Os Esports são um mercado em crescimento constante em todas as suas vertentes, em especial quanto ao número de espectadores, às receitas geradas e ao número de praticantes profissionais.
Em 2018, segundo a PwC e a Goldman Sachs, o mercado de Esports gerou um volume de negócios de cerca de 1 bilião de dólares entre direitos de comunicação, venda de bilhetes para eventos competitivos, vendas de merchandise e de compras in- game, isto é, extras ou serviços que são possíveis comprar dentro de cada jogo. Macey et al. usando dados referentes também a 2018, afirmam que a indústria de Esports gerou por sua vez um volume anual de apostas situado entre os 2.3 e os 50 biliões de dólares, consoante diferentes data analysis.1 Estes números devem, no entanto, ser vistos com cautela e como resultado de metodologias de avaliação do mercado ainda em construção e porventura de agendas de encorajamento ao investimento neste mercado. Mas segundo a “Newszoo” (reputada plataforma de análise do mercado de Esports), é expectável que, em 2021, a indústria dos Esports continue a crescer 15% anualmente.
É assim evidente que, com este crescimento em todos os setores, estamos a viver o início de uma era de hegemonia dos Esports enquanto desporto profissional eletrónico. Desta forma, à medida que acompanhamos esta evolução nos Esports, vemos que existe um número cada vez maior de interessados em entrar como investidores, patrocinadores e organizadores de competições profissionais. Dentro deste rol de interessados, é necessário salientar o papel das empresas de apostas, uma vez que terão um papel determinante na alavancagem do desporto eletrónico enquanto fenómeno global de massas abrangendo várias faixas etárias.
O grande papel das casas de apostas em Portugal
No que toca a apostas desportivas em Esports, é fundamental ter em consideração o papel da empresa inglesa online “Pinnacle”. A Pinnacle, no ano de 2010, foi a empresa pioneira do mundo das apostas em Esports e, segundo esta, o potencial das apostas é neste momento “inquantificável” devido ao avanço tecnológico e ao facto, de a grande maioria do público conseguir assistir a qualquer conteúdo competitivo, de forma gratuita, a partir de qualquer computador, tablet ou telemóvel com ligação à 1 2020. What predicts esports betting? A study on consumption of video games, esports, gambling and demographic factors, in News Media& Society (Sage publications) internet. Consequentemente, o nível de transações monetárias de apostas que se podem verificar por minuto irá ser muito superior às da grande maioria dos desportos tradicionais que encontramos como oferta em qualquer casa ou site de apostas.
Em Portugal, as várias casas de apostas, devidamente legalizadas, estão a ter um papel dinamizador do crescimento do desporto eletrónico. São o grande apoio financeiro de equipas e organizações de Esports portuguesas, como a Betclic Apogee Esports ou os SAW. Para além do investimento em organizações, existem vários apoios diretos, sob a forma de patrocínio, a jogadores e a personalidades ligadas à área dos Esports e do gaming casual. Estes apoios são extremamente importantes pois são um complemento à renumeração dos jogadores, o que faz com que o número de profissionais dedicados em exclusivo ao desporto eletrónico profissional seja cada vez maior.
Este aumento de capital nas organizações de Esports, causa um efeito de “bola de neve”, ou seja, melhores condições para os jogadores e organizações, torneios com maior relevo, importância e prémios monetários, maior número de espectadores, maior cash flow e maior investimento por parte das empresas interessadas. Tudo isto tem como objetivo máximo uma efetiva profissionalização dos Esports enquanto desporto, de massas, existindo já eventos que chegam a ter 100 mil espectadores, como o ESL 2019 na Alemanha.
Portanto, atendendo à evolução da situação, as casas de apostas têm o maior interesse em oferecer apostas em todo o tipo de Esports. Todavia, em Portugal, estas apostas (ainda) não são licenciadas pelo Serviço de Regulação e Inspeção de Jogos (SRIJ). Por conseguinte, as casas/sites de apostas com licença para a exploração de jogos e apostas online, emitidas nos termos do Regime Jurídico dos Jogos e Apostas Online, aprovado pelo Decreto-Lei nº66/2015, de 29 de abril, não oferecem apostas em Esports.
Neste contexto, é de assinalar que o mercado de apostas online tem vindo a crescer exponencialmente em Portugal nos últimos anos. No último trimestre de 2019, por exemplo, foram geradas receitas na ordem dos 65,4 milhões de euros representando um aumento de 52,1% relativamente a 2018, e no último trimestre de 2020 o aumento foi superior a 50%.
Face a esta tendência de crescimento das apostas online em Portugal, a licença para apostar em Esports terá um papel-chave a muito curto prazo no crescimento deste mercado específico. Contudo, do ponto vista jurídico, ainda existem algumas reticências relacionadas com a falta de regulamentação sobre Esports. Deste modo, para que seja viável ter apostas no desporto eletrónico totalmente legitimas e livres de qualquer suspeita, é necessário, em primeiro lugar, clarificar a classificação dos Esports enquanto atividade desportiva. Depois, será uma questão de tempo até Portugal ter um conjunto de normas imperativas, regulamentos e toda uma estrutura e organização jurídica capaz de impulsionar e regular os Esports enquanto verdadeiro desporto agregador de multidões, seguindo a tendência internacional que está neste momento a definir-se.