Com o tempo, a influência de novas tecnologias emergindo e proliferando em um período de ‘destruição criativa’ é simplesmente a ponta do iceberg do novo potencial de geração de riqueza. Cada revolução industrial-tecnológica oferece não só a possibilidade de que haja setores que deem um grande salto de produtividade, mas também de que sejam desenvolvidas infraestruturas que abram novos mercados. Aliás, a isso devemos adicionar uma mudança nos métodos de produção em toda a economia e todo um conjunto de condições para criar uma nova forma de vida: um novo paradigma tecnológico, econômico e social.
No setor do gaming, isto também pode ser aplicado. Aqui é crucial entender que essas novas tecnologias de alta produtividade não são o motor principal da criação de emprego. Em vez disso, a riqueza criada transborda para outras atividades de menor produtividade que se adaptam ao novo modelo de vida cotidiana e abrangem serviços complementares. Desse modo, fica afetada a principal justificativa sociopolítica da indústria, uma vez que a política de comunicação sempre se baseou na geração de empregos como referencial teórico de sua existência e como principal elemento de redistribuição social de sua renda. Portanto, concordemos ou não, o aumento da carga tributária será um fato consumado nas futuras políticas estaduais de novas práticas produtivas. Essa é a fonte de substituição de empregos. É a combinação de ambos que traz as chamadas “idades de ouro” de cada onda industrial e tecnológica.
UM NOVO PARADIGMA E O AVANÇO DO JOGO ONLINE
Como aconteceu nas cinco revoluções tecnológicas até hoje, foi impulsionada uma combinação de novas redes de infraestrutura omnipresentes, novos setores, produtos e tecnologias inter-relacionados. Leva muito tempo, não apenas para instalar todas as novas tecnologias e para que o processo schumpeteriano de destruição criativa substitua ou modernize o que existia antes, mas também para que o novo paradigma tecnológico se espalhe e se assimile. No longo prazo, o jogo online e as plataformas cruzadas crescerão em detrimento do jogo cara a cara. Os eventos mais recentes apenas aceleram esse processo com base no distanciamento social obrigatório e na habituação às novas tecnologias de clientes presenciais. Sem dúvida, esta é uma grande mudança no senso comum gerencial e organizacional que evolui à medida que novas tecnologias se espalham.
Devido ao processo de ‘destruição criativa’ que ocorre durante cada revolução tecnológica, habilidades, setores e perfis profissionais são eliminados; regiões anteriormente industriais são devastadas e a renda é polarizada entre ‘vencedores e perdedores’. Em todos os casos, haverá startups multibilionárias, com a riqueza concentrada nas mãos de novos empreendedores, e investidores e especuladores ousados e astutos. As interpretações cíclicas da história muitas vezes são evitadas para não se adotar nenhuma forma de determinismo, principalmente no campo da tecnologia. É imprudente (mesmo controverso e simplista) afirmar que é a tecnologia, e não as decisões humanas nos negócios, na política e na cultura, que define o curso da história. O que é real é que as empresas e as administrações que as integram escolhem entre as opções disponíveis, e estas dependem em grande medida das tecnologias em vigor nesse momento.
SOBRE A MUDANÇA DE PERFIL DO TALENTO HUMANO NO GAMBLING
Embora a mudança de perfil dos integrantes do jogo não seja exclusiva da indústria, os economistas de hoje fazem modelos matemáticos do comportamento humano e dos mercados que se parecem mais com a física do que qualquer outra ciência que estuda a sociedade. Então, ao adaptar o novo perfil à indústria, é inevitável dar prioridade à capacidade intelectual e à adaptação antes da lealdade ou dependência do trabalhador, o que vai contra o novo paradigma do emprego.
Agora, o que isso poderia implicar exatamente? A primeira coisa em que podemos pensar é que o empregador deve reconhecer em nosso setor que as condições de trabalho estão mudando rápida e amplamente. Há pouca coisa no mundo do trabalho de hoje que nos lembre da antiga cultura de ‘empregos para toda a vida’, baseada na produção em massa em vez das TIC. Da proliferação do trabalho autônomo (voluntário ou não) e do empresário de subsistência, à introdução dos robôs e da inteligência artificial, há uma grande mudança na natureza do trabalho, incluindo sua eliminação total. Portanto, trabalhos que antes deviam ser considerados ‘normais’ tornaram-se obsoletos. Podemos falar de uma ‘uberização atual do trabalho’. Pela própria essência das grandes corporações (Amazon, Google, Facebook) e uma cadeia de valor que responde à globalização, as fronteiras entre as indústrias não são tão claras como antes. Os empregos são instáveis e a produção muda de um país para outro. Consequentemente, será necessário ousadia, imaginação e determinação para substituir o sistema desatualizado mencionado por um mais adequado. Deve-se notar que o conceito de ‘trabalho para toda a vida’ era uma coisa do passado precisamente porque estava sujeito à produção em massa e não à revolução das TIC. Neste momento, o conceito de consultor remoto ou ‘colmeias de economia colaborativa’ estão em alta, em detrimento da identidade corporativa e da fidelidade aos negócios.
SOBRE A TRANSFORMAÇÃO DO MODELO EDUCATIVO E A POLIMATIA COMO NOVO MÉTODO DE EDUCAÇÃO
Diante desse contexto, várias dúvidas surgem. Se o modelo da era de ouro do pós-guerra, baseado na produção em massa, tornou-se obsoleto, o que aconteceu com o modelo educacional que o sustenta? Devemos continuar a educar os jovens para conseguir ‘empregos para toda a vida’, com diplomas acadêmicos que classificam os seres humanos e rotulam seu crescimento intelectual? É possível que, na era do Google e da Wikipedia, ainda consideremos viável um método educacional baseado na pesquisa de uma única área do conhecimento? O conceito de administração/operação faz sentido?
Embora o conceito do tecnológico a serviço do comercial esteja em vigor, os limites entre as duas questões estão próximos de desaparecer. A educação ao longo da vida é uma aspiração frequentemente mencionada, mas pouco se faz para torná-la uma realidade, uma prática diária. A educação continuada passa a ser um dever do Estado para adaptar as massas de trabalho adulto aos novos tempos.
Se as primeiras revoluções tecnológicas se basearam na suplantação do trabalho físico e do labor (isto é, o esforço muscular), a nova revolução tecnológica tem como essência fundamental a substituição da atividade intelectual (cerebral). A Inteligência Artificial e a robótica atuam como eixos nesta substituição. Mais uma vez, o Estado é o único que pode servir de árbitro para evitar que o consumo desacelere com a massificação da educação digital e o aumento da educação continuada de adultos para os novos papéis impostos pela mudança de paradigma tecnológico à população em geral. Claro, neste processo de renovação, a colaboração de empresas privadas será essencial.
Devemos pensar na educação como um sistema polimático (que incentiva a excelência em duas ou mais áreas do conhecimento) ao invés de monotemático. Podemos pensar no modelo educacional Mokyr (“modelo de argila”), que fornece habilidades contínuas, ou no “modelo de massinha”, que adapta as pessoas a serem treinadas continuamente. Na minha opinião, voltar para a sala de aula é essencial. A educação continuada de adultos é mais útil do que nunca. O problema da criação de novos empregos na indústria do jogo deve ser abordado com base no espírito empreendedor de quem o compõe. Deve ser permitida a proliferação de novas empresas, que decorram da massificação das atividades inerentes ao seu funcionamento. Do contrário, faltarão ferramentas para cumprir regulamentações cada vez mais rigorosas e atender à demanda da sociedade por responsabilidade corporativa e sustentabilidade. Se esses desafios não forem enfrentados com as abordagens aqui mencionadas, o setor sofrerá com a desregulamentação, o que levará a um aumento da fragmentação e da ilegalidade.