÁTICAS
Para Maria Luiza, há uma máxima que é infalível: não há qualidade sem quantidade. Mas quantidade não é necessariamente qualidade. “Em suma, não é o número de horas que estás à frente de um computador ou em uma sala de reuniões que te fará um bom profissional. Da mesma forma, não há um bom profissional que não se dedique integralmente àquilo que faz”, assegura. Portanto, ela conclui que o segredo é gostar do que se faz, e também fazer o que se gosta. Vezes por outra, o trabalho vai exigir mais, e aí o lazer fica para depois. Quando vem a hora do descanso, ele é ainda mais valorizado. A advogada separa sempre os sábados pela manhã dedicados a leituras diversas e esportes ao ar livre. “Se precisar trabalhar, depois, à tarde, não há problema, mas sábado matinal é sempre uma garantia de respiro e paz de espírito”, reconhece.
Apesar de ter entrado recentemente para a indústria, Maria Luiza se sente familiarizada com a temática que conhece. Iniciou suas atividades junto ao setor a partir de uma pesquisa internacional, na área acadêmica, no ano de 2015 que, mesmo depois de formalmente finalizada, ainda cativava seu interesse. Ela conta que fez análises do caso do Brasil e em Direito Comparado, sobretudo em aspectos relacionados à regulação dos jogos em geral e da forma efetiva, ou não, com que o Direito contribui para uma ordem e evolução do setor. Segundo ela: “Em termos da indústria, busquei e busco nutrir um diálogo aberto com diferentes atores, da indústria ao governo, de consumidores a trabalhadores.” E acrescenta: “Em uma área onde a complexidade regulatória é tamanha, não existem boas práticas se não houver engajamento dos atores”.
Para ela, deve ser interesse dos bons jogadores da indústria participar dos debates e demonstrar boas práticas que possam ser utilizadas como paradigma e que revertam em benefícios em geral. Nas atividades correntes, afirma que sempre busca contribuir com estratégias efetivas para dar maior segurança jurídica, para colaborar para um desenvolvimento sistêmico e consciente do mercado.

Sobre o setor, ela expressa: “Quando entendemos que games são também um estilo de vida, e que a sistemática ali vigente é inerente à humanidade, o interesse já é uma decorrência natural.” Adquirir novas habilidades e aperfeiçoar aquelas já existentes, comunicar-se de diferentes formas e em diferentes meios e a oportunidade de constantemente aprender, seja no meio acadêmico, seja no profissional, com pessoas altamente qualificadas, foi a sua maior força motriz para ingressar e permanecer nessa área.
Para a advogada, o jogo responsável é um conceito em constante evolução. Quanto mais diferentes setores -sociedade civil, indústria e governo- se comunicarem, mais efetivo será o seu ideal, que é o de conciliar diferentes interesses, proteger os vulneráveis e dar sustentabilidade ao setor. Ela diz que no Brasil, é um tema que necessita ser melhor abordado, já que os jogos de azar ainda pendem de regulamentação na sua grande maioria e não são explorados de forma ampla. De acordo com Jobim, há desafios nesse âmbito, mas acha que com a troca de experiências, seja entre setores, seja entre áreas do conhecimento por meio de estudos transdisciplinares e comparados, tende a se tornar uma ferramenta cada vez mais efetiva. “O ideal por detrás do jogo responsável é real: responsabilidade, proteção e equidade. Não é estático, porém. É tão dinâmico quanto a evolução dos games no mundo atual. Não é uma linha de chegada, mas um estado de coisas a ser constantemente alcançado. A indústria trabalha para chegar lá”, ela define convencida.
A VOZ FORTE DAS MULHERES
Quando questionada sobre o crescente papel das mulheres na indústria de jogos, ela declara que os games também são um ambiente plural. No Brasil, as mulheres gamers ocupam cerca de metade do público. O estereótipo seja de gênero, seja de estilo, não se compactua com a cultura em formação, que busca também trazer preocupações com a integração de grupos diversos em um ambiente comum de interação e comunicação. Ela entende que as mulheres vêm também para auxiliar na disseminação e na compreensão da indústria. A estruturação de ambientes sadios para o desenvolvimento dos jogos em geral ganha assim mais uma ferramenta efetiva para a sua salvaguarda. Ela expõe que as mulheres, não apenas com outras mulheres, mas com situações em geral de exclusão ou discriminação injustificada e imotivada são uma voz forte na sua luta. Além disso, ela acredita que o desenvolvimento humano, ao lado do desenvolvimento econômico e do papel inegável da cultura nesse caminho, é uma preocupação caracteristicamente ligada à mulher, mas que hoje vem ganhando adeptos, independentemente de gênero. Entretanto, ela assevera que o seu papel nesse emaranhado de atividades em desenvolvimento é fulcral, e que vai crescer ainda mais nos próximos anos.

PAIXÕES, PASSATEMPOS E PERSPECTIVAS
Jobim adora ler, especialmente sobre filosofia, economia, sociedade, e também direito. Ela até admite que gosta de cantar (ainda que somente para conhecidos) e tocar piano. “Acho que a música que nos faz dançar e levar a vida com mais serenidade, mesmo em momentos tensos e difíceis”, expressa. Ela sabe que é essencial ter atividade física de forma regular. Correr é um prazer e uma necessidade para ela, além da mostrar sua paixão por amigos, família e animais. Considera-se apaixonada por cavalos e cachorros: não os troca por nenhum lugar do mundo, por mais que ame viajar!
No âmbito pessoal, espera estar ao lado daqueles que hoje está, com saúde de ambos os lados. Em tempos tão difíceis pelos quais o mundo está passando, Maria Luiza pede por saúde, para continuar trabalhando e aprendendo a cada dia. No âmbito profissional, ela pretende que seu time do gaming no FYMSA esteja, no mínimo, com o triplo de pessoal trabalhando nessa área de forma específica. Ela diz ter muita sorte em fazer parte de um time que a estimula tanto, e confia poder encontrá-lo com mais assiduidade e brindar os feitos que a vida (e o trabalho) lhes trazem, em algum lugar do mundo ou desse Brasil.

Em uma linha
Um livro: “Antifrágil: Coisas que se beneficiam com o caos” (Nassim N. Taleb, 2012)
Um filme: “The Matrix” (Lilly Wachowski y Lana Wachowski, 1999)
Música preferida: ‘Starman’, de David Bowie
Um perfume: Chance, by Chanel
Um lugar para morar: qualquer lugar, desde que haja verdes em meu campo de visão
Um lugar para veranear: Florianópolis, Brasil
Um lugar para comer: à beira do rio
Uma comida: churrasco
Uma bebida: vinho
Um esporte: corrida
Um/a professor/a: Toni Williams