Por Anamaria Bacci, jornalista e tradutora da G&M News.
Como surgiu a ideia de colocar o Santos no Counter Strike: Global Offensive?
Não posso responder isso com precisão pois ainda não estava no Santos nesse momento, mas, conhecendo nossa diretoria, acredito que eles entendem o peso do CS:GO como pioneiro no esporte eletrônico. Atualmente, existem muitas modalidades, games e opções pra novas e antigas organizações, mas falar de CS quando se fala de esporte eletrônico é quase que automático. Todo mundo jogava CS na época das LAN Houses.
Como é o trabalho de um treinador de time Esports? Que valores você tenta transmitir aos seus jogadores? Como é um plano de treinamento?
Trabalhar com Esports não é fácil e divertido como a maioria pensa. É um trabalho sólido e exige bastante empenho e dedicação. Fica a dica: se você não pensa em dar tudo de si como treinador, então não entre nessa. Eu tento passar pros meus atletas que muito do que existe out game acaba refletindo in game. É preciso ter disciplina, viver o jogo e se dedicar a ele como em qualquer profissão, de 8 a 12h por dia. Normalmente, eu dinamizo nosso treinamento. Então, durante a semana, mesclamos algumas horas de tático, review, prático e conversa. É muito importante saber o que vai treinar antes de entrar no servidor ou então o treino perde o sentido.
Você também é psicólogo. Como você trabalha com o ego dos jogadores a partir do seu papel de psicólogo e treinador do time? Como você pode ajudar com sua experiência?
Sempre que entro em um novo time, alerto a organização e a própria equipe que o trabalho de psicólogo e treinador são completamente distintos e não podem conflituar. Então ou eu sou o psicólogo da equipe ou o treinador, não da pra exercer os dois cargos. Fazer isso até feriria a ética profissional. Mas utilizo constantemente as ferramentas que a psicologia me dispõe pra trabalhar minha equipe (não como psicólogo). Com isso, acabo identificando o “ego” de cada um, nível de moralidade, aprendizagem e até a subjetividade. Isso me ajuda a saber como agir, cobrar, dar bronca, e também entender as dificuldades dos meus atletas.
O Santos atualmente participa da Gamers Club League, onde já venceu duas ligas consecutivas este ano. Qual é o segredo desse sucesso?
Não existe segredo. Precisa trabalhar duro, várias horas de review, tático e principalmente conversa. São nas conversas que cada um se ajusta e fala de suas preferencias e como fazer funcionar pra tudo se encaixar de uma maneira confortável. Isso não da pra ser um trabalho de um ou dois. Ou todos compram a briga ou sempre existirá um desempenho incompleto pela falta de um ou outro.
O Santos é um dos maiores e mais conceituados clubes de todo o Brasil e da América Latina. Como essa grandeza se traduz em uma disciplina como CS:GO?
Temos consciência do peso da nossa camisa, da nossa maravilhosa e calorosa torcida como também da responsabilidade que carregamos. Eu não sei como as coisas funcionavam antes de eu chegar aqui, mas comigo eu diria que a “tradução” é um lembrete diário de quem somos, de onde viemos e onde estamos hoje. Nenhum de nós está satisfeito ainda, queremos muito mais. Acredito que essa é a tradução de ser santista.
Dentre tantos times multigamings e clubes tradicionais que apostam no Esporte Eletrônico, qual o diferencial do Santos?
Olha, eu poderia dizer algumas balelas aqui, mas a verdade é que a nossa diretoria trabalha de uma maneira diferente de todos os outros clubes que já passei, e aqui isso funciona muito bem. Um exemplo é o acordo com a Pinnacle, que amplia a difusão e a popularidade de nossa equipe. Desta forma, aumenta o comprometimento de todos que estão ao redor, treinador, psicólogo, atletas, marketing e qualquer outra área. Parabenizo meus líderes por isso.
Qual o papel do Brasil no cenário CS:GO da América Latina?
Sem dúvidas, o Brasil carrega um grande peso no cenário de CS:GO e não é apenas na América Latina. Refiro-me tanto historicamente quanto contemporaneamente. Muitos de fora já falaram sobre a nossa capacidade de exportar jogadores de alto calibre. Então o nosso papel, a meu ver, é se consolidar como elite no CS:GO e trazer mais campeonatos tier um para nossa região.
Como você explica o grande crescimento dos Esportes Eletrônicos em sua totalidade no Brasil?
Desde os anos 2000, o Brasil vem em crescente dentro do esporte eletrônico, a tendência era realmente essa. Aqui no Brasil, sempre sofremos com a qualidade de Internet como também a centralização de grandes campeonatos na região Sudeste. Com o avanço tecnológico e melhores condições, o brasileiro vem rompendo essas dificuldades e mostrando suas qualidades. Honestamente, isso não é uma novidade pra mim. Quantas crianças e adolescentes cresceram na frente do PC praticando algum jogo e quantas crianças e adolescentes não fazem isso até hoje por não ter condições de ter um PC e Internet de qualidade pra isso? Temos talento de sobra.
Como é o planejamento para uma nova temporada? Que metas você tem para 2021?
Minha meta para 2021 é colocar o Santos no top 1 do CS brasileiro. Temos muitas qualidades e precisamos apenas lapidar e saber como usar cada uma delas no momento certo. Temos gana de sobra pra vencer e crescer. Não costumo fazer planejamentos mais específicos porque o cenário é muito dinâmico e vive trazendo novidades. Ajuste e adaptação são qualidades que todo bom time precisa ter pra alcançar o topo.